tag:blogger.com,1999:blog-28802139937611256712024-03-13T09:32:27.802-07:00CONTOS COM VIDA Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.comBlogger43125tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-35854004724464690242022-03-21T09:40:00.000-07:002022-03-21T09:40:08.942-07:00<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 18.0pt; line-height: 107%;">INVISIVÉL <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O telemóvel tocou, um
toque curto típico da chegada de uma mensagem, li primeiro muito rápido;
sumariamente dizia que: a aula da noite tinha sido suspensa, no entanto…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Mais tarde no escuro
da noite comecei a voltar-me para o essencial da mensagem. “Peço que, até à
próxima aula escrevam uma história, verdadeira ou inventada”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Estranho a escuridão
torna tudo invisível, resta apenas a memória do que existe, mesmo no quarto
onde me encontro, se tivesse que fazer uma lista do que me rodeia, provavelmente
não conseguiria um relato completo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A escuridão, afinal a
falta de luz, pode ser assustadora, inibidora ou inspiradora. O desafio ia
contra o espírito da escrita. Escrever, refletia, é um acto espontâneo não um
acto de vontade. A palavra, tal como a corrente de um rio, sussurra no intimo
do próprio impulso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Na escuridão tudo é
invisível, à luz do dia habita muitas vezes, a escuridão do nosso egoísta
conforto, onde vivem muitas pessoas invisíveis.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Adormeci e como por
magia, continuei em sonhos o que comecei por delinear desperto, como personagem,
narrador e observador.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No sonho, subia uma
Avenida ampla cruzando-me com múltiplas pessoas, de que nada sabia e que nunca
saberei, o meu destino era muito prosaico, uma pastelaria que ficava logo ao dobrar
da esquina, mas primeiro tinha que comprar o jornal num quiosque que ficava
perto da pastelaria, o meu passo era certo e moderado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Para lá dessa esquina,
no extremo oposto vinha uma mulher cujo rosto não conseguia divisar, e como
observador via que era possível que em algum momento nos cruzássemos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A mulher caminhada com
passos inseguros, mas sempre em linha, pelo meio da multidão que nessa hora
percorria esse percurso, constantemente era alvo de encontrões a que reagia com
infinita indiferença, o seu rosto apesar da maior proximidade continuava
envolto numa densa névoa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O meu eu continuava a
caminhar, chegou ao topo da avenida virou à direita e dirigiu-se ao quiosque,
pediu o jornal do costume, deteve-se a ler os Títulos, fui a contracapa para
ver a tira de BD, sorriu e dirigiu-se à pastelaria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No momento em que se
dirigia à pastelaria, a mulher passava em frente da Igreja localizada naquela
artéria, o passo continuava inseguro e incerto, subitamente parou, hesitou, a
sua cabeça rodou em diversos sentidos, estranhamente na minha situação de
observador, o rosto continuava para mim invisível e quando ao rodar a cabeça virou
para mim a nuca, vi nitidamente o cabelo de uma cor acastanhada com algumas
manchas esbranquiçadas nitidamente despenteado, talvez do vento que se fazia
sentir. Pensei.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Na pastelaria
sentei-me numa mesa de dois lugares bem isolada pedi um café e comecei a ler o
jornal, tempos difíceis os que vivemos, a tragédia que se passa no nosso continente
mostra que o homem lobo do homem voltava a soltar de si os instintos de
violência que o acompanhou ao longo da sua história e que pareciam vencidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A mulher hesitação
vencida, entrou resolutamente na pastelaria. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- Ena.. Afinal, ainda
que não totalmente sempre nos vamos cruzar.. Pensei observando<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Continuei a seguir as
duas personagens. Eu próprio e a mulher <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Observando a minha
personagem, notei, concentração absoluta no jornal, nada a perturbando nem a
continua entrada e saída de clientes nem a movimentação dos empregados. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Na minha posição de
narrador notei que a mulher entrou, olhou para algumas mesas vagas, com passo
decidido dirigiu-se para a mesa onde o meu outro eu se encontrava, com uma voz
ténue que soava como um SOS pediu licença para se sentar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">À minha personagem não
chegou o tom angustiado da mulher, ficou perplexo, a pensar porque raio a
senhora escolheu esta mesa? Não haviam mais mesas vagas? Estes pensamentos
fervilhavam na sua mente. E sem levantar os olhos do jornal, respondeu que sim,
acrescentado que já estava de saída, numa fuga de situação não desejada e incómoda.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A mulher, enquanto</span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">colocava um saco que trazia
consigo na mesa, com o logotipo de uma loja de fotografias, de cabeça levemente
levantada olhou-me e dolorosamente balbuciou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- Fiz um exame e… Não
continuou as palavras morreram-lhe nos lábios<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Como narrador
escandalizei-me, pois, o outro eu sem ter alguma vez reparado no rosto da
mulher levantou-se dirigiu-se à caixa pagou pediu NIF, como bom cidadão, e saiu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No caminho de saída
virou-se reparou nos ombros da mulher a mexer-se parecendo soluçar, o cabelo
acastanhado esbranquiçado despenteado como que esvoaçava. Saiu <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No sonho o meu
espírito, invadido por um sentimento de culpa travou-me os passos e decidi
voltar à pastelaria na esperança de encontrar a senhora. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Na mesa ainda lá se
encontrava a minha chávena, da senhora nem rastro. O empregado da pastelaria
perguntou-me.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- Procura alguma
coisa?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- A senhora que estava
comigo.. Respondi, mas esta palavra “comigo” queimou-me os lábios. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- Ainda bem que veio,
a senhora esqueceu-se de um saco se não se importar de o entregar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O empregado foi buscar
o saco da loja de fotografias e antes que eu pudesse dizer alguma coisa,
entregou-me.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Entretanto a mulher
caminhava lenta e desordenadamente pela rua e centenas de pessoas passavam e
seguiam apressadas e indiferentes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">De saco na mão,
começou a tomar conta de mim a tentação de saber quem era a senhora. Sentei-me
num dos bancos da avenida e com algum pudor tirei o envelope que lá se
encontrava. O envelope era branco e sem nenhuma identificação exterior, hesitei
entre abrir e não abrir. Resolvi abrir, talvez o envelope tivesse fotos com imagens
de locais que eu pudesse identificar, única forma de conseguir entregar à
pessoa certa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Outra surpresa, o envelope
continha apenas um documento, mas o cabeçalho e o rodapé tinham sido
cuidadosamente cortados. O texto do documento era um relatório de um exame
médico com algumas palavras a vermelho, sinalizando a gravidade da situação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Em baixo, logo a
seguir ao relatório médico, numa letra nervosa, mas legível a seguinte frase. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Tenho um tumor em
estado adiantado e inoperável, precisava de gritar e perguntar, porque é que
ninguém repara em mim? Quem ouve as minhas angustias?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A mulher continuava,
mesmo numa tarde de sol luminoso, invisível perdida no meio da multidão,
procurando desesperadamente que alguém a tirar-se da sua invisibilidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Despertei com o
coração a bater descompassadamente, e no fim do sonho descobri que.. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A discrepância entre o
que somos e o que pensamos que somos, entre o que sou e o que penso que sou,
vai sendo constantemente revelada. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mire de Tibães entre os dias 8/03 e
10/03/2022<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Herminio Silva<o:p></o:p></span></p>Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-22982697067117111712018-10-19T12:25:00.000-07:002018-10-20T07:18:38.148-07:00FANTASIA À CHUVA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-VXCK3yyfEuM/W8ovINim2RI/AAAAAAAAAYE/rLEJeAb9tEMChUX2W6Q2UyEHJzDGexcTACLcBGAs/s1600/bbbbb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="276" src="https://2.bp.blogspot.com/-VXCK3yyfEuM/W8ovINim2RI/AAAAAAAAAYE/rLEJeAb9tEMChUX2W6Q2UyEHJzDGexcTACLcBGAs/s1600/bbbbb.jpg" /></a></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 20.0pt; line-height: 107%;">FANTASIA À CHUVA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ela repetia vezes sem
conta que que o que mais aliviava a tensão e o stress, num dia de chuva
intensa, era passear livremente e sentir a água a escorrer-lhe pelo corpo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Quando, e se um dia se
cassasse, seria num dia assim, mais ainda, nesse dia haveria de correr pelas
ruas vestida de noiva, até sentir o corpo totalmente encharcado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Pelo contrário, para
ele o máximo do prazer que um dia de chuva lhe proporcionava, era sentir a
chuva a bater nos vidros, e confortavelmente na cama, ouvir o seu tlic-tlic-tlac.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Melhor ainda, quando
na companhia de alguém, embalados por esse concerto da natureza, suavemente os
corpos fossem conduzidos a uma entrega ao amor. Nada era melhor do que isso,
soltou num leve suspiro<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ela insistiu com
veemência, nas suas palavras notava-se um calor de tal modo intenso, que se
tornava impossível de contrariar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O encontro tinha sido
muito casual, num pequeno bar de rápidas e ligeiras refeições.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Com poucos lugares
vagos, ao entrar, os olhos dela repararam naquela mesa num canto bem discreto,
onde ele se encontrava só. Com grande à vontade pediu licença sentou-se, sem
esperar qualquer resposta, lá fora chovia, ainda mal refeito da surpresa, aos
seus ouvidos chegaram as primeiras palavras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- Que belo dia, não há
nada melhor que um dia de chuva. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ele não disse palavra,
mas no seu olhar lia-se uma total discordância.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Examinou-a com cuidado
e tentando ser discreto. O seu olhar vivo transpirava alegria, na boca um
sorriso que parecia eterno, um decote com alguma generosidade mostrava uns
seios que lhe prenderam o olhar, denunciando-o, fazendo que ela ostensivamente
desaperta-se mais um botão da blusa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ficou sem saber o que
fazer, baixando os olhos em direcção á mesa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O sorriso que ela
mostrava e a sua exuberância, desfez o embaraço e gradualmente iniciaram uma
conversa que se prolongou até ao fim da refeição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao fim de algum tempo passaram a encontrar-se
com regularidade, iniciando uma relação, que apesar da singularidade de cada
um, se transformou numa paixão intensa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Por decisão dela, casariam
num dia de chuva o mais forte possível, ela obrigou-o a prometer que fariam uma
caminhada pela cidade, para finalmente se meterem na cama, para ouvir a chuva a
bater nas vidraças, tlic-tlic-tlac como preliminar de uma noite, que ela lhe
jurou inesquecível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E assim aconteceu,
combinaram marcar o casamento com a antecedência máxima de quinze dias para
terem a certeza que a chuva estaria presente. Os convidados e familiares teriam
que se adaptar à situação, de facto bem pouco comum.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Cuidadosamente iam
consultando as previsões meteorológicas. Quando tudo indicava que o tempo se
manteria chuvoso, trataram de tudo de rompante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Perante o espanto dos
amigos e de convidados, a noiva mostrava uma obsessão em relação ao tempo
absolutamente despropositado, queria que chovesse, e muito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O noivo mais
cauteloso, apesar da promessa, implorava interiormente que o tempo tivesse uma
súbita mudança. Era um craque de informática, entre os amigos, conhecido por
nerd. Adorava o conforto do ar condicionado, a proposta da noiva aterrorizava-o,
no entanto o poder da sedução levou-o de vencida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A chuva além de não
abrandar, aumentou de intensidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Combinaram que
passariam a noite de núpcias, num hotel junto ao mar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Saíram da festa
estrondosamente, por iniciativa da noiva. Entre o espaço em que decorria a boda
e o carro em que seguiriam, recusou qualquer proteção para a chuva, entrando
neste completamente em desalinho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Chegaram ao hotel em
pouco mais de uma hora, ele tinha conseguido até ao momento passar
relativamente incólume à chuva. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Entraram no hall do
hotel, resolutamente ela dirigiu-se ao funcionário e perante o espanto deste
disse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- Temos quarto marcado,
vamos dar uma volta, deixamos aqui as malas. Depois tratamos de tudo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Puxou o noivo pelo
braço e arrastou-o para a rua.. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Andaram a vaguear pela
rua à chuva, perante o espanto das poucas pessoas que por eles passavam,
olhados de loucos por uns, embriagados por outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ao fim de algum tempo
ele implorou-lhe que voltassem ao hotel, tremia de frio, pouco ou nada
habituado a tais comportamentos sentia-se como peixe fora de água, ela cedeu e
voltaram ao hotel. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Chegaram ao quarto ela
em êxtase, ele a tremer de frio e com uma tosse horrível, pediu um chá quente,
roupa quente e um antigripal, aquilo era demais para ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Rápido adormeceu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ainda encharcada, cabelo
desgrenhado maquilhagem desfeita, que aliás era mínima, olhava embebecida para
o sono sereno do noivo, no entanto os sentidos continuavam presos à rua,
enquanto ouvia o tlic tlic tlac da chuva, tudo nela entrou em convulsão, não
resistiu e voltou à chuva, libertou totalmente o espírito e enquanto dançava,
perante o espanto de quem passava, totalmente encharcada, sentiu-se envolvida
por um orgasmo interminável.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No quarto o noivo
dormia serenamente em paz.. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> Herminio </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-72202306914598334722018-08-20T08:08:00.002-07:002018-08-30T01:08:17.231-07:00AS SOMBRAS <br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 28.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 28.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 28.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 28.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><b style="font-size: 28pt;"> </b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-size: 28pt; font-weight: bold; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/--LQugPKabPM/W3rYcsOzrDI/AAAAAAAAAX4/O8Xk8jOQaTUlFFPtFPkO-n-eFTFGKSUvgCLcBGAs/s1600/10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="266" src="https://4.bp.blogspot.com/--LQugPKabPM/W3rYcsOzrDI/AAAAAAAAAX4/O8Xk8jOQaTUlFFPtFPkO-n-eFTFGKSUvgCLcBGAs/s400/10.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><b><span style="font-size: 28pt;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span></b><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Imagem Google<b> </b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 28pt; font-weight: bold; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 28.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></b></div>
<b style="font-size: 28pt;"> AS SOMBRAS <o:p></o:p></b><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><b style="font-size: 28pt;"><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Quantas vezes nos
cruzamos com pessoas que não passam de</span> sombras, como se estivessem cobertas com
um manto de invisibilidade. Vemos as formas ainda que que as apreciemos
esteticamente, não vamos além disso.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Nunca fixamos o olhar
no olhar, mais do que anónimas, essas </span>pessoas são invisíveis.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">No meu pensamento vão
passando, diversos tipos de invisibilidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Um homem de meia-idade
de que não me lembro o rosto, mas que segue num caminhar hesitante como se
procurasse onde pisar, cuidadosamente vestido, numa observação breve dir-se-ia
que vivia uma existência igual a tantas outras na rotina dos dias que passam,
coberto com o manto da invisibilidade que lhe cobria a alma, mostrava no jeito
de caminhar um pouco de todo o resto que permanecia escondido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Um homem ainda jovem,
talvez um pouco acima dos trinta, caminhava como quem dança, os seus passos demonstravam
alegria e confiança, no caminhar parecia querer transmitir ao mundo a razão da
sua felicidade. Quando demorei o meu olhar sobre ele, como se sentisse culpa
pela sua felicidade, ficou coberto pelo manto da invisibilidade e desapareceu
na multidão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Desisti de tentar
descobrir o que transportavam na alma, as pessoas com quem me cruzava, seria
sempre uma tarefa impossível, além disso não veria eu nos outros o mundo que eu
próprio trazia dentro de mim?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Cobrindo-me também com
o manto da invisibilidade, impedindo que os outros me vissem com claridade para
além da minha forma?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Afastei estes
pensamentos consultei o relógio, tinha um compromisso com horas bem
determinadas, uma analise ao sangue que tinha que ser realizada três horas
depois do almoço, calculei que o tempo chegava, e fui vaguear para um centro
comercial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Pelo aproximar da
hora, dirigi-me para o laboratório, o espaço entre o centro comercial e o
laboratório não era mais que cem metros. Por isso enquanto me deslocava ia
olhando distraidamente à minha volta. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Sem saber de onde uma
mulher talvez na casa dos quarenta anos, vestida com descrição no rosto sinais
de uma intensa tristeza, mostrando firmeza nos passos que dava, aproximou-se de
mim entre resoluta e alguma timidez, parou a minha frente e com o olhar meio virado
para o chão, com uma voz cheia de doçura mas que saía longínqua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Quero vir viver para
a cidade- Interrompeu a frase como quem arruma as ideias. E repetiu<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Quero vir viver para
a cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Fiquei sem saber que
responder, ela baixou mais o rosto à espera de uma resposta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Na cidade existem
diversas imobiliárias, algumas também tratam de contratos de arrendamento-
Balbuciei a medo <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Quero vir viver para
a cidade- Voltou a repetir, agora com mais força, e continuou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Pode ajudar-me a
procurar casa? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Fiquei sem saber que
responder, olhei para o relógio como um processo de fuga, e sem jeito respondi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Lamento mas tenho
que realizar um exame médico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Atabalhoadamente
tentei indicar o caminho para uma imobiliária, no rosto dela transpareceu por
momentos a mágoa de um desgosto real, levantou a cabeça despediu-se com secura,
e coberta pelo manto da invisibilidade, aparentemente seguiu as minhas
indicações. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Entrei na porta de
acesso ao laboratório, parei uns segundos no hall de entrada, voltei-me e saí a
correr. Todas as pessoas me pareciam sombras dela, sabia que se seguisse na direção
por mim indicada não poderia estar longe, subi pelo lado esquerdo da Avenida,
desci pelo lado direito, todas as pessoas com quem me cruzei eram apenas
sombras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Voltei ao laboratório,
realizei os exames num silêncio atroz, que levou a enfermeira a perguntar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Está tudo bem
consigo? Passa-se alguma coisa? Está a sentir-se mal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">- Não, está tudo bem.-
Respondi ausente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">A enfermeira terminou
a recolha do sangue, retirei-me e voltei à rua com a ilusão de que tudo se
voltaria a repetir e desta vez agiria diferente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Com passos incertos e
inseguros fui percorrendo as ruas que confluíam para o ponto em que se tinha
dado o encontro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Nem vestígios e dei
por mim a pensar, que senão ouvisse a voz dela, mesmo que a visse não a
reconheceria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;">Que restou? Apenas uma
sombra coberta por um manto de invisibilidade, rompido apenas por uma voz, que
ainda hoje seria capaz de reconhecer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Herminio <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-30258197087318401272018-08-08T07:03:00.001-07:002018-08-08T07:03:36.883-07:00INVISÍVEIS<img alt="Resultado de imagem para enfermaria à noite" src="https://i.ytimg.com/vi/C13NiGxutx4/hqdefault.jpg" /><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="font-size: 32px;"><b>INVISÍVEIS</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Imobilizado na cama de
um hospital, depois de uma cirurgia motivada por um problema cardíaco, a
colocação de diversos instrumentos de controlo e apoio a algumas funções
fisiológicas, limitava e muito qualquer movimento. Esta imobilidade no entanto era
quebrada com regularidade por efeitos de mudança de posicionamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O tempo passava lento
e monótono, a ronda habitual do pessoal hospitalar, médicos, enfermeiras e pessoal
auxiliar, representava uma quebra na minha solidão, que não no meu silêncio, a
máscara que ia normalizando a minha respiração limitava a possibilidade de
articular qualquer palavra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O bloco onde me
encontrava, Cuidados Intermédios, como todos os espaços pós operatórios, era
austero silencioso e austero. Um pouco por efeito da anestesia e muito pela
circunstância de a iluminação ser totalmente artificial, com longos períodos de
penumbra, causava uma desorientação temporal e mesmo espacial, o sentido do
tempo e do espaço perdiam-se. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não sei que horas eram
se noite se dia, sentia-me cansado na posição em que me encontrava, esperava
com impaciência que a ronda chegasse. Apesar de dispor de um sistema de
chamada, tinha a noção que o tempo atribuído a cada posição era o correto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A iluminação estava
muito ténue, os passos cuidadosos no corredor soavam-me distantes, no meu
quarto e apenas pelo respirar deduzi a presença de alguém na mesma situação que
a minha. Nada sabia sobre ele, para mim, tal como certamente eu para ele,
estava em presença de um invisível. Éramos invisíveis um para o outro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">De momento estava
deitado sobre o lado direito de costas para a entrada, as portas de entrada
eram de vidro, por isso qualquer variação de iluminação no corredor se refletia
dentro do quarto, normalmente procedia a entrada de pessoal hospitalar, que
vinham realizar as tarefas necessárias ao bem-estar dos doentes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O cansaço venceu-me, o
botão da campainha de chamada estava bem próximo da minha mão, com algum
esforço alcancei-o, subitamente no corredor os passos soaram-me mais intensos,
