sexta-feira, 17 de março de 2017

A VINGANÇA

A VINGANÇA

Pelas nove horas da manhã de uma segunda-feira o Dr. Custódio Castro, importante advogado, de um conceituado escritório de advocacia, e contra o que era habitual, uma vez que chegava sempre bem cedo, ainda não estava presente, aproximava-se a hora de mais uma audiência no tribunal, de um julgamento muito mediático e a sua chegada era aguardada com ansiedade.
Um dos advogados mais novos da equipa, enquanto ele próprio ligava vezes sem conta para o telemóvel do Dr. Castro, sem resultados, solicitou a uma administrativa, que o tenta-se localizar.
Depois de ligar para o telemóvel que estava inacessível, para a casa do advogado, cuja esposa se mostrou surpreendida e preocupada, pois para ela o marido já há muito que devia estar no escritório.
No contacto entre o escritório e a esposa do Dr. Custódio Castro ficou decidido esperar mais algum tempo, uma vez que a esposa sabia que o marido se tinha deslocado, com um irmão à terra natal para tratar de assuntos relacionados com a morte de um outro irmão, acontecida num hospital da cidade, hospital em que trabalhava como médico o Dr. António Castro, seu cunhado.
Sabia que o cunhado falecido vivia sozinho, e levava uma vida de misantropo, embora se constasse que teria uma fortuna bem interessante.
A família fazia parte, da enorme massa daqueles que se viram obrigados a abandonar as antigas colónias, no caso Angola, onde o pai José Castro, tinha construído uma rede de negócios ligado aos diamantes, mantendo-se porém estritamente nos limites da lei.
Nos últimos anos por precaução tinha estabelecido contactos bem fecundos com pessoas da chamada metrópole, ligadas à joalharia e ao artesanato de ouro, precavido e atento ao mundo da moda, criou relações com estilitas de joias personalizadas, abdicou da quantidade e especializou-se na qualidade e valor. Os seus clientes tinham um serviço exclusivo à medida do seu gosto pessoal, além da total descrição em relação ao preço.
A saída forçada de Angola foi facilmente ultrapassada e a família nunca passou dificuldades, os seus três filhos: Carlos, António, e Custódio, com idades bem aproximadas cedo se adaptaram à nova vida. A família instalou-se na casa que já possuíam numa pequena cidade, conhecida pelos seus artesãos no trabalho do ouro.
José Castro que não tinha interesse em depender de outros no fabrico do seu produto, nos seus contactos com os fabricantes, cedo começou a avaliar, os artesãos mais hábeis e cujas peças tinham qualidade e perfeição. Não lhe interessavam muitos, mas preferia manter um controlo total, sobre aquilo que fornecia aos seus clientes.
Rapidamente ofereceu a alguns artesãos, um vencimento bem alto, para eles uma verdadeira fortuna, com a condição de trabalho em exclusivo e sigilo total, sobre clientes e produtos. 
Quando a vida parecia ter-se normalizado para toda a família, a esposa de José Castro foi vítima de uma doença, que em poucos meses o deixou viúvo. José Castro fechou-se mais nos negócios, tentou que os filhos se interessassem, mas apenas Carlos, que não mostrava grande apetência para os estudos, se começou a envolver tanto nos negócios, como no fabrico das jóias, mostrando sensibilidade para perceber os gostos dos clientes, que sendo poucos eram bem exigentes.
António enveredou pela medicina e fixou-se na cidade onde estudou, o seu irmão Custódio seguiu direito na mesma cidade, e lá iniciou a carreira de advogado e mais tarde juntamente com outros colegas, criaram um escritório que rapidamente adquiriu prestígio.
Regressemos cerca de dez anos atrás, quando Carlos noivo e com casamento marcado com Joana, pela qual tinha uma adoração intensa, mas que não era correspondido de igual forma, Joana aceitou o pedido de casamento pela estabilidade que a sua vida teria ao casar-se com Carlos.
