sexta-feira, 19 de outubro de 2018

FANTASIA À CHUVA


FANTASIA À CHUVA

Ela repetia vezes sem conta que que o que mais aliviava a tensão e o stress, num dia de chuva intensa, era passear livremente e sentir a água a escorrer-lhe pelo corpo.
Quando, e se um dia se cassasse, seria num dia assim, mais ainda, nesse dia haveria de correr pelas ruas vestida de noiva, até sentir o corpo totalmente encharcado.
Pelo contrário, para ele o máximo do prazer que um dia de chuva lhe proporcionava, era sentir a chuva a bater nos vidros, e confortavelmente na cama, ouvir o seu tlic-tlic-tlac.
Melhor ainda, quando na companhia de alguém, embalados por esse concerto da natureza, suavemente os corpos fossem conduzidos a uma entrega ao amor. Nada era melhor do que isso, soltou num leve suspiro
Ela insistiu com veemência, nas suas palavras notava-se um calor de tal modo intenso, que se tornava impossível de contrariar.
O encontro tinha sido muito casual, num pequeno bar de rápidas e ligeiras refeições.
Com poucos lugares vagos, ao entrar, os olhos dela repararam naquela mesa num canto bem discreto, onde ele se encontrava só. Com grande à vontade pediu licença sentou-se, sem esperar qualquer resposta, lá fora chovia, ainda mal refeito da surpresa, aos seus ouvidos chegaram as primeiras palavras.
- Que belo dia, não há nada melhor que um dia de chuva.
Ele não disse palavra, mas no seu olhar lia-se uma total discordância.
Examinou-a com cuidado e tentando ser discreto. O seu olhar vivo transpirava alegria, na boca um sorriso que parecia eterno, um decote com alguma generosidade mostrava uns seios que lhe prenderam o olhar, denunciando-o, fazendo que ela ostensivamente desaperta-se mais um botão da blusa.
Ficou sem saber o que fazer, baixando os olhos em direcção á mesa.
O sorriso que ela mostrava e a sua exuberância, desfez o embaraço e gradualmente iniciaram uma conversa que se prolongou até ao fim da refeição.
 Ao fim de algum tempo passaram a encontrar-se com regularidade, iniciando uma relação, que apesar da singularidade de cada um, se transformou numa paixão intensa.
Por decisão dela, casariam num dia de chuva o mais forte possível, ela obrigou-o a prometer que fariam uma caminhada pela cidade, para finalmente se meterem na cama, para ouvir a chuva a bater nas vidraças, tlic-tlic-tlac como preliminar de uma noite, que ela lhe jurou inesquecível.
E assim aconteceu, combinaram marcar o casamento com a antecedência máxima de quinze dias para terem a certeza que a chuva estaria presente. Os convidados e familiares teriam que se adaptar à situação, de facto bem pouco comum.
Cuidadosamente iam consultando as previsões meteorológicas. Quando tudo indicava que o tempo se manteria chuvoso, trataram de tudo de rompante.
Perante o espanto dos amigos e de convidados, a noiva mostrava uma obsessão em relação ao tempo absolutamente despropositado, queria que chovesse, e muito.
O noivo mais cauteloso, apesar da promessa, implorava interiormente que o tempo tivesse uma súbita mudança. Era um craque de informática, entre os amigos, conhecido por nerd. Adorava o conforto do ar condicionado, a proposta da noiva aterrorizava-o, no entanto o poder da sedução levou-o de vencida.
A chuva além de não abrandar, aumentou de intensidade.
Combinaram que passariam a noite de núpcias, num hotel junto ao mar.
Saíram da festa estrondosamente, por iniciativa da noiva. Entre o espaço em que decorria a boda e o carro em que seguiriam, recusou qualquer proteção para a chuva, entrando neste completamente em desalinho.
Chegaram ao hotel em pouco mais de uma hora, ele tinha conseguido até ao momento passar relativamente incólume à chuva.
Entraram no hall do hotel, resolutamente ela dirigiu-se ao funcionário e perante o espanto deste disse:
- Temos quarto marcado, vamos dar uma volta, deixamos aqui as malas. Depois tratamos de tudo.
Puxou o noivo pelo braço e arrastou-o para a rua..
Andaram a vaguear pela rua à chuva, perante o espanto das poucas pessoas que por eles passavam, olhados de loucos por uns, embriagados por outros.
Ao fim de algum tempo ele implorou-lhe que voltassem ao hotel, tremia de frio, pouco ou nada habituado a tais comportamentos sentia-se como peixe fora de água, ela cedeu e voltaram ao hotel.
Chegaram ao quarto ela em êxtase, ele a tremer de frio e com uma tosse horrível, pediu um chá quente, roupa quente e um antigripal, aquilo era demais para ele.
Rápido adormeceu.
Ainda encharcada, cabelo desgrenhado maquilhagem desfeita, que aliás era mínima, olhava embebecida para o sono sereno do noivo, no entanto os sentidos continuavam presos à rua, enquanto ouvia o tlic tlic tlac da chuva, tudo nela entrou em convulsão, não resistiu e voltou à chuva, libertou totalmente o espírito e enquanto dançava, perante o espanto de quem passava, totalmente encharcada, sentiu-se envolvida por um orgasmo interminável.   
No quarto o noivo dormia serenamente em paz..
 



                                                             Herminio 




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