a minha sombra agigantou-se na parede, alguém tinha entrado no quarto, larguei
da mão o botão da campainha que se escapou e ficou bem distante. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Um dos conjuntos de
iluminação do tecto acendeu-se a iluminação ficou mais intensa, a minha sombra
perdeu o ar ameaçador por efeito da sombra projectada pelo vulto, com leveza os
passos soaram já dentro do quarto, senti que alguém invisível se dirigia para o
lado oposto ao meu, sustive a respiração e pensei: há-de chegar a minha vez. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ouvi o sussurro de
algumas palavras, sem as conseguir entender, e fiquei à espera.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Pelo ruído percebi que
tinham acabado os cuidados do outro doente, e aguardei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Os passos não
enganavam vinham na minha direção, chegaram bem perto de mim, de pé o vulto
projetava um ligeira sombra na parede, rodou ligeiramente para observar um dos
equipamentos, um toque de som moderado de um telemóvel, interrompeu os gestos
que ficaram a meio, tudo parou, atendeu com cuidado o telemóvel e afastou-se um
pouco, ouvi uma voz gritada, não percebi o que dizia mas era uma voz irada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Com doçura o vulto respondeu:
Mas mor eu ontem disse-te que… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A chamada caiu
abruptamente, ouvi um som de irritante de chamada interrompida, em seguida
tentativas de marcação, entrecortadas por soluços de choro sufocado, que tinham
como resposta, uma duas três quatro um sem número de vezes, uma gravação que ia
repetindo como martelo aos meus ouvidos:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">- O número que marcou
não tem Voice mail activo <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O choro aumentou, na
parede a sombra do vulto estremecia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Girou o corpo, em
choro sufocado, lentamente se afastou de mim, enquanto se afastava a sua sombra
diminuía na parede dando de novo lugar à minha. A luz apagou-se a penumbra
voltou, os barulho dos passos foi-se tornando cada vez mais longínquo e
desapareceram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Alguém invisível
atormentou a vida de outro invisível, e invisível fiquei cansado da minha
posição. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Herminio </span></div>
<br />Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-90040973677999730852017-03-17T08:38:00.000-07:002017-03-17T08:40:22.010-07:00A VINGANÇA <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-hv2qqHylXd0/WMwB11TcDWI/AAAAAAAAAXI/EOXo9YAyBAseI2AvgGHmrfaxHN9iiyYAwCLcB/s1600/88.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://1.bp.blogspot.com/-hv2qqHylXd0/WMwB11TcDWI/AAAAAAAAAXI/EOXo9YAyBAseI2AvgGHmrfaxHN9iiyYAwCLcB/s320/88.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A VINGANÇA<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pelas
nove horas da manhã de uma segunda-feira o Dr. Custódio Castro, importante
advogado, de um conceituado escritório de advocacia, e contra o que era
habitual, uma vez que chegava sempre bem cedo, ainda não estava presente,
aproximava-se a hora de mais uma audiência no tribunal, de um julgamento muito
mediático e a sua chegada era aguardada com ansiedade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um
dos advogados mais novos da equipa, enquanto ele próprio ligava vezes sem conta
para o telemóvel do Dr. Castro, sem resultados, solicitou a uma administrativa,
que o tenta-se localizar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Depois
de ligar para o telemóvel que estava inacessível, para a casa do advogado, cuja
esposa se mostrou surpreendida e preocupada, pois para ela o marido já há muito
que devia estar no escritório. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No
contacto entre o escritório e a esposa do Dr. Custódio Castro ficou decidido
esperar mais algum tempo, uma vez que a esposa sabia que o marido se tinha
deslocado, com um irmão à terra natal para tratar de assuntos relacionados com
a morte de um outro irmão, acontecida num hospital da cidade, hospital em que
trabalhava como médico o Dr. António Castro, seu cunhado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sabia
que o cunhado falecido vivia sozinho, e levava uma vida de misantropo, embora
se constasse que teria uma fortuna bem interessante. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
família fazia parte, da enorme massa daqueles que se viram obrigados a
abandonar as antigas colónias, no caso Angola, onde o pai José Castro, tinha
construído uma rede de negócios ligado aos diamantes, mantendo-se porém
estritamente nos limites da lei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nos
últimos anos por precaução tinha estabelecido contactos bem fecundos com pessoas
da chamada metrópole, ligadas à joalharia e ao artesanato de ouro, precavido e
atento ao mundo da moda, criou relações com estilitas de joias personalizadas,
abdicou da quantidade e especializou-se na qualidade e valor. Os seus clientes
tinham um serviço exclusivo à medida do seu gosto pessoal, além da total
descrição em relação ao preço. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
saída forçada de Angola foi facilmente ultrapassada e a família nunca passou
dificuldades, os seus três filhos: Carlos, António, e Custódio, com idades bem
aproximadas cedo se adaptaram à nova vida. A família instalou-se na casa que já
possuíam numa pequena cidade, conhecida pelos seus artesãos no trabalho do
ouro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">José
Castro que não tinha interesse em depender de outros no fabrico do seu produto,
nos seus contactos com os fabricantes, cedo começou a avaliar, os artesãos mais
hábeis e cujas peças tinham qualidade e perfeição. Não lhe interessavam muitos,
mas preferia manter um controlo total, sobre aquilo que fornecia aos seus
clientes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Rapidamente
ofereceu a alguns artesãos, um vencimento bem alto, para eles uma verdadeira
fortuna, com a condição de trabalho em exclusivo e sigilo total, sobre clientes
e produtos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quando
a vida parecia ter-se normalizado para toda a família, a esposa de José Castro
foi vítima de uma doença, que em poucos meses o deixou viúvo. José Castro
fechou-se mais nos negócios, tentou que os filhos se interessassem, mas apenas
Carlos, que não mostrava grande apetência para os estudos, se começou a
envolver tanto nos negócios, como no fabrico das </span><span style="line-height: 18.4px;">jóias</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">, mostrando sensibilidade
para perceber os gostos dos clientes, que sendo poucos eram bem exigentes. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">António
enveredou pela medicina e fixou-se na cidade onde estudou, o seu irmão Custódio
seguiu direito na mesma cidade, e lá iniciou a carreira de advogado e mais
tarde juntamente com outros colegas, criaram um escritório que rapidamente
adquiriu prestígio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Regressemos
cerca de dez anos atrás, quando Carlos noivo e com casamento marcado com Joana,
pela qual tinha uma adoração intensa, mas que não era correspondido de igual
forma, Joana aceitou o pedido de casamento pela estabilidade que a sua vida
teria ao casar-se com Carlos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Além
disso sentia por ele uma forte amizade, semelhante áquilo que é costume chamar
de amor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">As
coisas precipitaram-se e perante o espanto de todos, ainda mais
incompreensivelmente para os que conheciam a família, o irmão de Carlos,
António, num arrebatamento de paixão, que por certo já há muito lhe roía as
entranhas, iniciou com a que estava destinada a ser sua cunhada, uma relação
tórrida que fez gorar o casamento, levou o pai a uma profunda depressão, com a
trágica saída do suicídio, Carlos entregou-se a um isolamento total, só
quebrado pelas relações obrigatórias da continuação do negócio do pai. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Durante
os últimos tempos da vida do pai, Custódio Castro o advogado tornou-se presença
assídua junto do pai, na maioria das vezes acompanhado por um colega de
escritório, mantendo com o pai discretas conversas. O que é certo quando da
leitura do testamento, Carlos embora sem grandes reclamações se sentiu, mais
uma vez traído. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
partir desse momento a relação dos irmãos, António e Custódio com Carlos,
terminaram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">António
ao fim de pouco mais de dois anos de uma paixão extrema com Joana, da qual
nasceu uma filha, derivou para uma relação conflituosa, que rapidamente levou à
separação de ambos. Tanto António como Joana, recomeçaram as suas vidas,
mantendo o contacto necessário e suficiente por causa da filha de ambos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Carlos
continuou a dedicar-se em exclusivo à sua </span><span style="line-height: 18.4px;">actividade</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">, não se lhe conhecia amigos
e nunca mais olhou sequer para uma mulher.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
única mulher com quem tinha proximidade era uma empregada que já tinha servido
os seus pais e continuou ao seu serviço, discreta e sempre fiel, tendo com ele
algumas liberdades que a mais ninguém era permitido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
dedicação exclusiva ao trabalho, uma austeridade de gastos onde não entravam
quaisquer despesas que não fossem absolutamente necessárias. Austeridade muito
perto da absoluta avareza, em poucos anos permitiram-lhe amealhar uma fortuna.
Juntar essa fortuna foi facilitada, por ser ele o único a saber o esconderijo
onde o pai, guardava uma quantidade de diamantes bem significativa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dos
pais herdou a casa da cidade, no rés-do-chão da qual estava instalada uma
joalharia da família, e uma quinta numa aldeia nos limites da cidade, com uma
casa senhoril em ruinas e a casa do caseiro. Todo o dinheiro que ele sabia que
era bastante, tinha sido repartido pelos outros irmãos, além de outros valores
como joias e das quais não viu nem rasto. Ainda esteve tentado a revelar a
existência dos diamantes, mas perante a leitura do testamento, o segredo ficou
com ele. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Parecendo
ignorar a forma como os irmãos o trataram, mergulhou obsessivamente no
trabalho, ao fim de três ou quatro anos resolveu construir na quinta uma casa,
mais parecida com um bunker, de fora a casa parecia um bloco único de betão não
sendo visível à vista nem portas nem janelas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando
expôs num gabinete de arquitetura o que desejava, mostrando claramente que
tinha as ideias amadurecidas e claras, obteve como resposta um desabafo de um
dos arquitetos:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Não sei o que espera de nós e o que fez vir aqui, mas tentaremos dar resposta
ao que nos pede.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
casa relativamente pequena, dispunha de dois quartos, uma pequena sala comum,
cozinha hall de entrada, duas casas de banho e um escritório relativamente
amplo, tinha uma ligação direta para a oficina, que também tinha sido
transferida para a quinta, para a garagem localizada na cave e para uma casa
forte numa subcave logo abaixo da garagem, enquanto a garagem se encontrava
ligeiramente acima do nível do solo, a casa forte era totalmente inacessível
por fora, colocando graves problemas de ventilação, Carlos porém mostrou-se
inflexível, a casa forte teria que ficar localizada aí e com acesso apenas pelo
escritório. Os custos adicionais não eram problema.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em
cerca de um ano as obras terminaram, e rapidamente Carlos se mudou para a nova
casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Continuou
isolado, sem mais contactos que não fossem fornecedores e clientes, e uma
relação estritamente profissional com os artesãos que continuaram a trabalhar
com ele, tal como com uma administrativa que trabalhava na empresa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">O
seu prestígio como fabricante de qualidade e cumpridor com prazos, fizeram que
mesmo em épocas menos boas nunca lhe faltassem clientes. A casa tinha uma </span><span style="line-height: 18.4px;">arquitectura</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> que lhes garantia uma discrição absoluta. A entrada de carro era feita a partir
da entrada do portão por uma espécie de túnel de betão que os levava diretamente
à ampla garagem e daí à casa. Tudo era invisível da rua e mesmo da oficina e da
casa do caseiro, que tinha ordens estritas, para tratar do jardim apenas em
alguns dias por mês, previamente marcados, tratar dos cães de guarda solta-los
à noite e os voltar a colocar na jaula pela manhã. No resto toda a quinta era
por conta do caseiro. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
vida que levava o rancor que sentia e nunca extravasava, mas cada vez o tornava
mais amargo e intratável, tornaram-no fisicamente frágil, começou a emagrecer
aparentemente sem causa, mas só perante a insistência da sua velha empregada, a
única que lhe falava sem receio, resolveu ir a um médico. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ao
médico que o atendeu não lhe custou compreender, que apesar de Carlos ser ainda
novo, não tinha quarenta anos, o caso lhe parecia bem grave, e pediu-lhe que
fizesse um conjunto de exames o mais rápido possível. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando
saiu do consultório médico, Carlos dirigiu-se ao advogado com quem costumava
tratar de assuntos da sua empresa. E depois de uma longa conversa, em que
acertou diversos pormenores de futuro, saiu respirou profundamente, coisa que
já não fazia há muito, e tratou de marcar os exames pedidos pelo médico. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cerca
de quinze dias depois recebeu uma chamada urgente do médico, pois precisava de
conversar com ele o mais rápido possível.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Carlos
tinha pedido à sua funcionária para levantar todos os exames e os colocar no
consultório do médico, tal como tinha previamente combinado com ele. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Combinou
com o médico que iria lá no dia seguinte. Depois tomou uma decisão, reuniu os
seus colaboradores, pedindo-lhes que entrassem em sua casa, perante o espanto
destes, que não estavam habituados a estas atitudes, na sala tinha a mesa posta
para um lanche substancial, como se tratasse de algum acontecimento especial. E
disse-lhes para se servirem. Com um misto de estranheza e timidez, muito lentamente
começaram servirem-se, enquanto esperavam o que se seguiria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Com
a aparência de frieza, mas onde se notava alguma emoção, comunicou-lhes que
estava doente, provavelmente com gravidade, por isso lhes pedia que
continuassem a tratar bem os seus clientes e que ele não se esqueceria da
importância que tinham tido na sua vida. Sabia que cada um saberia fazer bem as
suas funções. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No
dia seguinte dirigiu-se ao consultório médico, mal chegou foi logo atendido e
pela cara do médico percebeu que a situação era mesmo grave. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O
médico foi direto ao assunto e colocou as coisas de forma clara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
O seu caso é bem grave, muito grave mesmo, já comuniquei para o Hospital que me
parece melhor para situações como a sua, penso que deve ser imediatamente
internado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Se é assim quando vou?- Perguntou ele secamente e sem emoção aparente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
A minha empregada chama uma ambulância e segue imediatamente para o Hospital,
eu entro em contacto com um meu condiscípulo, e ele estará lá a sua espera. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Não vinha preparado.- Disse com algum enfado e pela necessidade de dizer alguma
coisa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Não se preocupe, trata-se disso depois. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
ambulância chegou rapidamente o médico juntou os exames realizados, acrescentou
o relatório que elaborou, e entregou a um dos tripulantes da ambulância, com a
recomendação de que a sua espera estaria lá um médico. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando
a ambulância partiu, dirigiu-se ao seu gabinete e iniciou de imediato um
telefonema.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Olá estás bom Custódio? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Olá tudo bem, então que te leva a um telefonema a esta hora?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Saiu daqui um doente, receio bem pelo seu estado, é curioso chama-se Carlos
Castro, mas não deve ter nada a ver contigo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Que faz? Que idade tem?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Julgo que é ourives ou coisa parecida, a idade quarenta anos. Porquê essas
perguntas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Durante
uns longos segundos, instalou-se um profundo silêncio, até que do outro lado da
linha e com um tremor na voz se ouviu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
É meu irmão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E
desligou abruptamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
situação tinha de facto atingido o limite, em menos de uma semana e apesar de
todos os esforços da medicina Carlos faleceu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Custódio
que já tinha comunicado o internamento de Carlos ao seu irmão António, e a Joana
que quando teve conhecimento lhe fez uma visita, também lhes comunicou a sua a
morte, e uma vez que Carlos não tinha mais família trataram de todos os
procedimentos para o funeral, que se realizou na cidade natal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Durante
o velório um senhor já com alguma idade e discretamente, apresentou-se como
advogado da empresa de Carlos e pediu aos irmãos se era possível uma pequena
conversa, bem como gostaria de ser informado se estaria ali alguma senhora
chamada Joana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">António
deduziu a que Joana se referia o seu colega advogado, mostrou disponibilidade
para essa conversa que teria que ser discreta e pouco demorada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Retiraram-se
para um espaço mais reservado da casa mortuária, informaram Joana que acedeu a
estar presente, o advogado pediu desculpa pelo incómodo da situação dizendo que
seria muito breve.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Como sabem durante anos e até este momento, fui advogado da empresa que era do
vosso pai e agora do vosso irmão, solicitou-me ele que fosse fiel depositário
do seu testamento e que este fosse lido quinze dias depois da sua morte. A
condição única para a leitura do testamento, sem a qual este perderá validade,
e será substituído por um segundo testamento do qual também sou depositário, é
a presença exclusiva dos irmãos António e Custódio bem como da Sra. Joana, que
estão aqui presentes. Tenho aqui uma carta convocatória, que entregarei a cada
um, para a vossa presença no meu escritório às 16.00 horas daqui a duas
semanas. Obrigado pela vossa atenção e até breve. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entregou
os envelopes com a convocatória e saiu discretamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na
data marcada, no escritório do advogado fiel depositário do testamento,
comparecerem como o exigido pelo irmão Carlos, os irmãos; António e Custódio,
acompanhados de Joana, os três contavam que a leitura fosse rápida, combinaram
deslocarem-se apenas num único carro e assim fizeram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O
advogado fiel depositário do testamento, cumprimentou-os e pediu-lhe que se
sentassem tomou a palavra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
O testamento de Carlos é um pouco estranho, mas a mim compete fazer cumprir o
que ele estabeleceu. Por isso vou ler: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pegou
num envelope, retirou dele uma folha, mostrou a assinatura devidamente
reconhecida, um atestado médico que confirmava que Carlos estava em pleno uso
de todas as faculdades. E iniciou a leitura do testamento propriamente dito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Aos meus irmãos Custódio e António à minha ex noiva Joana, deixo tudo o que se
encontra na casa forte localizada na cave da minha atual morada, a divisão
entre os herdeiros indicados será equitativa e tenho a certeza que cada um, não
desejará mais do que aquilo que lhe estiver destinado. Na mesma casa forte
encontra-se localizado um pequeno cofre, onde guardei o máximo que vos poderia
desejar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Finda
a leitura o advogado entregou a cada um dois envelopes. Um com as chaves e o
código de acesso à casa forte, outro com as chaves e o código de acesso ao
pequeno cofre. A casa forte tal como o cofre precisava de três chaves e de seis
dígitos, cada. O advogado também lhes entregou o comando do portão de entrada
de veículos e as chaves da porta de casa. E concluiu com uma recomendação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Pelas instruções do falecido, fiquei encarregue de tratar de todas as
formalidades que houver necessidade de tratar, nos próximos sete dias. Espero
pelo vosso contacto. Um último aviso, já me esquecia, junto à porta de entrada
do lado esquerdo encontra-se o quadro do alarme, têm trinta segundos para o
desligar, este é o código. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entregou
novo envelope além de uma cópia do testamento, perguntou-lhes se sabiam onde se
situava a quinta e como chegar lá. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Despediram-se
do advogado, agradeceram a cordialidade do tratamento e dirigiram-se para a
casa do irmão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pela
primeira vez os irmãos Custódio e António, entraram na casa de Carlos e ficaram
espantados com a estranha opção do irmão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">A
velha casa tinha sido totalmente arrasada, dando lugar a uma autêntica
fortaleza, em todas as janelas fortes grades de ferro, </span><span style="line-height: 18.4px;">câmaras</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> de vigilância,
um </span><span style="line-height: 18.4px;">aspecto</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> global, frio e duro. Uma robusta porta de segurança guardava a
entrada. Fazendo um contraste com o jardim bastante bem cuidado, pois o tempo
primaveril ajudava ao florescer de muitas e variadas plantas, que além da cor
faziam sentir os seus aromas. Os cantos dos pássaros davam ao ambiente um tom
alegre. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Custódio
abriu a porta dirigiu-se apressadamente para o quadro do alarme, que desativou
e entraram sem problemas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Logo
que fecharam a porta notaram um silêncio opressor, a casa tinha sido construída
totalmente insonorizada, nada de fora chegava nem sons nem cheiros, Joana por
necessidade e curiosidade voltou a abrir a porta, abrindo os pulmões ao ar
fresco, encheu-se de coragem voltou a entrar e fechou a porta. Os dois irmãos
já se encontravam no escritório e não lhe foi difícil encontrar a porta de
acesso à cave. Umas escadas um pouco </span><span style="line-height: 18.4px;">íngremes</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> mas bem iluminadas. Esperaram por
Joana e iniciaram a descida, chegaram a um pequeno patamar, com duas saídas uma
no mesmo plano com indicação de oficina, e outra sem qualquer indicação que
deduziram que fosse a casa forte. A iluminação continuava muito boa, ao fim de
alguns degraus chegaram a novo patamar e depararam com a entrada para a casa
forte. Nos envelopes que eram portadores, era descrita a ordem para a abertura
da porta blindada. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Facilmente
abriram a porta e encontraram-se num compartimento relativamente pequeno, não
teria mais que dez metros quadrados, e com cerca de dois metros de altura, as
paredes cobertas de estantes, com pequenas caixas com indicação do tipo de </span><span style="line-height: 18.4px;">jóias</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> que continham, numa das estantes estavam algumas barras de ouro, as
estantes faziam fazia diminuir o espaço de circulação disponível, levando a uma
sensação de sufoco, dispunha ainda de uma secretaria e de uma cadeira. Num
canto, em lugar de destaque e embutido na parede, encontrava-se o pequeno
cofre.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Com
as chaves do cofre e senhores dos códigos, precipitaram-se para o cofre e pela
ordem estabelecida, sentiram que o cofre ficou aberto, mas porém por motivos
que não descortinavam a porta ofereceu alguma resistência à abertura total.