Além disso sentia por ele uma forte amizade, semelhante áquilo que é costume chamar de amor.
As coisas precipitaram-se e perante o espanto de todos, ainda mais incompreensivelmente para os que conheciam a família, o irmão de Carlos, António, num arrebatamento de paixão, que por certo já há muito lhe roía as entranhas, iniciou com a que estava destinada a ser sua cunhada, uma relação tórrida que fez gorar o casamento, levou o pai a uma profunda depressão, com a trágica saída do suicídio, Carlos entregou-se a um isolamento total, só quebrado pelas relações obrigatórias da continuação do negócio do pai. 
Durante os últimos tempos da vida do pai, Custódio Castro o advogado tornou-se presença assídua junto do pai, na maioria das vezes acompanhado por um colega de escritório, mantendo com o pai discretas conversas. O que é certo quando da leitura do testamento, Carlos embora sem grandes reclamações se sentiu, mais uma vez traído.
A partir desse momento a relação dos irmãos, António e Custódio com Carlos, terminaram.
António ao fim de pouco mais de dois anos de uma paixão extrema com Joana, da qual nasceu uma filha, derivou para uma relação conflituosa, que rapidamente levou à separação de ambos. Tanto António como Joana, recomeçaram as suas vidas, mantendo o contacto necessário e suficiente por causa da filha de ambos.
Carlos continuou a dedicar-se em exclusivo à sua actividade, não se lhe conhecia amigos e nunca mais olhou sequer para uma mulher.
A única mulher com quem tinha proximidade era uma empregada que já tinha servido os seus pais e continuou ao seu serviço, discreta e sempre fiel, tendo com ele algumas liberdades que a mais ninguém era permitido.
A dedicação exclusiva ao trabalho, uma austeridade de gastos onde não entravam quaisquer despesas que não fossem absolutamente necessárias. Austeridade muito perto da absoluta avareza, em poucos anos permitiram-lhe amealhar uma fortuna. Juntar essa fortuna foi facilitada, por ser ele o único a saber o esconderijo onde o pai, guardava uma quantidade de diamantes bem significativa.
Dos pais herdou a casa da cidade, no rés-do-chão da qual estava instalada uma joalharia da família, e uma quinta numa aldeia nos limites da cidade, com uma casa senhoril em ruinas e a casa do caseiro. Todo o dinheiro que ele sabia que era bastante, tinha sido repartido pelos outros irmãos, além de outros valores como joias e das quais não viu nem rasto. Ainda esteve tentado a revelar a existência dos diamantes, mas perante a leitura do testamento, o segredo ficou com ele.
Parecendo ignorar a forma como os irmãos o trataram, mergulhou obsessivamente no trabalho, ao fim de três ou quatro anos resolveu construir na quinta uma casa, mais parecida com um bunker, de fora a casa parecia um bloco único de betão não sendo visível à vista nem portas nem janelas.
Quando expôs num gabinete de arquitetura o que desejava, mostrando claramente que tinha as ideias amadurecidas e claras, obteve como resposta um desabafo de um dos arquitetos:
- Não sei o que espera de nós e o que fez vir aqui, mas tentaremos dar resposta ao que nos pede.
A casa relativamente pequena, dispunha de dois quartos, uma pequena sala comum, cozinha hall de entrada, duas casas de banho e um escritório relativamente amplo, tinha uma ligação direta para a oficina, que também tinha sido transferida para a quinta, para a garagem localizada na cave e para uma casa forte numa subcave logo abaixo da garagem, enquanto a garagem se encontrava ligeiramente acima do nível do solo, a casa forte era totalmente inacessível por fora, colocando graves problemas de ventilação, Carlos porém mostrou-se inflexível, a casa forte teria que ficar localizada aí e com acesso apenas pelo escritório. Os custos adicionais não eram problema.
Em cerca de um ano as obras terminaram, e rapidamente Carlos se mudou para a nova casa.
Continuou isolado, sem mais contactos que não fossem fornecedores e clientes, e uma relação estritamente profissional com os artesãos que continuaram a trabalhar com ele, tal como com uma administrativa que trabalhava na empresa.
O seu prestígio como fabricante de qualidade e cumpridor com prazos, fizeram que mesmo em épocas menos boas nunca lhe faltassem clientes. A casa tinha uma arquitectura que lhes garantia uma discrição absoluta. A entrada de carro era feita a partir da entrada do portão por uma espécie de túnel de betão que os levava diretamente à ampla garagem e daí à casa. Tudo era invisível da rua e mesmo da oficina e da casa do caseiro, que tinha ordens estritas, para tratar do jardim apenas em alguns dias por mês, previamente marcados, tratar dos cães de guarda solta-los à noite e os voltar a colocar na jaula pela manhã. No resto toda a quinta era por conta do caseiro.
A vida que levava o rancor que sentia e nunca extravasava, mas cada vez o tornava mais amargo e intratável, tornaram-no fisicamente frágil, começou a emagrecer aparentemente sem causa, mas só perante a insistência da sua velha empregada, a única que lhe falava sem receio, resolveu ir a um médico.
Ao médico que o atendeu não lhe custou compreender, que apesar de Carlos ser ainda novo, não tinha quarenta anos, o caso lhe parecia bem grave, e pediu-lhe que fizesse um conjunto de exames o mais rápido possível.
Quando saiu do consultório médico, Carlos dirigiu-se ao advogado com quem costumava tratar de assuntos da sua empresa. E depois de uma longa conversa, em que acertou diversos pormenores de futuro, saiu respirou profundamente, coisa que já não fazia há muito, e tratou de marcar os exames pedidos pelo médico.
Cerca de quinze dias depois recebeu uma chamada urgente do médico, pois precisava de conversar com ele o mais rápido possível. 
Carlos tinha pedido à sua funcionária para levantar todos os exames e os colocar no consultório do médico, tal como tinha previamente combinado com ele.
Combinou com o médico que iria lá no dia seguinte. Depois tomou uma decisão, reuniu os seus colaboradores, pedindo-lhes que entrassem em sua casa, perante o espanto destes, que não estavam habituados a estas atitudes, na sala tinha a mesa posta para um lanche substancial, como se tratasse de algum acontecimento especial. E disse-lhes para se servirem. Com um misto de estranheza e timidez, muito lentamente começaram servirem-se, enquanto esperavam o que se seguiria.
Com a aparência de frieza, mas onde se notava alguma emoção, comunicou-lhes que estava doente, provavelmente com gravidade, por isso lhes pedia que continuassem a tratar bem os seus clientes e que ele não se esqueceria da importância que tinham tido na sua vida. Sabia que cada um saberia fazer bem as suas funções.
No dia seguinte dirigiu-se ao consultório médico, mal chegou foi logo atendido e pela cara do médico percebeu que a situação era mesmo grave.
O médico foi direto ao assunto e colocou as coisas de forma clara.
- O seu caso é bem grave, muito grave mesmo, já comuniquei para o Hospital que me parece melhor para situações como a sua, penso que deve ser imediatamente internado.
- Se é assim quando vou?- Perguntou ele secamente e sem emoção aparente
- A minha empregada chama uma ambulância e segue imediatamente para o Hospital, eu entro em contacto com um meu condiscípulo, e ele estará lá a sua espera.
- Não vinha preparado.- Disse com algum enfado e pela necessidade de dizer alguma coisa
- Não se preocupe, trata-se disso depois.
A ambulância chegou rapidamente o médico juntou os exames realizados, acrescentou o relatório que elaborou, e entregou a um dos tripulantes da ambulância, com a recomendação de que a sua espera estaria lá um médico.
Quando a ambulância partiu, dirigiu-se ao seu gabinete e iniciou de imediato um telefonema.
- Olá estás bom Custódio?
- Olá tudo bem, então que te leva a um telefonema a esta hora?