António o mais expedito puxou com quanta força tinha, sentiu uma espécie de
baque, como se alguma coisa se tivesse partido, a porta soltou-se trazendo com
ela um cabo de aço e na ponta um tampão, a porta caiu ao chão partiu-se em mil
bocados, ouviram a porta da casa forte a bater com estrondo, a iluminação
apagou-se fez-se silêncio, ligaram os telemóveis viram que estavam sem rede,
dirigiram-se iluminados pelos telemóveis para a saída, e repararam que a porta
não tinha forma de ser aberta por dentro, bateram à porta e gritaram
desesperados, compreenderam que ninguém os iria ouvir. Começaram a sentir
tonturas ao mesmo tempo que ouviam o som de uma ligeira brisa, procedia do
cofre, compreenderam que se tratava de uma entrada de gás que tinha sido </span><span style="line-height: 18.4px;">activada</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> pela abertura do cofre depressa descobriram que Carlos tinha programado
obsessivamente para aquele momento, uma cruel vingança. As baterias dos
telemóveis foram perdendo carga e o espaço mergulhou na escuridão absoluta,
gradualmente, a começar por Joana, foram caindo ao chão, inanimados. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Como
de costume todos os dias de semana bem cedo, apesar de saber que Carlos já não
era vivo, a empregada entrou em casa, notou que não havia energia, amaldiçoou a
EDP, deu uma volta pela casa toda, viu no escritório a porta de acesso à cave
aberta, soltou uma imprecaução pelo seu esquecimento, pois só podia ser ela que
a tinha deixado aberta, sentou-se na cadeira do patrão, saindo-lhe uma lagrima
furtiva. E concluindo que não estava ali a fazer nada, vagarosamente voltou
para a sua casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cumprindo
o horário habitual, pelas nove horas os artesãos dirigiram-se para a oficina,
manifestando entre si sentimentos de preocupação sobre o seu futuro. Um dos artesãos
ao iniciar o trabalho, recomeçou a tarefa de terminar um objeto que necessitava
de um acabamento mais cuidado, tentou acender um maçarico a gás, mas não
conseguiu, desabafando com um colega.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Ainda há alguns dias o depósito foi cheio, é impossível que o gás tenha
acabado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mudou
de maçarico e o resultado foi o mesmo. Dirigiu-se ao depósito que se encontrava
no exterior da oficina, e para seu espanto o manómetro indicava pressão zero, o
depósito encontrava-se totalmente vazio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Alertou
os companheiros, só podia haver uma fuga e era necessário chamar os técnicos da
empresa fornecedora de gás. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ao
fim da tarde desse dia, a esposa do advogado cansada e já muito preocupada pelo
marido, telefonou para o advogado, que confirmou a presença do marido do cunhado
e acompanhados de Dona Joana, no sábado tal como o combinado, e que tanto
quanto sabia, se tinham dirigido à casa do irmão falecido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Alarmada
e em pânico, tentou entrar em contacto com as outras pessoas envolvidas, sem
resultado, ligou seguidamente com o companheiro da Joana, que também nada
sabia, acontecendo o mesmo com a esposa do médico. Juntos alertaram as
autoridades, e dirigiram-se para a cidade de Carlos. Sem a menor ideia do que
se teria passado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Na
casa de Carlos as autoridades encontraram a garagem aberta, e lá dentro o carro
de António o advogado, e concluíram que as três pessoas desaparecidas, tinham
estado naquele local. Já era tarde, tinha anoitecido, e a garagem estava sem
energia </span><span style="line-height: 18.4px;">eléctrica</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Com
a chave disponibilizada pela empregada, que os informou que a luz estava
avariada, entraram com cuidado casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Um
dos agentes com a ajuda de uma lanterna, procurou o quadro </span><span style="line-height: 18.4px;">eléctrico</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">,
encontrando-o facilmente, e mais facilmente ainda percebeu que a falta de
energia não se devia a avaria, mas no quadro os </span><span style="line-height: 18.4px;">disjuntores</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> de </span><span style="line-height: 18.4px;">protecção</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> se encontrarem desligados.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Informou
os colegas, que por precaução e com as lanternas deram uma volta pela casa,
nada encontraram que lhes chamasse à atenção. Ligaram a energia, ouviram o
barulho de uma explosão abafada, a casa tremeu ligeiramente, voltou a escuridão
e o silêncio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Quando
não existia risco algum as autoridades, entraram na casa forte, defrontando-se
com o caos total, as estantes tinham sido arrancadas, tudo o que continham
estava espalhado anarquicamente, naquele caos e anarquia os três corpos
deitados no chão, </span><span style="line-height: 18.4px;">desfeitos</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">, sem qualquer sinal de vida. Mortos pelo gás,
desfeitos pela explosão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ao
analisar todo o espaço, e com especial o pequeno cofre, descobriram o tubo
engenhosamente colocado, reservando para a retirada do cofre uma análise mais cuidada,
dentro do cofre bem acessível mas protegida embutida numa das paredes do cofre,
uma pequena caixa contendo um envelope, com a seguinte mensagem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-
Se esta carta for lida, por alguém que não eu, é sinal que o meu testamento foi
cumprido, e lembro o que deixei escrito. “a divisão entre os herdeiros
indicados, será equitativa e tenho a certeza que cada um, não desejará mais do que
aquilo que lhe estiver destinado.” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Espero
que a quantidade de gás, os tenha levado comigo para o Inferno. Local onde vivi
durante todo este tempo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Carlos <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: times new roman, serif;"><span style="line-height: 18.4px;"> Herminio </span></span></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-22453127190900076362017-01-13T02:42:00.000-08:002017-01-13T02:45:14.537-08:00O PAÍS DA MEDIDA DA AMIZADE <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-PTDV162QR5s/WHiuENl0a-I/AAAAAAAAAWw/SMaX35v46Zk_5H2zhS2ZPv1PJNSOrVAuACEw/s1600/36.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-PTDV162QR5s/WHiuENl0a-I/AAAAAAAAAWw/SMaX35v46Zk_5H2zhS2ZPv1PJNSOrVAuACEw/s320/36.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: center;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">A FABULOSA VIDA DE
MATILDE <o:p></o:p></span></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: center;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;"> A AMIZADE</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Matilde estava só em casa,
sentada junto a uma mesa onde estava instalado um computador ligado à NET e
onde tentava matar o aborrecimento daqueles dias, os seus pensamentos passavam
com lentidão mas estranhamente abertos à novidade, queria um tempo diferente,
sentia enfado pelo tempo que vivia entediante e desinteressante, o dia quente
de Verão a modorra que ela sentia convidavam à inactividade. Subitamente, no
entanto, o som de passos no chão rasgando o silêncio da casa, colocaram-na em
estado e alerta, e sentiu algum medo, àquela hora não era normal alguém entrar
dentro de casa sem aviso, os passos continuaram, sem grande convicção gritou:<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Mãe, és tu? – o silêncio
manteve-se, voltou a falar- Quem está aí? <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Não obtendo resposta,
Matilde apesar do medo cada vez mais intenso, levantou-se para tentar
identificar a origem dos passos, tentando dominar-se, ao mesmo tempo começava a
pensar em gritar sentindo no entanto a voz presa na garganta. A casa não era
grande em breve (?), fosse, quem quer que fosse, ou o que fosse, estaria junto
dela muito rapidamente. Os passos continuavam a ouvir-se, sempre à mesma
cadência e mesma altura, porém, era como se esse alguém estivesse a caminhar
sem se deslocar, ficou atenta, apurou os ouvidos, escutou com o máximo de
atenção e paradoxalmente com o mesmo ritmo e o mesmo volume o som parecia-lhe
vir de todos os lados da casa. Entrou em pânico, ficou paralisada não
conseguindo articular nenhum som e muito menos gritar. Tentou controlar a
respiração, durante uns segundos pensou no que fazer, repentinamente começou a
correr em direcção à porta, tropeçou num dos tapetes, desequilibrou-se,
bateu com a cabeça no canto de um móvel e caiu no chão, inanimada. </span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Um silêncio suave começou a
fazer-se sentir em toda a casa, o corpo de Matilde mantinha-se imóvel,
estendido no chão. O tempo passava e nada parecia mudar. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Numa observação mais cuidada
notava-se que Matilde começava a mexer-se, ao princípio
imperceptivalmente, finalmente os movimentos cada vez mais visíveis, mas
no seu rosto começou a notar-se apreensão e espanto, o local onde se encontrava
nada tinha a ver com a sua casa. Estava deitada num relvado bem tratado e à
sombra de uma frondosa árvore, a maciez da relva e os tons de cor provenientes
das mais variadas plantas visíveis à sua volta, conjugado com suaves e
agradáveis aromas trazidos por uma fresca brisa, fizeram-na pensar se não
estaria no paraíso, lentamente tentou levantar-se e notou que o podia fazer sem
grande esforço, já de pé notou que se sentia bem, no entanto uma pequena dor de
cabeça lembrou-lhe a queda, ao levar a mão ao ponto onde se acentuava a dor de
cabeça, constatou a existência de um hematoma, com uma dimensão que a assustou,
<i>um grande galo</i>, diria a sua mãe.</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Apeteceu-lhe chorar, só, num
local desconhecido a que tinha ido parar de forma inexplicável, reuniu
toda a energia que foi capaz e gritou, num misto de pedido de socorro e de
choro incontrolável, um eco foi repetindo os seus apelos sem os resultados que
ela desesperadamente procurava. Sentou-se na relva e chorou convulsivamente.
Debruçada sobre o peito e com as mãos no rosto, deu largas ao seu medo e
desespero.</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Entregue aos seus
sentimentos, não notou que mansamente alguém se ia aproximando, o macio tapete
da relva o tamanho e a estrutura física de quem se aproximava, facilitava essa
aproximação furtiva. Quem se aproximava não aparentava ter intenções agressivas,
o seu aspecto era uma mistura entre um duende e um ser humano, sendo impossível
de identificar com rigor, pois em cada instante parecia mudar de forma,
mantendo apenas a altura, as próprias cores e formas da roupa que trazia
vestida, variavam segundo o seu aspecto e tamanho, ora apresentava cores vivas
e variadas, como apresentava uma roupa e um aspecto em tudo semelhante a
Matilde.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Era impossível acompanhar e
compreender o que estava a acontecer.</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Enquanto Matilde
continuava a dar largas ao seu desespero, essa forma hibrida e variável aproximou-se
e tocou levemente nas costas de Matilde, que perante a inesperada surpresa, deu
um salto brusco abriu a boca mas foi incapaz de articular qualquer som. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">De pé notou que esse ser era
bem pequeno, mas incrivelmente parecido com ela, e com cadência regular
continuava a mudar de forma, mantendo sempre no entanto na face uma incrível
semelhança com ela. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">O ar pacífico e cheio de
ternura com que os olhos a miravam, acalmaram-na e o medo esfumou-se do seu
espírito. </span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Estou aqui, nunca estive
noutro sítio, porque vivo em ti. Ou melhor sou a medida da tua capacidade de
dares e conquistares amizade, sempre que confiares sem reservas em alguém, eu
crescerei que atingirei a plenitude e será máxima a minha dimensão, sinal de
que as tuas amizades merecem de ti a tua entrega total, estou aqui para te
alertar se porventura os teus caminhos ou decisões não forem as mais justas.
Mas para me ouvires tens que te escutar a ti. Não me vais encontrar nem te vais
encontrar a ti, se não olhares bem para dentro do teu ser. Se olhares muito de
perto verá apenas o exterior, descobrirás que quem vê de muito perto quase
sempre vê o incerto, fica pela aparência, e se traçar o seu caminho pela
aparência muitas vezes errará. Tenta olhar para o interior das coisas e de ti,
e descobrirás o mundo, em cada minúscula parte, do visível e do invisível, pois
em cada pequena parte está presente, todo o cosmos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Ainda não te disse como me
chamo. Como vês, sou como que uma tua gémea, se quiseres chama-me de “A Gémea.”<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Matilde deixou-se como que
embalar pelas palavras que ouvia, cuja origem pareciam vir de dentro de si
embora a presença dessa espécie de gémea, lhe lembra-se que não seria assim,
gradualmente foi serenando, endireitou o corpo totalmente o medo já tinha desaparecido
e uma intensa serenidade invadiu-a, Começou a pensar que vivia uma das suas
muitas fantasias, teria vergonha de gritar e chamar alguém, tinha a percepção
de que não corria perigo, cheia de coragem com voz tão calma quanto podia
disse:</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Mas afinal quem és tu? O
que faço aqui, que local é este? </span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Começo pelo local, este é
o mundo da Medida da AMIZADE, em mim se reflete o valor das amizades que
conquistaste. Explicar-te-ei enquanto te mostrar todo este mundo. Perguntaste o
que fazes aqui: dentro de ti tens um coração aberto ao sonho e aberto à
partilha de amizade sincera, só quem tem esse espírito encontra a chave de
entrada neste mundo, e assim se abrirá a inteligência e o coração para
valorizar o que é importante valorizar, daqui não sairás outra, mas mais capaz
de traçares o teu próprio caminho, tomar-te-ão sempre como alguém diferente e
serás alvo de alguma incompreensão. Queres conhecer este mundo para
compreenderes quem te rodeia? Não conhecerás o futuro mas o retrato do presente.
E a tua ligação a múltiplos acontecimentos de múltiplas pessoas. Aceitas fazer
essa viagem? <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Que me acontecerá se
recusar essa proposta? <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Nada, ficarás para sempre
mais pobre e viverás na dúvida se essa decisão foi a certa. Nunca saberás a
medida da amizade que os teus amigos te oferecem, nem serás capaz de avaliar se
és justa para com essa amizade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Matilde pensou uns segundos
e resoluta:<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Aceito, quando começamos?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Começamos já, mas primeiro
vamos tratar da tua cabeça, colocar-te-ei este selo que é curativo e sempre que
até aqui viajares esse será o sinal, que tens o privilégio de viajar neste mundo,
para quem é capaz de dar amizade sem medida. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Estou em ti e sei que tens
muitos sonhos, sei que o mundo precisa dos teus sonhos, não te substituirei nem
nunca estarei presente para fazer por ti aquilo que tu podes e deves fazer
sozinha, mas enquanto tu quiseres apenas para te animar, ou melhor para saberes
que não estas só, eu estarei contigo. Em cada dia avaliaras se o teu caminho é
o certo, mas sempre escolhido por ti, e que está viagem, que tal como a luz faz
realçar as formas, venha a contribuir de alguma maneira para fazer brilhar em
ti, tudo aquilo que tu tens de bom. Nessa altura tu serás de facto a Matilde,
com sonhos não totalmente realizados, mas sempre em busca da tua realização
plena. E assim contribuirás para mudar o mundo.</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Como é que posso mudar o
mundo se vejo nele tanta maldade e traição, e se muitas das coisas que eu sinto,
não passam de hipocrisias e mentiras?</span><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- É bom que muitas coisas de
mal sejam mentiras, é a prova que o mundo não está tão mau como parece, se todas
essas maldades fossem verdade, o mundo seria um inferno. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Iniciemos então a viagem,
será como flutuar através do tempo e não do espaço, em frente temos o futuro, o
que vês Matilde?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Pessoas que eu conheço,
umas com nitidez, outras quase sombras e outras que eu nunca vi, mas bem
nítidas. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Não verás mais do que isso
do futuro, pois o futuro é aquilo que tu construíres cada dia no presente. As
que vês com nitidez continuarão a fazer parte da tua vida, dependendo apenas de
ti. As que parecem sombras são as que se afastarão ou que tu afastarás, se
reparares notarás que entre estas, algumas estão em posição de quem se lamenta,
ou por se terem afastado de ti, ou por não terem conquistado verdadeiramente a
tua amizade. Os novos são aqueles que a vida te trará.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Viajaremos agora pelo tempo
presente, não precisamos de mudar de direcção mas apenas de estado de alma. Que
vês agora Matilde?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Matilde fixou o olhar num
espaço que lhe parecia caótico e simultaneamente harmonioso, diante dela muitos
grupos de pessoas, umas com olhar feliz outras de olhar triste, algumas bem
nítidas outras nem tanto, muitas de costas impossíveis de identificar, muitas
que eram sombras mas fixamente voltadas para ela, não as conseguia identificar,
e caso curioso quando o seu olhar se fixava nelas a sua Gémea, tornava-se mais
pequena e menos visível, quando porém se voltava para as que reconhecia
nitidamente a Gémea atingia a plenitude da sua estatura. Estranho ainda era o
que acontecia quando o seu olhar pousava nas pessoas com ar triste, e que ela
reconhecia muito bem, nem eram muitas, mas estavam entre elas alguns dos seus maiores
amigos. E neste caso a Gémea mantendo a mesma estatura e rosto parecido com o
seu, transformava-se num duende com olhar perdido e triste. Matilde voltou-se
para a Gémea observando-lhe:<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Não compreendo as diversas
formas que vejo à minha frente, nem as tuas transformações. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">A Gémea fez uns segundos de
silêncio, e enquanto o seu corpo ia passando por múltiplas formas, fixou
longamente os olhos em Matilde, como se olha-se bem para dentro da sua mente e
perguntou:<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Queres mesmo que te
explique, mesmo que te cause alguma dor?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">Matilde já não se sentia
capaz de recusar nada, estava disposta a aceitar tudo. E sem hesitação
respondeu.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Sim, quero perceber se for
capaz, quero compreender aquilo que os meus olhos veem. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Não são os teus olhos é o
teu espírito. O grupo das pessoas felizes, são os teus amigos a quem dás e
recebes amizade, o grupo das pessoas que estão de costas para ti, são as
pessoas com quem te cruzaste na vida, mas com as quais nunca o afecto e a
amizade aconteceu nem essas pessoas desejam, o grupo de pessoas que estão de
rosto fixo em ti, é o grupo de pessoas com quem te cruzaste te admiram e que
desejariam a tua amizade, mas tu nunca reparaste na sua existência. Finalmente
o grupo da pessoas tristes, são aquelas que te têm verdadeira amizade e que de
alguma maneira te feriram, e que precisam da tua amizade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">A Gémea acabou de falar, os
olhos de Matilde estavam ligeiramente humedecidos. Soprava uma doce e calma
brisa, ambas se mantiveram caladas. A Gémea colocou o seu braço nos ombros de
Matilde.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">A calma presente em todo o
espaço, era propícia ao recolhimento, um sentimento de paz percorreu toda a
alma de Matilde, suavemente e pesando bem as palavras. Voltou os olhos para a
Gémea enquanto ia dizendo;<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Que valor tem a amizade,
que não é capaz de compreender e perdoar?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">A Gémea como que atingida
por uma energia extraordinária, atingindo uma altura absolutamente descomunal,
provocando em Matilde um espanto que ela jamais tinha sentido. Ao longe uma voz
chegou com doçura a Matilde:<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- É hora de regressares,
compreendes a Amizade, a Amizade que dás tem o tamanho da tua alma. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;"> E uma mão como que vinda do espaço tocou-lhe
na cabeça e Matilde adormeceu. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">A mãe ao chegar a casa achou
estranhou tanto silêncio, nem música no computador nem televisão ligada,
pensou:<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Decerto saiu. - Entrou com
cuidado dirigiu-se ao quarto onde Matilde costumava estar, e reparou que ela
tinha adormecido, sobre o teclado do computador, com cuidado e muita ternura,
aproximou-se dela e reparou num penso um pouco estranho que Matilde tinha na
testa, um pouco assustada acordou-a<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- Então Matilde que se
passa? Que tens aí na cabeça?<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;">- É o sinal para viajar para
o país da Medida da Amizade.<a href="https://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a>- Disse sem reflectir, perante o espanto da mãe. <o:p></o:p></span><br />
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="background: white; font-family: "calibri" , sans-serif;"> Herminio Silva </span></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-88351465113315333192016-12-17T07:49:00.001-08:002016-12-17T07:51:54.408-08:00PERSEGUIÇÃO <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-YUU0eD6kmoE/WFVc0caBhbI/AAAAAAAAAWg/bMCuGqKrpdEWdTIgf1KnLUxwmDAdalKSwCLcB/s1600/persegui%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://2.bp.blogspot.com/-YUU0eD6kmoE/WFVc0caBhbI/AAAAAAAAAWg/bMCuGqKrpdEWdTIgf1KnLUxwmDAdalKSwCLcB/s320/persegui%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div align="center" style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 18pt;">PERSEGUIÇÃO</span></b><span style="font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.4pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Tinha saído da escola mais tarde
que o habitual, a mãe sempre recomendara:<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Logo que acabem as aulas, tomas o
autocarro e regressas.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Mas o dia anterior tinha sido
especial, fizera anos e não resistira a mostrar às amigas o novo telemóvel, não
se tinha apercebido do tempo passar, estava já a imaginar as palavras da mãe,
ia elaborando todas as desculpas, afinal mesmo a pé da escola à casa não eram
mais que vinte minutos, e parte do caminho seria feito na companhia de algumas
colegas.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Era inícios de Dezembro o
tempo estava mau, passava das dezoito e trinta e era bem escuro, para ainda
complicar mais as coisas a iluminação pública estava desligada.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Decerto por avaria: - murmurou.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
A distância entre a escola e a rua
principal foi passada entre risos e conversas, quando lá chegaram as amigas
viraram à esquerda e ela em sentido contrário, seriam cerca de quinhentos
metros sozinha, apesar da escuridão queria não ter medo, ainda não tinha
percorrido mais que algumas dezenas de metros quando viu aproximar-se um vulto
de um homem numa rua que confluía para a principal, instintivamente colou-se à
parede batendo sem querer com a mochila nesta, notando que lhe tinha caído
qualquer coisa,<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Um lápis, uma coisa sem importância: Pensou,<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Por isso não parou antes acelerou mais o
passo, subitamente aos seus ouvidos chegou o ruído de um arfar
de respiração e passos mais rápidos. Em pânico, não sabia o que fazer nem lhe
saiam sons da garganta. Tentou ensaiar uma corrida mas as pernas não lhe
obedeciam, ela podia escutar os passos ainda mais apressados como que a
responder à sua reacção e já não era arfar mas autênticos rugidos, aos seus
ouvidos chegou aquilo que lhe pareceu uma ordem para parar.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
O vulto, atrás ia balbuciando, para
si mesmo:<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Tenho que a apanhar antes de ela
mudar de rua, se isso acontecer não sei como a identificar.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Vou chamar por ela:-Decidiu:<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Mas o caminho já andado e a
aceleração daqueles últimos metros impediam-no de gritar, saiu um som frouxo e
que ele duvidou que ela tivesse ouvido, tentou acelerar mais o passo, tinha
mesmo que a apanhar.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
O som que chegou aos ouvidos dela,
parecia um miar de mocho, assustou-a mais, a noite parecia ter ganho cores
ainda mais negras, as suas pernas apesar de jovens recusavam-se a andar, pelo
menos a ela parecia-lhe isso, e no entanto sabia que bastava continuar a manter
a distância durante mais alguns minutos e chegaria a casa, ao conforto da casa,
ao abraço da mãe, pela cabeça passaram-lhe algumas orações da catequese, não
sabia bem se as pensava correctamente, mas o tempo não era de preciosismo. Tinha
dois desejos, chegar a casa e fugir daquele monstro. Um desejo aumentava o
outro.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Lá atrás o vulto fez mais uma
tentativa de chegar perto do seu objectivo, acelerou o mais que pode o passo,
chamou a si todas as energias disponíveis, e iniciou uma nova etapa em direcção
ao alvo, sabia que se ela muda-se de direcção nunca mais lhe ponha os olhos em
cima, tinha pouco mais de uma centena de metros antes do aparecimento de uma
nova rua, no caso à esquerda se ela vira-se aí com a distância que levava
perdê-la-ia de vista para sempre, com aquela escuridão dificilmente a
conseguiria identificar, para a abordar mais tarde. A partir daí pensaria o que
fazer.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Ela não se atrevia a olhar para
trás a escuridão continuava e ninguém na rua, parecia que tudo estava contra,
na rua do lado direito algumas casas mas mostrou-se incapaz de tocar numa
campainha e pedir ajuda, a paralisação mental e física para tomar uma decisão
era total, no lado esquerdo apenas um extenso matagal que naquela escuridão projectava
sombras assustadoras o vento fazia agitar as folhas das árvores e
arbustos fazendo-as semelhantes a horríveis monstros que só via
na televisão, sim nos desenhos animados até era divertido, sentia no peito
o bater rápido do coração, não conseguia perceber mas sabia que tinha medo
muito medo.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Continuando a sua marcha no limite
das suas forças o vulto ia planeando:<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Ela leva trinta, quarenta
metros à minha frente, se eu fizer uma corrida, em menos de um minuto apanhou-a
e resolvo o problema antes que seja tarde demais, é a minha última tentativa,
depois desisto.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Iniciou a corrida de forma
desajeitada, não só pelo cansaço, mas também devido à sua estrutura física, um
esforço final e apesar do seu muito querer ia ter que desistir.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Não foi logo que ela notou da
corrida iniciada pelo perseguidor, porém logo que o fez, apoderou-se totalmente
dela o pânico, trazendo a si toda a coragem que ainda restava ganhou forças e
arrancou numa corrida a uma velocidade de que não se julgava capaz, rapidamente
alcançou o limite da sua rua, aquela que sempre lhe parecia muito perto mas que
agora estava a uma distância enorme, a rua continuava deserta a sua casa era
logo das primeiras bastava tocar que aquela hora a mãe sabia que era ela e
abriria o portão sem perguntar nada.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Ela era jovem e o monstro não,
ganhou uma vantagem confortável colou a mão a campainha e não a tirou de lá
enquanto a mãe não abriu, entrou de rompante batendo com estrondo o portão de
entrada, correu para a porta traseira de casa como habitual, e finalmente
libertando-se num choro nervoso e confusamente tentou contar o que se tinha
passado.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Naquela hora um tio e um primo
tinham passado em casa, deixaram-na acalmar e perceberam que um homem a tinha
perseguido, enquanto vinha para casa e que tinha começado a correr atrás dela,
mas ela conseguiu fugir.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Armaram-se cada qual com o seu pau
e vieram ver se na rua estava alguém, espreitaram do lado de dentro do muro com
cuidado de facto a escuridão não facilitava e eles não queriam acender a
iluminação da casa para não o espantar, num primeiro olhar não viram ninguém,
no entanto a jovem encheu-se de coragem e olhando bem ao longo da rua disse:<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- É aquele que esta ali encostado
ao muro ao fundo da rua, do lado direito.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
De facto ao fundo da rua
via-se alguém que apoiava as mãos no muro e que parecia respirar com alguma
dificuldade, como se tivesse feito um grande esforço e nesse momento estivesse
a tentar recuperar.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Tio e sobrinho pegaram nos respetivos
paus e deram uma corrida veloz em direção ao homem, que continuava a arfar numa
tentativa de normalizar a respiração.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Quando iniciou a corrida para se
tentar aproximar da jovem o homem não contou com a reação desta, mesmo assim
não desistiu queria ao menos saber onde ela vivia, no entanto longe de
diminuir, a distância foi aumentando tornando cada vez mais difícil cumprir
sequer o mínimo que se propusera, saber onde ela vivia, não desistiu e correu
até ao fim sabia que ela não o iria ouvir pois gritar e correr nas condições
físicas e principalmente com o peso que tinha, não era fácil, bem sabia que
precisava de exercício, mas não era aquela a ocasião para se lamentar, ou para
fazer propósitos para o futuro. O que mais temia aconteceu, na primeira rua à
esquerda ela virou e ele já levava um atraso considerável, só com sorte saberia
qual era a casa onde ela entraria, tentou mais um pouco.Com esperança reflectiu.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Talvez alguma iluminação durante a
entrada, permita identificar onde ela mora.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Por isso não desistiu, chegou
ao limite da rua olhou e viu tudo deserto nada de iluminação nada de pessoas.
Finalmente desistiu e permitiu-se um descanso apoiou os braços nas grades do
muro e foi respirando apressadamente precisava de tempo para normalizar os
batimentos do coração, precisava de tempo para normalizar a respiração, depois
pensaria o que fazer, subitamente notou um alarido e os seus olhos e sentidos
nem queriam acreditar, sentiu o choque de uma vara a atingir-lhe as costas e a
cabeça, sentiu uma forte pancada seguida de uma dor violenta junto a orelha o
sangue a correr pelo pescoço e gola do casaco, instintivamente virou-se
levantou os braços em protecção, com uma mão bem levantada segurando um objecto.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Quando se voltou, tio e sobrinho
ficaram espantados, olhavam para a pessoa e nem queriam acreditar aquela pessoa
a perseguir uma menina?<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- O Senhor não tem vergonha: -
Disseram.<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Vergonha! Vergonha! De quê? –
Respondeu espantando e incrédulo<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Então a perseguir uma rapariga
que podia ser sua neta? - Insistiram<o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Perseguir uma rapariga? Eu? –
Gritou desesperado <o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Eu queria era entregar-lhe este
telemóvel que ela deixou cair à saída da rua da escola. Como sofro de asma não
conseguia gritar para lhe chamar à atenção. <o:p></o:p></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Abriu a mão mostrando o telemóvel
novo que tinha sido oferecido nos anos à rapariga, e que ele reparara que caíra
quando a rapariga tinha tropeçado de encontro à parede.</div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Perante o olhar espantado, do tio e do sobrinho. <o:p></o:p><br />
<br />
<br />
Herminio<br />
<br />
<br /></div>
<br />
<div style="background: white; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-20288008091218238682016-11-17T04:43:00.000-08:002017-01-06T05:51:03.635-08:00O ENCONTRO <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-YprymTxrXKo/WC2llFZLZdI/AAAAAAAAAU4/zCtuBZRC6osHqdhkZhFma6PkOl-keT6WQCLcB/s1600/encontro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="222" src="https://3.bp.blogspot.com/-YprymTxrXKo/WC2llFZLZdI/AAAAAAAAAU4/zCtuBZRC6osHqdhkZhFma6PkOl-keT6WQCLcB/s400/encontro.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b><span style="font-size: 18pt; line-height: 150%;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: 18pt; line-height: 150%;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: 18pt; line-height: 150%;"> </span></b><br />
<b><span style="font-size: 18pt; line-height: 150%;"> O ENCONTRO <o:p></o:p></span></b></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br />
Ao entrar na rua, que conhecia mal e que lhe pareceu
decrepita e pouco recomendável, tentou localizar o café cuja morada tinha
recebido em mensagem no telemóvel. Para ela era uma aventura e sentia-se a um
tempo desconfortável e decidida. Nunca nos seus mais de vinte anos de casada
tinha ultrapassado esta linha de comportamento, que se convencionava ser normal
e exigido a uma mulher casada, mas estava decidida e levaria a situação até às
últimas consequências. A sua vida precisava de uma quebra de rotina, um pisar
do risco a que tinha sido muitas vezes tentada mas só agora estava decidida a
assumir. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Perto dos cinquenta anos, mantinha a linha e a frescura de
alguém que se cuidava, cabelo escuro e bem tratado, como prova de que nada era
deixado ao acaso, apesar da situação do momento um sorriso aflorava-lhe nos
lábios, um lábios bem desenhados, pintados de forma discreta dando-lhe um ar
subtilmente sensual, um olhar suave em que se notava um certo cansaço, no
entanto sabia-se atraente e todo o porte afirmava isso.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Estranhamente vestia fora de moda e ao lembrar-se da razão,
não deixou de voltar a sorrir, a insistência dele em que ela levasse uma roupa
semelhante à sua mãe parecia-lhe estranha e despropositada, pensou que se
era para passar despercebida o efeito era exactamente o contrário. Depois de
estacionar o carro, enquanto caminhava para o endereço combinado, sentia que
muitas pessoas a miravam com algum espanto pela forma que vestia.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Mesmo assim resolveu aceitar, sentia-se elegante e com uma
desenvoltura que não se imaginava capaz. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Discretamente atenta ao numero da porta, foi caminhando ao
logo da rua, o numero correspondia a um café mal identificado, e o nome quase
invisível parecia-lhe estranhamente insólito “ 4ª Dimensão”, a porta
encontrava-se semifechada e junto encontrava-se um cão bem tratado, de raça que
ela não conseguiu identificar, não era muito entendida em animais, nunca se
sentiu especialmente atraída para eles, o cão encontrava-se aparentemente a
dormitar, com uma coleira onde tinha escrito, “Blind” provavelmente o seu nome.