- Saiu daqui um doente, receio bem pelo seu estado, é curioso chama-se Carlos Castro, mas não deve ter nada a ver contigo.
- Que faz? Que idade tem?
- Julgo que é ourives ou coisa parecida, a idade quarenta anos. Porquê essas perguntas?
Durante uns longos segundos, instalou-se um profundo silêncio, até que do outro lado da linha e com um tremor na voz se ouviu.
- É meu irmão.
E desligou abruptamente.
A situação tinha de facto atingido o limite, em menos de uma semana e apesar de todos os esforços da medicina Carlos faleceu.
Custódio que já tinha comunicado o internamento de Carlos ao seu irmão António, e a Joana que quando teve conhecimento lhe fez uma visita, também lhes comunicou a sua a morte, e uma vez que Carlos não tinha mais família trataram de todos os procedimentos para o funeral, que se realizou na cidade natal.
Durante o velório um senhor já com alguma idade e discretamente, apresentou-se como advogado da empresa de Carlos e pediu aos irmãos se era possível uma pequena conversa, bem como gostaria de ser informado se estaria ali alguma senhora chamada Joana.
António deduziu a que Joana se referia o seu colega advogado, mostrou disponibilidade para essa conversa que teria que ser discreta e pouco demorada.
Retiraram-se para um espaço mais reservado da casa mortuária, informaram Joana que acedeu a estar presente, o advogado pediu desculpa pelo incómodo da situação dizendo que seria muito breve.
- Como sabem durante anos e até este momento, fui advogado da empresa que era do vosso pai e agora do vosso irmão, solicitou-me ele que fosse fiel depositário do seu testamento e que este fosse lido quinze dias depois da sua morte. A condição única para a leitura do testamento, sem a qual este perderá validade, e será substituído por um segundo testamento do qual também sou depositário, é a presença exclusiva dos irmãos António e Custódio bem como da Sra. Joana, que estão aqui presentes. Tenho aqui uma carta convocatória, que entregarei a cada um, para a vossa presença no meu escritório às 16.00 horas daqui a duas semanas. Obrigado pela vossa atenção e até breve.
Entregou os envelopes com a convocatória e saiu discretamente.
Na data marcada, no escritório do advogado fiel depositário do testamento, comparecerem como o exigido pelo irmão Carlos, os irmãos; António e Custódio, acompanhados de Joana, os três contavam que a leitura fosse rápida, combinaram deslocarem-se apenas num único carro e assim fizeram.
O advogado fiel depositário do testamento, cumprimentou-os e pediu-lhe que se sentassem tomou a palavra.
- O testamento de Carlos é um pouco estranho, mas a mim compete fazer cumprir o que ele estabeleceu. Por isso vou ler:
Pegou num envelope, retirou dele uma folha, mostrou a assinatura devidamente reconhecida, um atestado médico que confirmava que Carlos estava em pleno uso de todas as faculdades. E iniciou a leitura do testamento propriamente dito.
- Aos meus irmãos Custódio e António à minha ex noiva Joana, deixo tudo o que se encontra na casa forte localizada na cave da minha atual morada, a divisão entre os herdeiros indicados será equitativa e tenho a certeza que cada um, não desejará mais do que aquilo que lhe estiver destinado. Na mesma casa forte encontra-se localizado um pequeno cofre, onde guardei o máximo que vos poderia desejar.
Finda a leitura o advogado entregou a cada um dois envelopes. Um com as chaves e o código de acesso à casa forte, outro com as chaves e o código de acesso ao pequeno cofre. A casa forte tal como o cofre precisava de três chaves e de seis dígitos, cada. O advogado também lhes entregou o comando do portão de entrada de veículos e as chaves da porta de casa. E concluiu com uma recomendação.
- Pelas instruções do falecido, fiquei encarregue de tratar de todas as formalidades que houver necessidade de tratar, nos próximos sete dias. Espero pelo vosso contacto. Um último aviso, já me esquecia, junto à porta de entrada do lado esquerdo encontra-se o quadro do alarme, têm trinta segundos para o desligar, este é o código.