Com alguma cautela contornou-o, o animal nem pareceu nem dar pela sua presença.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Empurrou a porta e no limiar o telemóvel tocou, nesse
momento parou, hesitou, rodou ligeiramente o corpo, ficando de perfil para quem
a olhasse de dentro do estabelecimento. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Olhou para o visor do telemóvel, era ele. Atendeu a chamada
e suavemente a voz dele disse-lhe: </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Estás no local certo, podes entrar. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Porque ligaste?- Perguntou, mas já nada ouviu o telemóvel
desligou-se</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Pela primeira vez vacilou, a chamada tão abruptamente
terminada e o local, deixaram-na constrangida e perplexa. Ainda no limiar da
porta, parou um pouco na posição de perfil e lentamente voltou-se para dentro
do café, os seus olhos percorreram o estabelecimento, todo o cenário a
transportou-a a meados do século passado. No seu lado direito um longo balcão
em madeira, tal como todo o outro mobiliário, acompanhava o comprimento de todo
o espaço do estabelecimento, na zona do balcão, um móvel com prateleiras quase
vazias, apenas com algumas garrafas de bebidas espirituosas. Pouco iluminado o
estabelecimento permanecia numa penumbra simultaneamente assustadora e
atractiva. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
A uma mesa, logo no início do estabelecimento, de olhos
fixos num jornal, apesar da Televisão ligada, um homem que tinha o aspecto de
ter bem mais de setenta anos, parecia alheio ao que se passava à sua volta, a
presença dela não lhe provocou qualquer alteração de atitude, estava a ler o
jornal e nem a cabeça levantou. Ele encontrava-se ao fundo, de óculos escuros,
vestia um casaco castanho não usava gravata mas um laço, e era tudo o que
conseguia ver. Na mesa que se encontrava absolutamente vazia, ele mirava fixamente, resoluta caminhou em passos decididos.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Quando ensaiava uma saudação com um beijo na face, ele tirou as luvas pegou-lhe cerimoniosamente na mão e beijou-a com uma terna delicadeza,
oferecendo-lhe a cadeira do seu lado direito. Reparou que a cadeira de frente se
encontrava ocupada com o que lhe pareceu um computador, encostado ao qual se
via uma bonita bengala branca, na cadeira do lado esquerdo repousava uma pasta.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Sentou-se na cadeira vaga, enquanto ele voltando a
pegar-lhe na mão sussurrou, com ternura.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Obrigado por ter vindo, o meu coração rejubila de alegria
pela sua presença..</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Não percebo, porque me tratas com tanta cerimónia?-
Interpelou um pouco agressiva. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Observei-a quando entrou naquela porta. – Continuou,
ignorando as observações que ela fez. - O contraste entre a luz solar e esta
penumbra, delineou o seu corpo com uma beleza ímpar, ao ligar-lhe sabia que
instintivamente se viraria, assim também a observei de perfil, a luz solar ao
penetrar pelos seus cabelos soltos deram-lhe uma imagem com um encanto e
sedução absolutos. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Sentiu-se lisonjeada com as palavras que lhe pareciam em
desuso, mas pronunciadas numa voz terna e suave, ela ficou hesitante com a voz
em tom intimista, e um pouco intimidada sussurrou:</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Porque escolheste este sítio? Afinal é um local público,
não me sinto confortável, a presença de outras pessoas, incomoda-me e condiciona-me.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Pode ficar à vontade- continuou ele na mesma linguagem- O
empregado ouve muito mal, e este café é pouco frequentado a esta hora, além
disso combinei com ele, que com a sua chegada ele se retiraria. E já se
retirou.. se quiser reparar.. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Perplexa notou que de facto isso tinha acontecido. A pessoa
que se encontrava na mesa logo à entrada, já não se encontrava presente. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Estamos sós - Continuou enquanto se inclinava para ela com
suavidade, fazendo o coração bater e sentindo o rosto ruborescer – É mesmo
muito bonita, gosto da sua boca tem beleza e sensualidade, do tom e alegria da
sua voz, também admiro a sua atitude firme, com carácter. Entretanto se me permite deixe-me conduzi-la para um recanto onde descobriremos os caminhos que este encontro desbravará, e que nos levarão a um tempo
diferente e feliz. E não se preocupe este tempo e este espaço é apenas nosso. <o:p></o:p><br />
Levantou-se, pegou-lhe suavemente na mão, ajudando-a a levantar-se e em silêncio quase religioso, por um estreito corredor caminharam em direcção às traseiras do estabelecimento. Poucos metros depois, à sua esquerda ele abriu uma porta, estupefacta os olhos dela espraiam-se pelo espaço, estava em presença de um quarto bem amplo e confortavelmente mobilado; Uma cama semi-aberta, dois sofás, um mesa baixa, em cima da qual estava um ramo de rosas, uma garrafa de champanhe e dois cálices. Conduziu-a para um dos sofás e sentou-se no outro.<br />
O coração começou-lhe a bater com violência, tinha chegado o momento da consumação da sua aventura, sentiu-se ruborescer, e foi incapaz de articular nem palavras nem resistência.<br />
Ele fixou o seu rosto no dela, parecendo incapaz de mostrar qualquer emoção, pelo menos os óculos escuros impediam que ela conseguisse perceber o que ele sentia.<br />
- Não se preocupe faremos acontecer o amor a felicidade e o nosso mundo, num tempo sem pressas. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Enquanto ele com cuidado extremo ia abrindo a garrafa, como
se a tacteasse com a garrafa na mão num
ritual quase religioso, tomou os cálices verteu neles um pouco de champanhe,
oferecendo-lhe um , e tomando para si o outro. Levantou o seu.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-Brindemos ao futuro que o passado para onde viajaremos nos
construirá. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Sem compreender o significado daquela linguagem tão cifrada
e estranha, e com hesitação. Levantou o cálice brindando com ele, beberam ambos
vagarosamente do champanhe bem fresco, que a acalmou, e como que sussurrando:<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Não combinamos que nos trataríamos informalmente? -
Retomou ela.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Quero viver consigo um amor fora do tempo, entre
delicadeza e paixão. Temos ambos vidas estabilizadas e que nos dão segurança,
nós precisamos, eu preciso, de criar espaços e tempos de emoção. Mas não quero
perder a minha segurança e deduzo que também não quer perder a sua, manter
a nossa estabilidade e estatuto. Não só a estabilidade material mas
também a relação com os filhos e netos. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Ela hesitou antes de dizer alguma coisa, as palavras
ficaram presas na garganta, não se sentia capaz de articular coerentemente os
seus pensamentos.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Tinha-o conhecido pela NET, gostava do que ele escrevia, ao
fim de algum tempo mantinham conversas regulares, trocaram contactos a sua vida
tinha sido tocada pelas ideias dele, gradualmente sentiu-se presa a tudo o que
procedia dele. Não conseguia compreender, mas sabia, que desde o momento que o
conhecera, a sua vida ganhou cor e emoção. Não tinha a certeza de nada mas
decidira que tentaria entrar na aventura. A atitude dele a todo o ambiente que
rodeava aquele encontro parecia-lhe estranho, estranho demais, para quem como
ela, estava habituada à segurança a uma vida feita de rotinas, as palavras dele
não encaixavam bem no pensamento inicial que a levará até ali. Timidamente
articulou.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
-Não te compreendo, estás a propor-me para ser tua amante?<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
- Não querida amiga, não
seremos amantes, seguramente no sentido que lhe está a dar, seria uma
indignidade para o que sinto por si, e por certo não é aquilo que espera de
mim. O que lhe proponho é vivermos um amor diferente e intenso, viveremos
duas vidas, criaremos dois tempos diferentes, um tempo comum e um tempo só
nosso, no tempo comum viveremos a nossa rotina, no tempo só nosso será o tempo
do sonho da fantasia da imaginação, da entrega sem limites ou de espaço de
silêncio e meditação. Viveremos despojados de tudo o que nos lembrar este
tempo, no nosso tempo seremos outros, desfasados do tempo comum. E seremos
amantes no sentido mais nobre da palavra, amantes porque nos amaremos, viveremos
no tempo só nosso, num amor sem tempo. Não trairemos porque viveremos duas
vidas. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Parou de falar um pouco, tomou-lhe com delicadeza uma mão,
delicadamente, beijou-a demoradamente com uma surpreendente ternura, segurando
levemente a mão dela entre as suas, demorou-se numa caricia que para ela
pareceu não ter fim e que desejou que nunca terminasse.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Naquele momento estava longe de imaginar, no que aquele
encontro iria resultar mas sentia-se estranhamente bem.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Ainda não compreendia bem o que lhe estava a acontecer, quando
aceitou aquele encontro, seria uma aventura, um encontro entre duas pessoas
adultas, dispostas a ter uma oportunidade de experimentarem uma relação fora do
casamento, com o único fito de quebrar rotinas, e quem sabe dar outro alento à
sua vida de casada. Além disso era também uma oportunidade de provar a si
própria que não estava acabada e que era capaz de sentir o prazer do sexo em
toda a sua plenitude. No entanto todo o ambiente que ele proporcionou e todas
as suas palavras, transformaram toda a situação, e passada a surpresa inicial,
descobriu uma nova beleza e perspetiva neste encontro. Se inicialmente estava
insegura, agora tinha decidido tentar compreender o que ele imaginara,
sentia-se agora tentada a participar integralmente em tudo, sem reservas
e sem tabus.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Queria apenas compreender claramente a proposta que as
palavras dele sugeriam. Quando aceitou o encontro, não imaginou os contornos
que agora lhe pareciam ter. Para ela seria uma tentativa de redescobrir o
prazer do amor. O seu marido vivia obcecado pelos negócios, viviam entre eles
uma amizade serena, mas de que o amor estava ausente, mesmo quando se
entregavam sexualmente, não existia fogo mas uma espécie de cumprimento de uma
obrigação, que se tornava cada vez mais raro e quase sempre bocejante. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Tentou fixar-se nos olhos dele mas os óculos escuros
impediam-na. Nos contactos pela NET nunca tinham recorrido ao vídeo, apenas
fotos e troca de mensagens pelo chat de uma rede social. Mensagens que a foram
conquistando, o acesso às muitas fotos em que ele aparecia sempre muito formal
e com óculos, que agora sabia inseparáveis. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Enquanto ela se envolvia nestas conjunturas que lhe
ocupavam os pensamentos que a levavam-na a um beco por um lado apetecível por
outro assustador. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Ele despertou-a pedindo-lhe com ternura. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Posso beija-la?<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Sem esperar resposta colocou-lhe as suas mãos suavemente
nas faces, beijando docemente e demoradamente nos lábios, não ofereceu
resistência e deixou-se conquistar com aquele beijo sem comparação com os que
já tinha recebido. Não lhe procurou a boca mas apenas os lábios, como se a
quisesse saborear pela eternidade. Num impulso lançou-lhe os braços em volta do pescoço puxando a si numa entrega de que se julgava incapaz.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Gradualmente afastou-a, e calmamente foi dizendo.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Voltaremos a encontrar-nos, aprenderemos a amar-nos no
nosso tempo e no nosso ritmo. Construiremos um mundo só nosso e só nesse mundo,
nos encontraremos até ao êxtase da entrega física e espiritual. <o:p></o:p><br />
- Estas rosas- continuou ele com o ramo na mão- Transportam beleza e aromas, mas também alguns espinhos, não há flor que simbolize melhor o amor, sei que é uma frase comum, só a forma como tratamos da rosa e a oferecemos, tal como tratar dar e receber o amor faz a diferença. Querida com este ramo me entrego. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Parou de falar uns segundos, como para a deixar digerir as
suas palavras. Ela demorou a reagir e quando se preparava para balbuciar
algumas palavras, sem mais ele levantou-se e sem esperar resposta, tomou-lhe o
braço com doçura, e perante o espanto dela, conduziu-a até à porta. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Contactarei consigo, voltaremos a encontrar-nos. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Abriu
a porta e nesse momento o cão entrou, ela recuou como que receosa, no entanto o
cão entrou calmamente sem lhe ligar, despediram-se com um beijo na face. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Estranhado
a forma um pouco rápida e com alguma rudeza da despedida, na rua notou, que apenas
a ausência do cão, tornava o cenário diferente, a rua era de facto pouco
movimentada, apenas uma pessoa já com alguma idade caminhava no sentido onde
ela se encontrava, quase que se chocaram, fazendo-a reparar com espanto que na
montra do estabelecimento onde tinha estado se encontrava um cartaz já muito
envelhecido onde se podia ler, ENCERRADO VENDE-SE OU PASSA-SE e com um número
de telefone absolutamente ilegível. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Voltou
para trás, bateu com violência na porta, mas ninguém atendeu, o transeunte
despertado pelo barulho aproximou-se e perguntou. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
A Senhora procura alguém? Isto, está fechado, há mais de vinte anos, a minha
filha mora no andar de cima e não me lembro de ter visto por cá alguém. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Tem a certeza? – Arriscou ela</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Absoluta minha Senhora</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Mas ainda agora eu estive lá dentro, com duas pessoas. – Replicou ela com
veemência </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
O
transeunte olhou para ela com um misto de curiosidade e de comiseração,
relativamente nova, talvez menos de cinquenta anos, vestia de uma forma
estranha, não se enganava vestia, como se vestiria a avó dele, provavelmente a
senhora não estaria boa da cabeça, teria até fugido de um hospital
psiquiátrico, como não lhe parecia que ela corresse perigo, ou que viesse a
causar perigo a alguém, não tomou nenhuma atitude, além disso sabia que se
chama-se uma ambulância se meteria em confusões, limitou-se a dizer em tom de
conselho.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Talvez seja melhor a senhora voltar para casa e descansar um pouco, o cansaço
às vezes faz-nos confundir as coisas.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Atarantada com estas palavras virou as costas
ao homem e apressadamente começou a subir a rua sem saber que fazer nem pensar,
um arrepio agradável percorreu-a sentia ainda a doçura do beijo, no entanto
ficou com a firme convicção de não mais voltar àquele local. O telemóvel tocou,
era ele, atendeu e a voz soou pausadamente. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Não te preocupes, voltaremos a encontra-nos. – E desligou </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Dentro
do estabelecimento, em semi-escuridão, o cão Blinde e a outra personagem o
empregado, que sussurrando para não haver a mais pequena hipótese de ser
escutado do exterior. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Não o compreendo como é que o senhor que é cego convida esta mulher para um
encontro, se não a pode nunca conhecer nem sequer apreciar a sua beleza. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Está enganado eu vejo para além do exterior, voltaremos a encontrar-nos e ela
me descobrirá integralmente como eu a descobri a ela. Tome, o preço que
combinamos para abrir hoje..</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Disse-lhe
entregando um envelope que o homem nem conferiu. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Blinde – chamou dirigindo-se ao cão, enquanto pegava na bengala branca e
colocava a trela na coleira do pescoço do cão. </div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
-
Vamos, saímos pela porta dos fundos. <o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Quando se dirigia para a porta dos fundos com o cão pela
trela, parou, voltou-se para trás, e perante o espanto do velho empregado foi
dizendo.</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
- Quem lhe disse que eu que era cego?<br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
O velhote olhou para ele ainda mais espantado e insistiu.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
- Mas é cego ou não?<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Com um sorriso enigmático nos lábios, tocou com a bengala
no cão este recomeçou a andar, e saiu sem mais palavras. <o:p></o:p></div>
<br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<br /></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-43667544586011003672016-09-30T06:18:00.000-07:002016-09-30T06:38:18.319-07:00A PASSAGEM <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-neb57ts21ig/V-5lfVlCSvI/AAAAAAAAAUg/Qw5oX3ag530N3qXtniRYF0lIrshtlI_mACLcB/s1600/idosa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://1.bp.blogspot.com/-neb57ts21ig/V-5lfVlCSvI/AAAAAAAAAUg/Qw5oX3ag530N3qXtniRYF0lIrshtlI_mACLcB/s320/idosa.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 28.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 28pt; line-height: 42.9333px;">A PASSAGEM<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 28pt; line-height: 42.9333px;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Era Novembro e chovia, chovia intensamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Como de costume nas últimas semanas o Domingo era dedicado a visitar os pais, no apartamento onde vivia localizado numa urbanização incaracterística nos limites da cidade, mais pensado em arrumar pessoas do que em acolher famílias, não se via ninguém na rua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">No carro sentou-se cansada ao lado do marido, um cansaço mais mental que físico que a impregnava intensamente um sufoco de que não se conseguia libertar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Atrás, o filho mais novo bem preso à cadeira visivelmente incomodado pela liberdade do irmão, protestava sem parar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Encostou-se no banco e fechou os olhos, o marido virou cabeça e perguntou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">- Estás cansada?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Acenou com a cabeça que não, enquanto pelo espírito passaram as últimas semanas, uma em especial<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Naquele dia a mãe começara a falar, tão estranhamente que não esperava nem respostas nem reacções embora se lhe dirigisse, pois os olhos estavam fixos nela, sentia que não a chegava a ouvir nas suas respostas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Num recomeço a mãe recostou-se no espaldar da sua cadeira, enquanto tinha falado as costas um pouco separadas do encosto, como quando alguém intervém publicamente numa tertúlia, ou numa orquestra um instrumentista antes de chegar a sua vez se ergue levemente na sua cadeira, atento tenso para não se perder da harmonia, descansando as costas na sua nova posição para a surpreender com o volume o tom e a teia de preocupações insuspeitas até então. Recomeçou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">- Não fui capaz de vos educar, nem a ti nem aos teus irmãos, não fiz a passagem do que aprendi da minha mãe, nada vale tudo o que sabes se não entenderes a linguagem da natureza, a linguagem da terra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">As suas mãos desenhavam no espaço o gesto de quem rasgava a terra, um estranho bailado vindo de tempos ancestrais, as palavras saiam como se fossem definitivas as últimas as essenciais, havia urgência na sua voz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Nesse dia não tinha compreendido, mas o pai já a alertara: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">-A tua mãe anda um pouco esquecida, a médica de família marcou uma consulta para um neurologista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">O médico chamou-a: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">-É a filha mais velha?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> - Sim; respondeu<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">O médico ensaiou uma explicação com cuidado, tentando não a magoar, muito calmamente foi dizendo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">- A situação da sua mãe é complicada e vai requerer muita atenção compreensão e sacrifício de todos…..<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">O médico continuava a falar mas ela já não o ouvia, começou a lembrar-se de pequenas coisas, pequenos esquecimentos, situações que ao início achava graça, meter as caixas de fósforos no frigorífico, o peixe congelado na despensa, coisas com que a mãe invariavelmente se desculpava:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">-O teu pai não faz nada, é tudo para mim, que às vezes nem sequer sei onde tenho a minha cabeça, quando tinha a tua idade…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Custava-lhe a compreender, mas gradualmente, tudo ia ficando cada vez mais claro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">O barulho das escovas do limpa brisas, martelava-lhe a cabeça, e esse ruído se a incomodava ao mesmo tempo a monotonia do som provocava nela uma espécie de entorpecimento que favorecia, como se estivesse a assistir a um filme, à visualização dos últimos tempos da vida da sua mãe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> Uma mulher activa agarrada à vida e com uma saúde de ferro, insidiosamente e como se tivesse sido invadido lentamente por uma cortina negra, o seu cérebro, começou a dar mostras de falhar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">- Idade – pensava ela<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">-Idade- Diziam todos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">A viagem continuava apesar de a distância ser relativamente curta, naquela momento para ela parecia não ter fim. Continuava de olhos fechados, sentiu o carro parar e ouviu o marido dizer:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">- Chegamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Era Novembro e chovia, chovia abundantemente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Lá fora a mãe com um regador, junto ao muro da casa ia regando as pedras, com a aplicação de sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Compreendeu então a urgência das palavras daquele dia, a mãe antes de fazer a passagem para um mundo só dela, sentiu necessidade de lhe passar o testemunho acumulado nos tempos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;">Não se conteve e chorou, chorou copiosamente, juntando as suas lágrimas às gotas de água da chuva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"> Herminio<o:p></o:p></span><br />
<div>
<span style="font-size: 12pt; line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
</div>
</div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-56877512996828676202016-09-02T08:19:00.001-07:002016-09-30T06:39:11.427-07:00CASAMENTO PERFEITO .. <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-1V5WztDIDPI/V8mYJXacfOI/AAAAAAAAAUI/Tp8FdZ_YHtEEKLWJljZZcUimOFE2hedcACLcB/s1600/par.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-1V5WztDIDPI/V8mYJXacfOI/AAAAAAAAAUI/Tp8FdZ_YHtEEKLWJljZZcUimOFE2hedcACLcB/s320/par.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">CASAMENTO PERFEITO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Aquele era um
casamento muito singular, para quem conhecia os noivos diria que seria quase
impossível aquela combinação. No entanto ali estavam eles, a noiva com um
vestido verde, que logo na primeira aparição tinha causado um forte impacto
entre os convidados e mesmo no padre que celebrou a cerimónia, pelo inusitado
da cor, enquanto o noivo vestia um clássico fato. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Mas era bem
visível a genuína felicidade que transmitiam, todos os amigos e convidados
ignoravam, por entre tanta diferença qual o íman que tinha motivado aquela
decisão aparentemente tão apressada, em menos de dois meses, conheceram-se e
decidiram casar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Octávio, para
quem o observava, era uma pessoa muito formal, notava-se não só na forma de
vestir mas também no relacionamento com quem o rodeava. Exercia as suas funções
como Gestor numa empresa de Segurança e Transporte de Valores, com
profissionalismo e competência. A Administração tinha plena confiança em
Octávio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Havia apenas
um pequeno problema, o seu vício que lhe limitava o contacto directo com os
clientes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Nos
corredores da Empresa toda a gente falava em surdida, comentando como era
possível que uma pessoa com tão bom caracter e de comportamento exemplar, se
deixasse dominar tão fortemente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">O que é
certo, é que o problema começou relativamente cedo, filho único de uma família
de classe média, os pais notaram a sua obsessão bem cedo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">As consultas
de psicologia e mesmo de psiquiatria, grupos de auto- ajuda não tiveram os
resultados esperados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Nos momentos
de privação, o seu estado atingia pontos de verdadeiro drama, acontecendo em
qualquer lugar ou situação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Em casa
fechava-se no quarto e os pais já derrotados, esperavam que a crise passasse,
tinham já esgotado todos os meios e perdido a esperança de mudança. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">No emprego,
um dos Administradores testemunhou a intensidade de um momento de crise, com
espanto e perplexidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Octávio
levantou-se, tirou o casaco alivou o nó da gravata deitou as mãos ao peito,
súbitos suores lhe correram pelo rosto, imenso vermelhão lhe cobriu o corpo
todo, todo ele arfava, ouvia-se o bater do coração, já nada contava, via-se que
precisava urgentemente, de satisfazer essa necessidade que o atormentava, o
Administrador olhava-o pasmado, nunca a tal tinha assistido, tentou acalma-lo,
mas Octávio como um relâmpago e sem palavras correu para os lavabos
trancando-se dentro, quando regressou desgrenhado e a tentar compor-se parecia
mais calmo, envergonhado pediu timidamente desculpa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Inicialmente
a Empresa colocou a hipótese de despedimento, por incompatibilidade entre o
comportamento e as funções. Mas avaliando as qualidades profissionais de
Octávio, apesar desse problema, foi encontrada a solução em que não teria nunca
contacto com os clientes, mas continuaria a exercer as funções numa sala onde
estaria só e com acesso directo a uma casa de banho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Octávio
continuava a viver na casa dos pais, com 35 anos não se lhe conheciam grandes
amizades e as suas saídas ao fim de semana era para fingir perante os pais que
tinha amigos, normalmente jantava fora e ia à última sessão de cinema. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Jantava quase
sempre no mesmo restaurante, pela calma que o movimento moderado lhe garantia,
escolhia uma mesa discreta que lhe permitia observar todo o estabelecimento e
acessibilidade fácil aos lavabos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Num sábado e
contra o habitual o Restaurante estava com movimento inusitado, a mesa que
sozinho ocupava era pequena e permitia apenas dois clientes, nunca seria
incomodado pelo grupo de pessoas que se encontrava à espera. Por isso sem
grande preocupação esperava que o empregado confirmasse o habitual prego no
prato. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Inopinadamente
ELA entrou com uma exuberância incomum, deitou um olhar à sala, cumprimentou
efusivamente um empregado, dirigiu-se resolutamente para a mesa onde estava
Octávio e ao mesmo tempo quer se sentava ia dizendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Dá licença
que me sente ao seu lado? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Octávio entre
espantado e deslumbrado, sem tempo nem condições para recusar, acenou que sim.