Entregou novo envelope além de uma cópia do testamento, perguntou-lhes se sabiam onde se situava a quinta e como chegar lá.
Despediram-se do advogado, agradeceram a cordialidade do tratamento e dirigiram-se para a casa do irmão.
Pela primeira vez os irmãos Custódio e António, entraram na casa de Carlos e ficaram espantados com a estranha opção do irmão.
A velha casa tinha sido totalmente arrasada, dando lugar a uma autêntica fortaleza, em todas as janelas fortes grades de ferro, câmaras de vigilância, um aspecto global, frio e duro. Uma robusta porta de segurança guardava a entrada. Fazendo um contraste com o jardim bastante bem cuidado, pois o tempo primaveril ajudava ao florescer de muitas e variadas plantas, que além da cor faziam sentir os seus aromas. Os cantos dos pássaros davam ao ambiente um tom alegre.
Custódio abriu a porta dirigiu-se apressadamente para o quadro do alarme, que desativou e entraram sem problemas. 
Logo que fecharam a porta notaram um silêncio opressor, a casa tinha sido construída totalmente insonorizada, nada de fora chegava nem sons nem cheiros, Joana por necessidade e curiosidade voltou a abrir a porta, abrindo os pulmões ao ar fresco, encheu-se de coragem voltou a entrar e fechou a porta. Os dois irmãos já se encontravam no escritório e não lhe foi difícil encontrar a porta de acesso à cave. Umas escadas um pouco íngremes mas bem iluminadas. Esperaram por Joana e iniciaram a descida, chegaram a um pequeno patamar, com duas saídas uma no mesmo plano com indicação de oficina, e outra sem qualquer indicação que deduziram que fosse a casa forte. A iluminação continuava muito boa, ao fim de alguns degraus chegaram a novo patamar e depararam com a entrada para a casa forte. Nos envelopes que eram portadores, era descrita a ordem para a abertura da porta blindada.
Facilmente abriram a porta e encontraram-se num compartimento relativamente pequeno, não teria mais que dez metros quadrados, e com cerca de dois metros de altura, as paredes cobertas de estantes, com pequenas caixas com indicação do tipo de jóias que continham, numa das estantes estavam algumas barras de ouro, as estantes faziam fazia diminuir o espaço de circulação disponível, levando a uma sensação de sufoco, dispunha ainda de uma secretaria e de uma cadeira. Num canto, em lugar de destaque e embutido na parede, encontrava-se o pequeno cofre.
Com as chaves do cofre e senhores dos códigos, precipitaram-se para o cofre e pela ordem estabelecida, sentiram que o cofre ficou aberto, mas porém por motivos que não descortinavam a porta ofereceu alguma resistência à abertura total. António o mais expedito puxou com quanta força tinha, sentiu uma espécie de baque, como se alguma coisa se tivesse partido, a porta soltou-se trazendo com ela um cabo de aço e na ponta um tampão, a porta caiu ao chão partiu-se em mil bocados, ouviram a porta da casa forte a bater com estrondo, a iluminação apagou-se fez-se silêncio, ligaram os telemóveis viram que estavam sem rede, dirigiram-se iluminados pelos telemóveis para a saída, e repararam que a porta não tinha forma de ser aberta por dentro, bateram à porta e gritaram desesperados, compreenderam que ninguém os iria ouvir. Começaram a sentir tonturas ao mesmo tempo que ouviam o som de uma ligeira brisa, procedia do cofre, compreenderam que se tratava de uma entrada de gás que tinha sido activada pela abertura do cofre depressa descobriram que Carlos tinha programado obsessivamente para aquele momento, uma cruel vingança. As baterias dos telemóveis foram perdendo carga e o espaço mergulhou na escuridão absoluta, gradualmente, a começar por Joana, foram caindo ao chão, inanimados.