Enquanto ela ia dizendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Venho aqui
muitas vezes, gosto deste sitio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;"> - Venho cá todos os sábados e nunca a vi. – Ia
ele pensando mas sem abrir a boca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Mas aos
sábados nunca cá venho, hoje não tinha compromisso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Sendo assim
… - Pensou <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Iniciou-se um
tempo de silêncio, em que discretamente se iam observando, melhor ele
discretamente ela sem qualquer constrangimento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Octávio reparou
que ela tinha as unhas da mão um pouco maltratadas e fixou-as demoradamente,
tempo de mais, ela notou esse interesse. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Sabe, não
consigo resistir, mordo as unhas compulsivamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">E sem se
deter nas palavras continuou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Já que
vamos jantar juntos, e hoje esta demorado, eu sou a Liliana e você como se
chama?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Octávio -
respondeu timidamente e ainda sem conseguir disfarçar o deslumbre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Felizmente
antes de sair tinha-se fechado no quarto e dado asas às suas necessidades,
tinha a certeza de que não teria, pelo menos tão cedo, nenhum ataque de
ansiedade que o levasse a sair.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Por outro
lado Liliana era bem desinibida o que impediu tempos de silêncio
confrangedores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Que vai
jantar? – Perguntou acrescentado - O arroz de Pato cá é delicioso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Acho que
vou escolher isso- Respondeu Octávio não sabendo ainda como reagir, mas tendo o
cuidado de fazer sinal ao empregado, enquanto dava uma falsa olhadela ao Menu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">O jantar
correu bem, a conversa atingiu fluidez, Octávio contagiado por Liliana
desinibiu-se, soube que Liliana era Relações Públicas numa Empresa de
Transportes Aéreos, acabaram por ir juntos ao cinema, no local bem perto do
Restaurante por isso foram a pé, aproveitando para conversar e se conhecerem,
Liliana riu-se quando Octávio disse que ainda vivia com os pais, e riu-se mais
ainda quando ele disse que como já era um pouco tarde, tinha que lhes
telefonar, a dizer que ia mais tarde que o costume. Ela vivia só, num T1 bem
perto do Centro da cidade, e bem próximo do local onde se encontravam. No fim
do filme a noite estava agradável, convidava a um passeio pela larga avenida, a
companhia parecia agradar aos dois, naturalmente continuaram juntos em conversa
com registo mais suave e intimista. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Queres
tomar um café? - Sugeriu Liliana<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">-Pode ser-
Respondeu Octávio.- Mas a esta hora não vai ser fácil de encontrar café aberto.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Claro que
vai fácil, moro a menos de cinco minutos, tomamos em minha casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">As coisas
levavam um caminho a que Octávio já não estava habituado, o seu problema
acabaria por ser visível começou a ficar tenso, desejava prosseguir mas tinha
de facto muito receio. No entanto resolveu arriscar, não seria a primeira
situação desoladora na sua vida, até estava habituado de mais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">O apartamento
em que Liliana vivia localizava-se num terceiro andar numa zona bem aprazível
embora de construção não era recente, disponha de elevador. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">No elevador
Octávio ficou ainda mais tenso, Liliana reparou mas ignorou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">No hall de
entrada havia um bengaleiro, Liliana sugeriu-lhe para colocar lá o casaco,
aproveitou tirou a gravata, sentiu-se momentaneamente mais desafogado. O
apartamento tinha um ar condizente com Liliana, expansivo e a convidar à
descontração, na sala relativamente pequena, um móvel com algumas prateleiras com
CDs, livros e um pequeno bar, havia outro com aparelhagem de música e uma TV.
Finalmente um único sofá para duas pessoas um puf e uma pequena mesa de apoio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Vou
preparar o café, serve-te do uísque, trago já gelo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Octávio ficou
só a pensar naquela improvável situação, ignorava o que ia acontecer mas sabia
que não ia aguentar mais tempo a ansiedade que o tomava. Dois desejos o
percorriam, aquele que tornava a sua vida num inferno, mas lhe apaziguava o
espirito, e o de viver com Liliana uma noite de amor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Liliana
chegou, com o café e o gelo. Tinha trocado de roupa, trazia vestido uma leve
túnica, ela estava mais sensual. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Liliana puxou
o puf, para junto do sofá, sentou-se ao lado dele, sacudiu o calçado dos pés,
colocou os pés no puf, a túnica subiu-lhe ligeiramente nas pernas, sem que ela
fizesse nada para o evitar, confortável com a situação. A visão daqueles pés
toldou o raciocínio de Octávio, um pés lindo e umas unhas que o fascinavam, não
resistiu, levantou-se bruscamente ajoelhou ao pés de Liliana e começou a
beija-los, sôfrega e ardentemente. Esqueceu-se de tudo, dos seus medos e da
possibilidade de mais uma vez tudo terminar mal. Um som difuso chegou aos seus
ouvidos parecia-lhe uma queixa, um gemido, por um segundo hesitou, mas aos
ouvidos um sussurro chegava:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Não pares,
continua não pares… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Continuou os
seus dentes acariciavam as unhas com paixão, cedo descobriu que debaixo da
túnica apenas um corpo nu. ……….<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Acordou junto
a ela, ambos ainda nus, já era bem tarde pela persiana os raios de sol irradiavam. Os lenções mais os descobriam que
tapavam, percorreu com o olhar todo o seu corpo, nos pés algumas unhas
totalmente ruidas ao limite, sentiu medo como reagiria ela? Lentamente ela
despertou, olhou nos olhos, com uma imensa paixão e sem que ele espera-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">- Queres
casar comigo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;"> Delirou, soube que ela era a mulher que sempre
desejava, tinha a certeza que ela o aceitava tal e qual era, que naquele
momento o poder que a atração das unhas exerciam sobre ele, não seriam um
impedimento a uma relação, não teria mais que praticar uma espécie de onanismo,
mordendo as unhas dos seus próprios pés, por isso gritou<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">-SIM .<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Arial; mso-hansi-font-family: Calibri;">Sentido os
dentes dela a morder-lhe as unhas das mãos, sorriu, sabia que a ONICOFAGIA
seria vivida a dois.. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-42614417441562547322016-08-05T09:52:00.000-07:002016-09-30T06:39:47.370-07:00CHOQUE <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-2Al9_W4t_pc/V6TDu274V9I/AAAAAAAAASA/Egf4ROdeFY8dX_PyQ4V0gSaSVoaKI3RhgCLcB/s1600/imagem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="166" src="https://4.bp.blogspot.com/-2Al9_W4t_pc/V6TDu274V9I/AAAAAAAAASA/Egf4ROdeFY8dX_PyQ4V0gSaSVoaKI3RhgCLcB/s320/imagem.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 18.0pt; line-height: 115%;"> </span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 18.0pt; line-height: 115%;"> CHOQUE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Sofia, responsável
pela cozinha e cantina daquela escola, todos os dias desde de há alguns meses à
hora de almoço se encontra junto ao balcão de distribuição das refeições, os
estudantes como sempre chegam aos magotes fazendo a algazarra do costume. No entanto
há nela um silencioso desespero. Trinta e cinco anos, uma confortável vida
familiar, marido, filho, situação económica razoável, tudo circunstâncias para
uma vida feliz. Desde já há alguns meses, que sentimentos caóticos e absurdos
habitam dentro dela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Enquanto ela se
debatia com as suas angústias, na televisão em rodapé passava uma notícia: PROFESSORA
ACUSADA DE ASSEDIAR UM ALUNO. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Como se tivesse sido
atravessada por um raio o seu coração bateu mais aceleradamente, e um
sobressalto a percorreu. Não se conseguia libertar dos pensamentos confusos que
a percorriam, tanto mais que se considerava bem racional e com capacidade de
discernimento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">E o que sentia era
tudo menos racional, na aparência sem explicação, em alguns momentos já tinha
desistido de lutar contra esse sentimento que a levava ao desespero. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Lembrava-se bem da
primeira vez, que verdadeiramente nunca existiu, mas que para ela lhe pareceu
bem real. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Como acontecia
frequentemente, sempre que estava presente na hora das refeições, costumava dar
uma ronda pelas mesas, tentado perceber da aceitação do que tinha sido confeccionado
e servido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Naquele dia os seus
olhos repousaram e cruzaram-se com os olhos de um aluno de uma forma intensa
que a obrigaram a afastar-se abruptamente. Um sentimento de culpa a percorreu
sem ela perceber bem a razão. Era uma patetice, afinal estava diante de
praticamente uma criança quando muito um adolescente, mas quanto mais pensava
nisso, mais obsessivamente a imagem do aluno a perseguia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">E a televisão a
continuar a passar em rodapé: PROPESSORA ACUSADA DE ASSEDIAR UM ALUNO. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Nesse dia saiu mais
tarde um pouco, conferiu com as funcionárias da cozinha os produtos existentes
no armazém e nas câmaras frigoríficas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Chegou ao carro
ligou a rádio e a maldita notícia continuava: PROPESSORA ACUSADA DE ASSEDIAR UM
ALUNO. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Estava a chover era
Janeiro e àquela hora do dia, passava das 17.00, já se fazia noite. Mudou de
sintonia e ouviu uma música de a romântica. Fechou por um pouco os olhos.
Recostou-se no banco do carro e ficou um tempo embalada pela música que ia
ouvindo, parecendo-lhe que não tinha mais fim, a chuva continuava a cair
fazendo-a sentir sonolenta, não era capaz de dizer quanto tempo esteve assim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Subitamente alguém
bateu no vidro da porta do carro. Sobressaltada virou-se para ver quem era,
espantou-se ao ficar olhos nos olhos com o aluno que lhe invadia os sentidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Sente-se mal? –
Perguntou ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">-Não – Respondeu a
medo- Adormeci com a música. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">A chuva batia no pára-brisas
com alguma intensidade, o rapaz estava encharcado, hesitante perguntou-lhe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Estás à chuva, não
tens guarda-chuva? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Não, e o autocarro
da escola já partiu, o problema é que moro bem longe. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Com uma firmeza que
ela própria não esperava disse-lhe:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">-Vais ficar
encharcado, ainda ficas doente, entra para o carro, eu levo-te a casa afinal
não deve ser assim tão longe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">O rapaz hesitou mas
as alternativas eram poucas, tinha-se distraído na biblioteca, no PC na sua
ocupação preferida, a internet. Um furo pela falta de um professor, faltava
ainda muito tempo para novo transporte escolar, e sabia que os pais ficariam
preocupados se não chegasse à hora habitual por isso aproveitou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Entrou, sentou-se,
apesar de novo era bem alto, o coração de Sofia começou a bater mais rápido,
sentiu-se ruborizar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Com uma audácia que
a surpreendeu colocou a mão em cima da perna do rapaz, dizendo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Estás mesmo muito
molhado, diz-me onde moras, para eu te levar a casa. E já agora, como te
chamas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Sou o André, moro
junto ao rio, antes da ponte. Sou do 9º D, daqui a pouco faço 15 anos. Acrescentou
como quem diz uma ladainha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">A mão hesitava em
sair e foi deslizando pela perna cada vez mais audaciosamente, ele dava a
sensação de estar incomodado, não percebia o que estava a acontecer. A idade de
André martelou-lhe a cabeça, 15 anos!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Ela sentia o corpo
dele quente apesar da ganga das calças estar encharcada, sabia-lhe a um quente
ainda mais sensual. Inadvertidamente puxou o seu banco para trás, ficou com
mais espaço, virou-se para ele e abruptamente puxou-o para si e beijou-o intensamente.
O rapaz parecia perdido e atónito, sem saber como reagir, a língua de Sofia
procurava a boca do jovem, este parecendo vencer a surpresa ofereceu a sua boca
aceitando toda a paixão que Sofia transmitia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">A chuva continuava,
a noite tinha chegado e este momento parecia não ter fim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Subitamente alguém
bateu no pára-brisas do carro, Sofia despertou da paixão de que estava tomada,
assustou-se e espantada viu-se só.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Lá fora, uma noite
clara de luar fazendo jus ao ditado popular, sobre o luar de Janeiro, estava o
jovem que se dirigiu para a porta do carro que com ar preocupado, ficando
espantado pelo que via foi dizendo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">-Perdi o transporte
escolar e tenho que ir a pé para casa, reparei que a senhora parece não estar
bem, como se lhe tinha dado alguma coisa, posso ajudar? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">A saia subida na
coxa, a blusa desapertada, incapaz de compreender o que se passava, Sofia
sentiu que tinha enlouquecido, era um sonho antes ou agora? Sem saber o que
dizer, com as palavras presas na garganta, balbuciou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Senti-me um pouco
indisposta, mas já passou. – Maquinalmente ia compondo o vestuário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Continuava
desorientada e aturdida com a situação, sabendo do absurdo e sem sentido das
suas palavras perguntou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Não choveu hoje?
Como te chamas? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">O jovem não
compreendendo a razão das perguntas, olhou para ela perplexo, corando enquanto
a via compor a roupa, acabou por dizer:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Não, hoje estive
sempre sol e frio, mas chuva não. Sou o André, vou fazer 15 anos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">O seu olhar não saía
dos seios de Sofia, envergonhado fingiu olhar para a lua, dando-lhe tempo para
ela se arranjar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Sofia sem saber como
reagir, não sabendo se vivia agora o sonho ou se o tinha vivido antes, a
sensualidade ainda a percorria e a presença de André era para ela um misto de
tentação e vergonha, pudor e audácia. Era adulta tinha obrigação de ser mais
responsável, além de mais notou o constrangimento de André, sentindo-se
obrigada a dizer:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Senti-me mal mas
já estou bem obrigada, pela tua atenção, se quiseres levo-te a casa até porque
já é tarde e não me custa nada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Em silêncio
percorreram os cerca de dois quilómetros que separavam a escola da casa de
André em poucos minutos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Este indicou a casa,
Sofia parou e despediu-se com um beijo provocador e, propositadamente, bem
perto da boca dele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Arrancou
vagarosamente verificando pelo retrovisor que o jovem ia olhando para o carro
enquanto se afastava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">À chegada a casa,
naquele dia o marido que já lá se encontrava, vendo que ela vinha só, perguntou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Não trouxeste o
João? Queres que o vá buscar? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">A resposta dela foi
repentina e sôfrega, mais em gestos que em palavras, beijou-o ardentemente,
começou a despir-lhe a camisa e arrastou-o até ao quarto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Enquanto revivia
esses acontecimentos sentia que a figura de André permanecia cada vez mais
dentro de si, no entanto tinha sido incapaz de se lhe dirigir, sentindo porém
que ele a observava essa sensação lembrava-lhe, que os seus sentimentos eram
sentimentos proibidos, porque era casada e porque se tratava de um menor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">E pensava, pensava
no estratagema que tinha usado, numa última tentativa de um contacto com André,
sentia o pulsar do coração, o telemóvel dizia-lhe que tinha resultado, uma
curta mensagem: Gostava de falar consigo, André.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Dirigiu-se para o
seu gabinete. E ao passar pelo quadro onde constavam as ementas semanais, olhou
para uma folha A4 que mandara colocar com o seguinte aviso. “TODOS OS ALUNOS
QUE TENHAM ALGUM REPARO A FAZER NAS EMENTAS DESTA CANTINA, CONTACTEM A
RESPONSÁVEL PELO TELEMÓVEL… “ E o número do seu telemóvel pessoal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Chamou a funcionária
para lhe transmitir indicações, sentiu na voz toda a ansiedade do momento, pela
sua cabeça passavam desejos incontidos, reparou no rosto espantado da
funcionária enquanto lhe dizia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">- Um aluno
contactou-me por isso enquanto o estiver a atender, não estou para ninguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Vestia a mesma blusa
propositadamente, sentou-se, desapertou dois botões, cruzou as pernas subiu
ligeiramente a saia e esperou. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt;">De mão dada com uma
colega de turma, André entrou na sala. E o mundo desabou sobre Sofia. <o:p></o:p></span></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-49929189254790135742016-06-27T03:44:00.001-07:002016-09-30T06:40:16.296-07:00A MOCHILA <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-y3NVvZUAqIw/V3EC3fArozI/AAAAAAAAANo/AEy0Kbe4-fovRjmzZhYSlHX0aJRLn04iQCLcB/s1600/mochila.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="241" src="https://3.bp.blogspot.com/-y3NVvZUAqIw/V3EC3fArozI/AAAAAAAAANo/AEy0Kbe4-fovRjmzZhYSlHX0aJRLn04iQCLcB/s320/mochila.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
A FABULOSA VIDA DE MATILDE</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
A MOCHILA </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Matilde
cumpria o ritual do costume, dirigia-se para a paragem do autocarro que a
levaria de volta a casa, ainda era muito cedo, entre o fim das aulas e o
horário do autocarro o espaço temporal era muito, para ela o tempo sem ocupação
era sempre muito, não era muito dada a ócios, mas a espera trazia algumas
vantagens, normalmente aproveitava para anotações na <i>tablet</i> como uma espécie de diário onde ia escrevendo os
acontecimentos do dia com alguma frequência. Ou então fazia uma ou outra
chamada do telemóvel, quase sempre para alguém de quem tinha alguma saudade,
apenas para ouvir a voz dessa ou dessas pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Ao
chegar à paragem do autocarro localizada no limite de um pequeno jardim que em
dias de bom tempo atraía algumas pessoas, que aproveitavam o fim de tarde para
um passeio, Matilde sentou-se no banco colocou a mochila no chão pegou na
garrafa de água bebeu um gole, respirou fundo e ficou indecisa entre marcar
para as pessoas de quem tinha saudades, e as suas anotações. Decidiu-se pelas
anotações das impressões do dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">“Passamos
o dia na faculdade - eu, a mochila, e a garrafa d'água. Como quase todos os
dias, nos últimos anos da minha vida. Aos fins-de-semana, quando todos os meus
amigos e todos os estudantes voltam a casa: para os namorados o descanso e
almoços em família, a cidade ficará mais vazia, de caras conhecidas. Nos
domingos as lojas terão mais clientes mas eu não saberei, ainda não passei aqui
um Domingo, os cinemas talvez esgotem, mas isso não é da minha conta--
invariavelmente eu escolho esta paragem, pouco frequentada, uma vez que fica um
pouco longe da faculdade, esta escolha permite-me a liberdade de registar estas
minhas impressões, a paragem fica perto de um jardim. Já são alguns anos desta
rotina, o tempo parece ter parado, o cenário é o mesmo: pais, mães, bebés e
máquinas fotográficas, crianças encantadas com as árvores, desastradas entre as
flores, espantando os pombos e admirando os patos que num pequeno lago se movimentam
serenos. O jardim não tem o cheiro verde-escuro da pinha, nem caruma dourada no
chão. Mas tem palmeiras bem altas, que rasgam o céu azul até onde o olhar
alcança. É isso que me atrai neste espaço: a segurança de uma certa eternidade.
Da minha posição de observadora, neste dia primaveril mas já bem quente, um
quiosque é alvo de uma intensa procura, o motivo são os gelados a que as
crianças não resistem e a que os pais desistiram de negar aos seus pedidos
insistentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">O
quiosque dos gelados não fica longe do local onde me encontro, subitamente
apetece-me saborear um de chocolate, afinal também mereço, por isso vou
interromper aqui as minhas divagações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Matilde
desligou a <i>tablet</i>, levantou-se
dirigiu-se com um passo muito rápido para o quiosque. Em fila estavam algumas
pessoas que aguardavam pela sua vez, sabendo o preço do gelado da sua
preferência preparou o dinheiro para evitar a demora dos trocos. Em frente ao
quiosque algumas mesas serviam de pequena esplanada com uma televisão para a
qual as pessoas olhavam distraidamente. O atendimento estava demorado, como de
costume as crianças estavam sempre indecisas na sua escolha e os pais ferviam
de impaciência, preocupada Matilde tentava perceber o tempo que ainda demoraria
a ser atendida, em rodapé na televisão passava uma noticia, infelizmente
demasiado comum neste tempo, a Polícia de uma localidade que não conseguiu
identificar, tinha sido chamada por causa de uma mochila abandonada e que
levantou suspeitas, acrescentando que a mochila parecia libertar algum tipo de
gás, aparentemente inócuo para as pessoas, ou pelo menos sem consequências
graves, mas já tinha causado a morte pelo menos a algumas aves, aconselhavam
ainda às pessoas utilizarem mascaras protectoras para a respiração, ou perante
casos de dúvida colocarem no nariz pelo menos um lenço molhado como filtro de respiração.
Ao ver essa notícia notou que se tinha esquecido da sua mochila na paragem do
autocarro, aflita saiu da fila e dirigiu-se para lá a correr. Ao chegar à
paragem notou que as poucas pessoas que lá se encontravam tinham o nariz
protegido com um lenço e olhavam de forma estranha para a mochila que junto à
qual se encontrava um pássaro morto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Alguém
lhe tocou no ombro como que alertando:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"> -Tenha cuidado a televisão tem alertado que
estão a espalhar mochilas com gás venenoso e que um dos sinais são pássaros
mortos. Pelo sim pelo não coloque um lenço no nariz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Matilde
sem coragem de dizer que a mochila era dela e que não tinha gás nenhum, foi-se afastando
cautelosamente sem saber o que fazer. Enquanto se afastava atarantada começaram
a fazer-se ouvir sirenes da polícia a sinalizar urgência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Subitamente
sentiu um braço sobre os seus ombros, uma sensação estranha não física, mas
como se tivesse sido envolvida por uma maciez de pluma, leve e amorosa um
aconchego que lhe sossegava a alma, enquanto uma voz carinhosamente lhe dizia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
Não te preocupes Matilde, como sempre te prometi eu estarei contigo sempre que
alguma preocupação te assalte. Hoje é o dia, estou aqui para te ajudar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Os
seus olhos abriram-se de espanto a pessoa estava envolta num misto de neblina e
aura, a sua voz era-lhe claramente familiar o desenho ténue do seu rosto
também, mas era incapaz de dizer alguma coisa e muito menos de pronunciar o seu
nome.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
Estás espantada? Vamo-nos retirar calmamente deste local. Deixar as coisas
acalmar, nada vai acontecer, vais ver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-Tenho
medo, vi as notícias e junto à minha mochila está um pássaro morto. Quero fugir
daqui para longe, tenho muito medo. Como vieste até aqui? Porque não sou capaz
de te ver? Porque te vejo de forma difusa como num sonho?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
Quem sabe se eu estou aqui entre o sonho e a realidade, mesmo que seja sonho
para ti é realidade, se for realidade estar contigo considera uma bênção, se
for sonho preciso de estar aqui para te libertar das angústias do que para ti é
um pesadelo. Não sou eu o teu protector?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-Claro
que és, não me perguntes a razão, mas tenho medo de ir buscar a mochila com
esta gente toda, e com o pássaro ali, mas sei que para ir buscar a mochila
preciso de ir a Santiago de Compostela, preciso que vás comigo até lá?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-Não
te preocupes a felicidade consiste em estar e não em ser, estar no caminho
certo, estar no coração de quem amamos, estar com o coração de quem amamos, não
importa a distância, tomaremos o transporte para Santiago, um transporte com um
dom especial desloca-se no tempo e não no espaço. A nossa viagem será uma
viagem em espírito. Tens que confiar em mim e envolver-me num abraço. Só um
abraço de amizade nos transporta onde desejamos estar. Cumpriremos todos os
teus sonhos, e todos os rituais que o teu espírito pede.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
Leva-me daqui Amigo, deixa-me abraçar-te, abraça-me. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"> Matilde anichou-se nos braços do seu Amigo,
que a cobriu com os seus braços, fechou os olhos sentiu que era conduzida como
uma cega, enquanto o Amigo se lhe dizia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-Mantem
os olhos fechados e o espírito aberto, eu te conduzirei, pelos caminhos, que te
devolverão à luz e à tua paz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Matilde
sentiu que se movimentava, mas era uma movimento de uma forma estranha mais do
que a deslocação do corpo era o espírito que pairava, e num tempo sem tempo
estava em Santiago de Compostela, cumpriu todas as tradições, o Amigo não
estava visivelmente presente, mas sentia o seu abraço e a sua protecção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Subitamente
sentiu-se transportada de volta, não na paragem do autocarro, mas no seu
quarto, não compreendia o que se tinha passado, também não compreendia a
inesperada presença do seu Amigo para a confortar, ainda compreendia menos a
sua súbita chegada a casa, não sabendo o que tinha acontecido à mochila e ao
pássaro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Sentindo
ainda o conforto do abraço do Amigo puxou um pouco a roupa da cama ao corpo,
pois apesar da temperatura amena sentia o fresco da manhã. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Tentado
libertar-se das preocupações ia saboreando esses momentos, quando ouviu a voz
da mãe:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
Matilde que ideia foi essa de pegares no meu porta-chaves de casa, e o
pendurares na tua mochila?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
Que porta-chaves mãe? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
O que tem a forma de um pássaro. A mochila está na sala não te esqueças de
deixar o porta-chaves.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">-
Não, não me esqueço não, mãe…<a href="https://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a> Eu deixo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;">Matilde
respirou fundo começou a levantar-se enquanto se ia lembrando do Amigo. Pensando
que era bem certo "que quem encontra um amigo encontra um tesouro". <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-11640497830379905392016-05-24T04:06:00.000-07:002016-09-30T06:41:06.452-07:00O HOMEM QUE APRENDEU A LER VERSOS.. <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-GtdIRSgWbiU/V0Q1PRYOE1I/AAAAAAAAANY/dn17dooxScQcqGkUP2Q5ZRgkyd_eaBc6gCLcB/s1600/LER.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://2.bp.blogspot.com/-GtdIRSgWbiU/V0Q1PRYOE1I/AAAAAAAAANY/dn17dooxScQcqGkUP2Q5ZRgkyd_eaBc6gCLcB/s320/LER.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 18.0pt; line-height: 115%;">A FABULOSA VIDA DE MATILDE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"> O HOMEM QUE APRENDEU A
LER VERSOS<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Matilde encontrava-se,
contra sua vontade e arrastada pela mãe, num consultório de um velho médico,
sobre quem se constava, que sabia ler sonhos, sendo também capaz de curar quem
deles padecia. Matilde bem tentou resistir, pois vivia bem com o seu sonhar,
sentia-se bem a navegar nesses mares estranhos. Mas agora estava com a mãe no
consultório, reparou que por detrás de um pequeno balcão se encontrava uma
empregada, já com alguma idade e com um rosto seco e duro, via-se que não era
uma pessoa feliz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tinham chegado bem
cedo, o sono e o tédio ou o tédio e o sono apoderaram-se dela, recostou-se no
espaldar da cadeira fechou os olhos. E manteve-se em silêncio, durante um tempo
que lhe pareceu bem longo, sentiu um ritmo cadenciado de passos no piso do
consultório, mas nem assim abriu os olhos. Uma mão bateu-lhe no ombro, enquanto
lhe soava uma voz aos ouvidos:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- A menina é que é a Matilde?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abriu os olhos,
reparou espantada numa negra bem gorda, idosa e sorridente, que repetiu:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- A menina é a
Matilde?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ficou atarantada,
olhou para o lado procurando o amparo da mãe, reparou que a mãe não se
encontrava a seu lado, não compreendeu porque é que a mãe tinha saído sem lhe
dizer nada. Gaguejando com a atrapalhação foi dizendo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Sim sou a Matilde, a
minha mãe deve estar a chegar. - Tomou fôlego e acrescentou de seguida: - Mas a
senhora não estava aqui há pouco, a senhora não trabalha aqui.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Menina, eu moro no
sítio dos sonhos, vivo em todo o lado onde ainda se sonha. A Menina sonha, por
isso vivo em si. Além disso o meu Menino ajuda o senhor doutor, o meu Menino
escreve sonhos. - Depois tomando ares de funcionária- Tenho que fazer umas
perguntas antes do Sr. Doutor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A negra foi
perguntando, reperguntado, Matilde foi respondendo com paciência, e com a esperança
que entretanto a mãe chegasse, aflita pela demora da mãe, e intrigada porque a
negra nada apontava, encheu-se de coragem e atirou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- A senhora perguntou
tantas coisas e não apontou nada?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Mas eu não sei
escrever em papel, escrevo na alma, agora o Sr. Doutor já tem tudo que precisa
saber. -<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Respondeu a negra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Matilde pasmou com a
resposta e a mãe sem chegar, ora ela também não era nenhuma criança, iria
sozinha à consulta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A negra dirigiu-se à
porta do gabinete médico e disse bem alto:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Doutor a menina está
pronta! - depois virando-se para Matilde - Pode entrar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Resoluta, Matilde
entrou no gabinete do médico, que como lhe tinham dito era já bastante velho e
parecia entretido a ler uns cadernos com ar envelhecido e numa letra bem
bonita, muito mais bonita do que a dela. Ao entrar balbuciou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Boa tarde. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O médico levantou
lentamente a cabeça, observou-a, sorriu levemente, e com um tom de voz suave e
cheio de ternura:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Bem-vinda Matilde,
sei o que te traz aqui: sabes sonhar, eu também desde que aprendi a ler versos.
Aprendi a ler com este menino há muitos anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A sua mão direita
estendeu-se, como a apontar para alguém, que para Matilde não era visível,
embora sentisse a aura de uma presença misteriosa. O médico estendendo a mão
esquerda continuou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Antes de aprender a
ler versos eu era como esta savana, em plena época seca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aos olhos de Matilde
apareceu de repente um imenso espaço árido e desértico com raros e espaçados
arbustos secos. O médico voltou a estender a mão direita e continuou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Os versos deste
menino, foram como gotas de água fresca na minha vida, mudando-a e tornando-a
assim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Perante o espanto de
Matilde onde antes estava um deserto apareceu um imenso espaço verdejante e
aprazível. O médico não se deteve, voltando à palavra:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Ele ensinou-me que
na vida existem estantes e canteiros, nas estantes estão as letras, sílabas e
palavras, nos canteiros sentimentos e emoções. É com isso que se fabricam
sonhos e versos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Respirou um pouco e
recomeçou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Quando o Menino
descobre um canteiro novo, vai em busca de novas palavras, buscando letra a
letra como quem reconstrói uma rosa, pétala a pétala, para fazer um verso vai
dentro da sua alma à estante das palavras, escolhendo-as como florista escolhe
flores, dando-lhes harmonia e vida. Foi assim que eu aprendi a ler versos. Pela
alma deste menino. E sei que tu me compreendes, pois se estás aqui é porque
descobriste o mundo dos sonhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Voltando a estender a
mão direita indicando a não presença de alguém, nessa sensível ausência, Matilde
vislumbrou alguém debruçado a escrever num caderno semelhante ao que o médico
folheava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Subitamente, com uma
energia inaudita, o médico levantou-se abriu os braços e apontando uma para
cada lado gritou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">-CANTEIROS ESTANTES,
CANTEIROS<a href="https://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a> ESTANTES.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Matilde ficou como que
magnetizada, os seus olhos olhavam para a esquerda e para a direita, o espaço
do consultório era infinito, de um lado uma imensa fila de estantes de altura
até ao firmamento e o comprimento a perder de vista, do outro numa planície que
se estendia para lá do horizonte milhares e milhares de canteiros com mil formas
e cores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Atarantada, percorrida
por um impulso irracional incapaz de deter, levantou-se olhou de frente o
médico abriu os braços e gritou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- CANTEIROS ESTANTES,
CANTEIROS ESTANTES. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Todo o seu ser, pertencia àquele mundo mágico
dos sonhos e dos versos, o seu mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No seu espírito o
espanto instalava-se, extravasava tudo o que até então tinha vivido, muda e sem
palavras, tinha perdido a capacidade de reagir, mas lentamente uma pergunta lhe
tomou os pensamentos: - Como é que seria a reação da mãe? - Como respondendo
aos seus pensamentos ouviu a voz da mãe e sentiu um forte puxão num braço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Matilde que estas
para aí a dizer? Que se passa contigo? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Embasbacada, aturdida
abriu bem os olhos, a mesma empregada magra e mal-encarada, a mãe de pé ao seu lado
agarrada ao seu braço, e ela sem saber que dizer. Salvou-a a voz estridente e esganiçada
da empregada que guinchou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Menina Matilde ao
consultório.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A mãe impaciente e
nervosa, arrastou-a para o gabinete do médico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- Que se passou? –
pensou- Será que sonhei outra vez?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entrou no consultório,
o mesmo velho médico a ler o mesmo caderno amarelecido, que levantou os olhos
da mesma forma, e perante o espanto da mãe, ergueu-se da cadeira abriu os
braços e gritou:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">- CANTEIROS ESTANTES,
CANTEIROS ESTANTES. <o:p></o:p></span></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-88899085244115820222016-04-28T12:13:00.000-07:002016-04-28T12:49:09.939-07:00O Mendigo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-sX6GDswsMPc/VyJgbWLaX_I/AAAAAAAAANI/e-2Mb_Ab5b4MsyP9J6xde1xh-hx9oeRRQCLcB/s1600/pedinte.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="420" src="https://2.bp.blogspot.com/-sX6GDswsMPc/VyJgbWLaX_I/AAAAAAAAANI/e-2Mb_Ab5b4MsyP9J6xde1xh-hx9oeRRQCLcB/s640/pedinte.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Transeunte </div>
<div style="text-align: justify;">
Mendigo </div>
<div style="text-align: justify;">
Jovem 1</div>
<div style="text-align: justify;">
Jovem 2</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Manhã ainda cedo e com pouca gente na rua característica de uma terra do interior, um homem caminhava penosamente pela Praça daquela Vila, pelo aspecto era um Mendigo, o casaco velho e bastante gasto, um chapéu amarfanhado, a camisa com ar de não ter sido lavada há muito tempo, umas botas gastas e maltratadas, parecia que tinha por objetivo atingir um dos bancos existentes na margem do jardim, porém no pequeno degrau da margem do passeio que o ladeava as suas forças claudicaram e os seus pés tropeçam caindo fragorosamente no chão. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Deitado no chão o Mendigo tentou desesperadamente chamar a atenção de um transeunte que passava, este com ar carregado de quem estava zangado com a vida, que o fazia parecer mais velho, fingindo não reparar e com ar apressado tenta mudar de direcção.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Mas os gritos e a gesticulação do Mendigo obrigaram-no a aproximar-se dele. Uma coisa lhe desagradou imediatamente, pelo sotaque era um destes estrangeiros que invadiram o país.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mendigo</b>- Por favor, ajude-me a levantar! </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte </b>– Não me chateie, era o que faltava, tenho que ir entregar um currículo de emprego e não quero ir a cheirar a lixo que é o que o senhor é. Além disso não gosto mesmo nada de pessoas como o senhor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mendigo </b>– Apenas uma pequena ajuda, nada mais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- Já lhe disse, não estou para ficar contaminado, afaste-se de mim, ainda apanho uma praga de piolhos, o senhor deve estar bem infestado, com esse aspecto miserável. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mendigo</b>- Não me reconheces? </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- Eu não conheço mendigos e muito menos da sua raça, se pudesse ajudava os pobrezinhos, mas ajudava apenas os que conheço bem, além disso não posso perder mais tempo tenho mesmo que ir entregar o currículo, pode ser que passe alguém da sua laia, desejo-lhe que tenha sorte e como diz a minha avó: “fique com Deus”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mendigo</b>- Dizes para eu ficar com Deus? Eu sou…</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- Essas palavras são treta da minha avó, fique com quem lhe apetecer. </div>
<div style="text-align: justify;">
Cinicamente o transeunte procurou alguma coisa no bolso que atirou com desprezo, dizendo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte </b>– Olhe entretenha-se com esta chiclete, enquanto não chega algum tão inundo como o senhor para o levantar, senão fica no chão que é como está bem! </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mendigo </b>– Não me conheces? <i>– voltou a perguntar o mendigo.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>O transeunte finge não ouvir, enquanto se afasta lentamente a pensar nas palavras do mendigo. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Um grupo de jovens que caminhava do outro lado da rua, parou observando a parte final da cena e atravessando a rua apressados dirigiram-se ao mendigo, ajudando-o a levantar-se e a encaminha-lo para o banco do jardim. Um dos jovens fixando o mendigo bem nos olhos sentiu-se perturbado e quase em sussurro diz-lhe:</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem1 </b>– É estranho caro amigo, o seu rosto parece-me familiar, embora o seu aspecto seja deplorável, acho que está a precisar de uma refeição quente, estamos num acampamento de férias quer vir até lá e comer alguma coisa connosco?</div>
<div style="text-align: justify;">
-<i> Ao ouvir isto o transeunte pára, vai voltando para junto do mendigo enquanto pensa.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte </b>– Que raio se esta a passar comigo? O que é que este mendigo, me quer dizer, ao perguntar-me, se não o conheço?</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem 2</b> – Então que diz aceita o nosso convite?- pergunta um segundo jovem ao mendigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mendigo</b>- Claro que vou aceitar, mas a minha missão aqui era, e é outra. Tenho outro acampamento.- responde o mendigo com voz baixa mas doce embora carregada de um sotaque estranho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem 1</b>- Está noutro acampamento? É refugiado?</div>
<div style="text-align: justify;">
O mendigo manteve-se em silêncio nada respondendo, ignorando as observações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- <i>Dirigindo-se aos jovens:</i> Eu também já participei em acampamentos de férias, há muitos anos, agora estou lixado e a vida não me permite, os meus pais divorciaram-se e a minha mãe, que é professora, foi colocada neste fim de mundo e viemos viver para cá, desisti dos estudos quero mas é arranjar trabalho! </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem 2</b>- Tu és da nossa idade, por aqui há de certeza gente fixe, porque não voltas à escola? Ficavas a conhecer novos amigos e era bom para ti. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem 1</b>- Se quiseres podemos dar-te umas dicas, estamos a terminar o acampamento e ficamos a conhecer algumas coisas desta terra. Mas agora vamos ajudar este senhor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- Quem sabe, pode ser, mas de facto estou baralhado com este vagabundo, vejo nele alguma coisa de estranho que não sei explicar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem 2</b>- Não queres vir connosco até ao nosso acampamento? Levamos este senhor, partilhamos com ele uma refeição e entretanto passas um tempo bom.</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem 1</b>- Virando-se para o mendigo: Venha connosco, comerá alguma coisa e tentaremos ajudar no que for possível. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- Afinal tanto faz entregar hoje como amanhã, esta história do currículo, também já estou por tudo a vida só me corre mal, mas aceito o convite, e aproveito para tentar perceber quem é o maltrapilho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem 2</b>– Não trates assim o senhor! Qualquer de nós, podia estar na situação em que ele está. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- Isto é só gente que não quer fazer nada, já não me comovem muito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Jovem1</b>- Repara que temos que ser tolerantes, embora isso pareça coisa de velhos, sabes que só partilhando o bem deixaremos o mundo melhor e além do mais, este nosso amigo, tem de facto qualquer coisa que não consigo explicar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>- Confesso que me estou a exceder um bocado, mas às vezes a vida torna-nos azedos. Irei com vocês! Sempre será diferente dos outros dias. Por aqui pouca gente me conhece, vivo aqui há pouco tempo, e ainda não consegui relacionar-me. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mendigo-Mas eu conheço-te João, estou aqui para despertar em ti, o que deixaste adormecer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Transeunte</b>-<i> Espantado:</i> Como sabe o meu nome? </div>
<div style="text-align: justify;">