Como de costume todos os dias de semana bem cedo, apesar de saber que Carlos já não era vivo, a empregada entrou em casa, notou que não havia energia, amaldiçoou a EDP, deu uma volta pela casa toda, viu no escritório a porta de acesso à cave aberta, soltou uma imprecaução pelo seu esquecimento, pois só podia ser ela que a tinha deixado aberta, sentou-se na cadeira do patrão, saindo-lhe uma lagrima furtiva. E concluindo que não estava ali a fazer nada, vagarosamente voltou para a sua casa.
Cumprindo o horário habitual, pelas nove horas os artesãos dirigiram-se para a oficina, manifestando entre si sentimentos de preocupação sobre o seu futuro. Um dos artesãos ao iniciar o trabalho, recomeçou a tarefa de terminar um objeto que necessitava de um acabamento mais cuidado, tentou acender um maçarico a gás, mas não conseguiu, desabafando com um colega.
- Ainda há alguns dias o depósito foi cheio, é impossível que o gás tenha acabado.
Mudou de maçarico e o resultado foi o mesmo. Dirigiu-se ao depósito que se encontrava no exterior da oficina, e para seu espanto o manómetro indicava pressão zero, o depósito encontrava-se totalmente vazio.
Alertou os companheiros, só podia haver uma fuga e era necessário chamar os técnicos da empresa fornecedora de gás.
Ao fim da tarde desse dia, a esposa do advogado cansada e já muito preocupada pelo marido, telefonou para o advogado, que confirmou a presença do marido do cunhado e acompanhados de Dona Joana, no sábado tal como o combinado, e que tanto quanto sabia, se tinham dirigido à casa do irmão falecido.
Alarmada e em pânico, tentou entrar em contacto com as outras pessoas envolvidas, sem resultado, ligou seguidamente com o companheiro da Joana, que também nada sabia, acontecendo o mesmo com a esposa do médico. Juntos alertaram as autoridades, e dirigiram-se para a cidade de Carlos. Sem a menor ideia do que se teria passado.
Na casa de Carlos as autoridades encontraram a garagem aberta, e lá dentro o carro de António o advogado, e concluíram que as três pessoas desaparecidas, tinham estado naquele local. Já era tarde, tinha anoitecido, e a garagem estava sem energia eléctrica.
Com a chave disponibilizada pela empregada, que os informou que a luz estava avariada, entraram com cuidado casa.
Um dos agentes com a ajuda de uma lanterna, procurou o quadro eléctrico, encontrando-o facilmente, e mais facilmente ainda percebeu que a falta de energia não se devia a avaria, mas no quadro os disjuntores de protecção se encontrarem desligados.
Informou os colegas, que por precaução e com as lanternas deram uma volta pela casa, nada encontraram que lhes chamasse à atenção. Ligaram a energia, ouviram o barulho de uma explosão abafada, a casa tremeu ligeiramente, voltou a escuridão e o silêncio.
Quando não existia risco algum as autoridades, entraram na casa forte, defrontando-se com o caos total, as estantes tinham sido arrancadas, tudo o que continham estava espalhado anarquicamente, naquele caos e anarquia os três corpos deitados no chão, desfeitos, sem qualquer sinal de vida. Mortos pelo gás, desfeitos pela explosão.
Ao analisar todo o espaço, e com especial o pequeno cofre, descobriram o tubo engenhosamente colocado, reservando para a retirada do cofre uma análise mais cuidada, dentro do cofre bem acessível mas protegida embutida numa das paredes do cofre, uma pequena caixa contendo um envelope, com a seguinte mensagem.
- Se esta carta for lida, por alguém que não eu, é sinal que o meu testamento foi cumprido, e lembro o que deixei escrito. “a divisão entre os herdeiros indicados, será equitativa e tenho a certeza que cada um, não desejará mais do que aquilo que lhe estiver destinado.”
Espero que a quantidade de gás, os tenha levado comigo para o Inferno. Local onde vivi durante todo este tempo.
                                                       Carlos 
                                                                                                              Herminio 

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