Subitamente ouve-se a sirene de uma ambulância em emergência, a atenção de todos volta-se por uns segundos para a passagem da ambulância e quando voltam a olhar para o mendigo já este tinha desaparecido, no chão uma folha de papel com algo escrito. Um dos jovens pega na carta que dizia em letras maiúsculas “ PARA O JOÃO” . </div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Jovem2</i>- O mendigo desapareceu, ele parecia tão débil como desapareceu assim onde se terá metido? Deixou esta carta é para ti João. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>João </b>- <i>lendo a carta:</i> Este não é o meu acampamento, no meu acampamento nada me falta, volto para lá onde um dia nos encontraremos. E lembra-te, João, Eu conheço-te, há muitos anos, ainda não existias e já sabia de ti, por isso sei que tens dentro de ti sementes do bem que deixaste de utilizar e que eu vim despertar. Recorda-te que eu estou entre aqueles que mais precisam, os pobres dos mais pobres. Disseste-me para ficar com Deus. Eu te respondi: “Ficar com Deus?... Eu Sou.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.48px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-36112794877777226572016-02-04T08:59:00.000-08:002016-09-30T06:41:52.306-07:00PÁSSARO FERIDO <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-eG4dcR-zDls/VrODN8qsHDI/AAAAAAAAAM4/qykh8XN18NU/s1600/pintassilgo%2Bferido%2B1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://4.bp.blogspot.com/-eG4dcR-zDls/VrODN8qsHDI/AAAAAAAAAM4/qykh8XN18NU/s320/pintassilgo%2Bferido%2B1.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 18.0pt; line-height: 115%;">A
FABULOSA VIDA DE MATILDE<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "arial" , "sans-serif"; font-size: 18.0pt; line-height: 115%;">PÁSSARO
FERIDO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Nas suas deambulações
pelas vizinhanças, umas mais próximas, outras mais longínquas, Matilde deparou
com uma casa antiga e já um pouco degradada, que sabia ocupada por um casal já
idoso, a sua sempre presente curiosidade levava-a a observar bem de perto toda
a vizinhança. E este casal era bem simpático e por isso eram sempre boas as
conversas que tinha com eles. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">A senhora estava como
de costume a tratar do jardim em frente da casa o marido encontrava-se nas traseiras,
pois já tinha alguma dificuldade de locomoção, sentava-se durante horas a olhar
para os campos matando a saudade do tempo em que trabalhar a terra mais que um
modo de vida significava para ele uma forma amorosa de criar vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Ao reparar na sua presença
a senhora, Ana assim se chamava, cumprimentou-a:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Olá Matilde, andas a
passear?- sem a deixar responder continuou- Gosto muito de te ver por aqui, é
tão bom que gente nova repare em nós, não queres entrar? Dar umas palavras ao
meu marido, ele era muito amigo da tua mãe, a Luísa, agora coitado passa a vida
parado a olhar para as terras abandonadas, talvez recordando o tempo em que
para ele elas não tinham segredos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">-Matilde acedeu ao
pedido, e foi ao encontro do idoso, que de olhar parado ausente nem sequer
notou a sua aproximação. Despertou apenas quando ouviu a esposa quase gritar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Está aqui a Matilde,
a filha da Luísa. – e virando-se para Matilde: -Ele ouve mal é preciso falar
alto. Estás a ouvir? É a filha da Luísa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Ao voltar a ouvir o
nome Luísa o senhor João ficou alerta e murmurou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Olá Luísa, o nosso
passarinho continua a voar, eu sei vejo-o muitas vezes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Matilde ficou confusa,
nada sabendo da conversa do senhor João, sabia que ele a estava a tratar pelo
nome da mãe. Ficou com pena e sem saber que dizer. A medo alinhavou algumas
palavras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">-O senhor João está
confundido, eu sou a Matilde a minha mãe é que se chama Luísa, a história do
passarinho já deve ter acontecido há muito tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Os olhos do idoso
encheram-se de brilho, endireitou-se com energia na cadeira, a sua face ganhou
cor, encarou Matilde de frente e com um tom de voz forte e emotivo pronunciou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Eu vivo em todo o
tempo, o tempo dos sonhos, aqui não há passado nem presente nem futuro apenas o
que eu vejo e sinto. O passarinho está vivo, porque Luísa, tu o ajudaste a
salvar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Como se tivesse de uma
só vez descarregado toda a sua energia, voltou à sua posição inicial, não
pronunciando mais qualquer palavra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Apesar de todas as
tentativas da esposa e de Matilde o senhor João continuou ausente. Matilde esteve
ainda algum tempo com o casal, como se aproximava a hora de jantar regressou a
casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Adormeceu a ouvir a voz
do idoso, aos seus ouvidos soavam as palavras:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- “ Eu vivo no tempo
dos sonhos.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">E rapidamente se sentiu
uma ave no céu, voava, voava. No entanto era uma ave muito peculiar, um
pintassilgo, por natureza uma ave de voo rasteiro, voava naquele momento a uma
altura que lhe permitia sobrevoar a neblina que cobria os campos, deleitava-se
no voo, fechava as asas e descia a elevada velocidade em direcção à neblina,
logo que se aproximava abria de novo as asas sofria um choque no corpo e o voo
travava abruptamente, voltando a elevar-se às alturas, o seu voo era como um
bailado que do solo não podia ser apreciado, devido à bruma, mas que era vivido
intensamente. Sentia que tinha nascido diferente do resto do seu bando,
solitária e sempre em busca de sensações que lhe estavam vedadas, pela sua
natureza de ave de voos rasteiros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Voar alto e descer na
mais alucinante das velocidades, significava o prazer, a liberdade e a
felicidade absoluta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">A sedução de entrar na
neblina e sentir no corpo a sua frescura e a suavidade da seda, exerceria nela
um fascínio que a hipnotizava e a fazia esquecer os perigos que a neblina
escondia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Numa descida mais
arrojada, inebriada pelo êxtase provocado pelo voo, esqueceu toda a prudência,
descendo à mais alta velocidade que conseguia. Cega pelo nevoeiro e pelo prazer
o seu corpo chocou contra um obstáculo, para ela imprevisível, caindo inanimada
no chão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Naquela manhã de fim de
Inverno, junto ao seu pombal que ficava no fundo do jardim, o Sr. João ia
tratando das suas pombas, junto a ele a jovem Luísa observava curiosa, fazendo
uma multidão de perguntas que ele respondia pacientemente. O sr. João era um
homem maduro, casado com a Dona Ana, não tinham filhos e para ele a mulher, as
terras e as suas pombas eram tudo na sua vida. Luísa sabia disso, por isso
admirava-se que muitas vezes ele mantivesse as pombas fechadas no pombal, como
era o caso dessa manhã. Com a liberdade que a sua idade permitia perguntou-lhe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">-Sr. João, o sr. gosta
tanto das suas pombas e de todos os pássaros em geral, porque é que não as
deixa voar, como por certo elas gostariam?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Sabes Luísa gosto
muito de pássaros e muito das minhas pombas, as minhas pombas são aves
domésticas e eu preciso de protege-las de alguns perigos, hoje está muito
nevoeiro o que representa um perigo para todas as aves, as que vivem na
natureza quase sempre se conseguem defender, mas as pombas não, se eu as
solta-se agora elas fariam um voo demorado mas ao regressar o mais certo era
desorientarem-se ou pior chocarem com algum dos muitos fios eléctricos ou
telefónicos que passam por aqui perto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Quando o sr. João se
preparava para continuar a sua explicação, com um baque uma pequena ave vinda
do céu caiu aos pés de Luísa, que aflita pegou nela e sem conter uma lágrima,
meio chorosa disse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Está morta, sr. João
– não conseguindo conter o choro – Morreu sr. João! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">O sr. João pegou na ave
com ternura, encostou-a à face, levantou levemente as suas penas, os dedos
acariciaram suavemente o seu corpo, entregou a ave a Luísa enquanto ia dizendo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Não, ainda está
quente, não está morta, está apenas atordoada, precisa de continuar com calor
aconchega-a bem a ti. É uma bela ave, um pintassilgo, ou melhor uma
pintassilga. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Luísa pegou na ave com
cuidado, instintivamente levantou a camisola que trazia e colocou a ave bem
junto do seu coração, ao ver isso o sr. João sorriu e as palavras saíram-lhe
com emoção:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- A ave viverá, vais
ver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Durante longos minutos
o coração de Luísa palpitava na espera, enquanto o calor do seu corpo se
transmita à ave, as suas mãos aconchegavam a camisola com ternura e delicadeza,
começou a sentir um formigueiro no peito, ficou com os sentidos todos alerta,
virou-se para o Sr. João e gritou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Sr. João, sr. João, o
pássaro está a mexer-se, ele está vivo! – Continuou ofegante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Cuidadosamente retirou
a ave do seio e viu como ela se tentava soltar, virou-se para o Sr. João:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Que faço, que fazemos,
a esta ave tão bonita?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Este olhou para o céu,
notando que o sol já tinha rompido a bruma, e o dia se apresentava lindo e
claro, reparou num par de pintassilgos que soltavam um canto triste e aflito,
voltou o olhar para Luísa e para a ave, enquanto dizia com visível afecto na
voz: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Solto-a Luísa, no
alto alguém espera por ela, fizeste o que tinhas a fazer, a tua bondade a
salvou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">No calor confortável da
cama Matilde mexia os braços de forma bem estranha, Luísa a mãe que entrou no
quarto para a despertar, tocou-lhe amorosamente no rosto, enquanto sussurrava: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Que tens Matilde,
algum pesadelo? Sossega, eu estou aqui.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">Matilde abriu os olhos
e entre espantada e sonhadora, murmurou para a mãe:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Lembras-te daquela
ave que tu salvaste?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">A mãe sem perceber a
razão da pergunta e pensado um pouco:<a href="https://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Sim, lembro-me isso
vai há tanto tempo, porquê?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";">- Essa ave, um
pintassilgo, era eu. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "sans-serif";"> Herminio </span></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-20992825369981288992016-01-08T05:59:00.003-08:002016-01-09T05:04:57.063-08:00O Pregador<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-gjsCzHBX8Bc/Vo_Awwjk4sI/AAAAAAAAAMo/FF0E7-eFspQ/s1600/O%2Bpregador%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://1.bp.blogspot.com/-gjsCzHBX8Bc/Vo_Awwjk4sI/AAAAAAAAAMo/FF0E7-eFspQ/s640/O%2Bpregador%2B2.jpg" width="588" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num fim de tarde de um dia soalheiro de Primavera, sentei-me na esplanada de um bar e enquanto tomava um café passava os olhos pelo jornal. Sentado de costas para um palco, onde aos fins-de-semana grupos de música popular animavam as tardes e noites. A minha atenção ia sendo atraída pelas pessoas que passavam, se a maioria delas nada me dizia, reparei, no entanto, em alguém que transportava uma estranha carga, um tripé de pauta de música além de uma pasta arquivo. Um homem caminhando em passo decidido que se dirigia ao palco. Tinha um aspecto cuidado, vestia com sobriedade, aparentava uma idade entre os 45 e 50 anos. Rapidamente saiu da minha visão, supus eu que se dirigiu para o palco e depois da sua passagem voltei à minha leitura.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na posição que me encontrava não dispunha de ângulo visual para observar o que se passava no palco. No entanto começou a chegar até mim uma espécie de discurso, semelhante a oradores políticos ou a pregadores de alguma nova igreja, não liguei muito até ao momento em que bem forte chegou aos meus ouvidos num tom imperativo, as palavras:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Não me Vencerás! </div>
<div style="text-align: justify;">
Virei a cabeça com alguma curiosidade, mesmo assim do lugar onde me encontrava, do palco só avistava um pequeno fragmento, e da pessoa via essencialmente as mãos, que gesticulavam ou descansavam sobre a estante do tripé que lhe servia de púlpito, ao mesmo tempo que ia passando algumas folhas, do que ia lendo. Fui vencido pela curiosidade e coloquei-me de forma a ter melhor visibilidade para o palco. Com renovada energia voltou a pronunciar:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Não me Vencerás! - e continuou- persegues-me há centenas de milhares de anos, só existes porque eu existo. Por isso não me vencerás. Sei que muitas vezes pareço vencido, e pior ainda que me vergo perante a tua vontade, uma parte de mim colabora contigo, e outra te combate sem tréguas, acontece vezes sem conta que com uma mão te combato e com a outra golpeio o meu próprio peito, mas sempre renasço melhor, mais forte e cada vez mais resistente. </div>
<div style="text-align: justify;">
-Nesta altura parou um pouco, fez um gesto de quem coloca o microfone em melhor posição, levou a mão à altura da boca como quem bebe um pouco de água. Nervosamente deu uma olhadela aos papéis e retomou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Não me vencerás! - Os olhos voltaram-se para uma plateia vazia, os braços agradeceram os aplausos inaudíveis de ouvintes inexistentes, e continuou:</div>
<div style="text-align: justify;">
-A tua perseguição tornou-me mais forte, em cada dia perdi e venci. Sei que colaborei contigo e fiz muitas vezes a tua tarefa, que trago comigo todas as virtudes e maldades da humanidade. Sou mau e bondoso, avarento e generoso, pervertido e inocente, demónio e santo, odeio com a mesma força com que amo. Mas vive em mim uma infinita capacidade de recomeçar, aprecio mais a beleza que a fealdade, os gestos de amor que os de ódio, a generosidade que a avareza, a inocência que a perversão e mais o bem que o mal. - Interrompeu por instantes o seu discurso como para tomar fôlego, o seu corpo retesou-se parecendo crescer, virou algumas páginas, recuou um pouco, voltou a aproximar-se do púlpito e gritou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- NÃO ME VENCERÁS… persegues-me há centenas de milhares de anos, mas só existes porque eu existo, porque só eu tenho consciência da tua existência, só eu te sinto cada vez que te enfrento, quando me derrotas um pouco, quando o desânimo se apodera de mim, pensas que vais vencer, mas digo-te que te enganas se um dia, que nunca chegará, tu me venceres definitivamente, também tu deixarás de existir. Estamos tão ligados que a existência de um depende da existência do outro. A tua vitória afinal será também a minha, por isso NÃO ME VENCERÁS! – Gritou mais uma vez, estava empolgado todo o seu corpo transmitia aquela estranha mensagem, eu tinha-me aproximado mais do palco, tudo me era visível mesmo o não existente, a sua mão pegou numa imaterial garrafa vazia de água, que invisível e silenciosamente foi despejada num copo feito de nada, para saciar uma sede infinita de ser ouvido, cuidadosamente tirou do bolso um lenço feito de um tecido ainda não descoberto e limpou um suor que não corria pelo rosto. Tudo nele era presente e ausente uma mistura entre miragem e realidade, mistério e claridade, sabedoria e loucura. Agradeceu mais uma vez os aplausos de mãos que não batiam, colocou as mãos sobre o púlpito e o rosto adquiriu uma estranha serenidade, como se tivesse enfim terminado a sua missão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um rumor repentino me despertou, fiquei estupefacto quando reparei que junto ao local onde estava o palco se aproximavam como caçadores e com algum cuidado um carro da Polícia, juntamente com uma Ambulância da qual saíram dois homens bastante robustos de bata branca, talvez enfermeiros, um dos quais trazia uma espécie de saco, subiram cada um por um dos lados do palco enquanto os polícias tomavam posição, como para acautelar alguma fuga, quando os homens de bata branca se dirigiam para o pregador e com alguma violência o manietaram. Afinal o saco era uma camisa-de-força, apesar da resistência do pregador que fez tombar o improvisado púlpito, levando que os papéis, com a ajuda da brisa que corria, fossem espalhados pelo chão, o homem foi dominado facilmente e conduzido à ambulância, um polícia vendo a minha perplexidade acabou por me dizer:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sabe, é um doido que fugiu do manicómio, não diz coisa com coisa vai voltar ao internamento. </div>
<div style="text-align: justify;">
Os papéis continuavam a espalhar-se pelo chão, por curiosidade comecei a juntar alguns para tentar perceber a razão das suas palavras. </div>
<div style="text-align: justify;">
Lentamente fui, passando pelos olhos uma a uma as folhas caídas, tinham todas a mesma mensagem escrita em letras que ocupavam toda a página.</div>
<div style="text-align: justify;">
- “NÃO ME VENCERÁS Ó MORTE, PORQUE EU SOU TODA A HUMANIDADE, A PASSADA A PRESENTE E A FUTURA E SÓ A HUMANIDADE TEM CONSCIÊNCIA DA TUA EXISTÊNCIA, SE ME VENCERES SERÁS VENCIDA, DESISTE: NÃO ME VENCERÁS.<a href="https://www.blogger.com/null"></a>”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.48px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 18.4px;"><br /></span></div>
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-27234170317039900392015-12-28T09:49:00.003-08:002015-12-28T11:22:31.150-08:00O Quadro<div align="center" style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 16.8pt; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-SZ6daWRXFCI/VoF10iKjGKI/AAAAAAAAAMY/xZHktp8b8xY/s1600/amadeo.jpg" imageanchor="1" style="background-color: white; line-height: 16.8pt; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://1.bp.blogspot.com/-SZ6daWRXFCI/VoF10iKjGKI/AAAAAAAAAMY/xZHktp8b8xY/s640/amadeo.jpg" width="632" /></a></div>
<div style="background: white; line-height: 16.8pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<b style="line-height: 22.4px; text-align: center;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16pt;"> </span></b><b style="background-color: transparent;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 18pt;">A FABULOSA VIDA DE MATILDE</span></b></div>
<div style="background: white; line-height: 16.8pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O grupo de alunos chegou logo no início da tarde para uma visita de estudo ao Museu, como sempre acontecia a sua juventude trazia alegria e algazarra própria da idade, mas bem pouco habitual nestes espaços. O Museu instalado num antigo Mosteiro estava associado a um pintor da terra, que tinha atingido uma projeção elevada. Antes de entrar a Professora que dirigia a visita, entregou a cada aluno um desdobrável, que para além do retrato do Pintor, constava também uma biografia resumida e algumas notas sobre as pinturas expostas. A Professora fez notar as obras realizadas, na ala do Mosteiro onde estavam expostas os quadros que eram a razão da sua visita, obras que conjugavam a funcionalidade da arquitectura moderna sem descaracterizaram o edifício.</div>
<div style="text-align: justify;">
Matilde ficou de olhar preso ao exterior do edifico, na sua robustez granítica, nas linhas simétricas de todo o conjunto, na fachada imponente da Igreja que transmitia a força da pedra com que tinha sido construída, e pensava como se teriam conjugado os quadros que constavam do desdobrável, com o espaço onde estavam expostos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto se dirigia para a entrada do Museu os seus olhos iam-se fixando no retrato do Pintor. Perturbada notou que tinham vida, que a olhavam como se quisessem transmitir-lhe alguma coisa. Desviou os olhos do desdobrável, mas não conseguiu retirar do espírito essa sensação estranha que continuava a apoderar-se dela. Entrou no Museu, já o grupo subia ao primeiro piso e percorria a primeira galeria, não parecendo notar a sua falta. </div>
<div style="text-align: justify;">
Matilde teve que estugar o passo, como de costume estava isolada do grupo, a explicação da Professora chegava-lhe apenas como um murmúrio, por um lado queria manter-se junto ao grupo por outro lado os seus olhos procuravam em cada quadro vislumbre do olhar que a tinha conquistado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto olhava os quadros alinhados sentiu a estranha sensação de estar a ser observada, como se um olhar de alguém invisível se tivesse fixado nas suas costas. Porém, de cada vez que se voltava lentamente perscrutando em redor à procura da causa desse sentimento não detectava a presença de qualquer pessoa, suspirava convencida de que a sua fértil imaginação via o inexistente. Abeirou-se finalmente da galeria principal do museu, que se lhe deparou luminosa e ampla, dominada por um conjunto significativo das obras do Pintor. Estava confusa e aturdida, para ela não eram apenas quadros mas o espírito do Pintor em pessoa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Questionou-se: É apenas uma ilusão? Estou a sonhar? Ou endoideci de vez?</div>
<div style="text-align: justify;">
Parou, tentou reflectir, respirou mais calmamente, mas o seu coração continuava a bater bem forte. Cada quadro que deparava, representava de alguma forma a imagem do Pintor, parava cada vez mais demoradamente diante de cada um. Sentia-se como se arrebatada para dentro deles. Pertencia a cada tela, era um seu elemento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Esfregou os olhos, atarantada, olhou bem à sua frente uma tela com uma profusão de cores e formas que a atraíam e intrigavam, que inopinadamente ganharam vida. Matilde sentiu-se arrastada para dentro do quadro, encontrando-se no que lhe parecia um atelier de pintura.</div>
<div style="text-align: justify;">
Frente ao quadro que estava o Pintor que olhando-a fixamente Lhe disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Aguardava pacientemente pela tua visita, tenho muitos visitantes, mas tão poucos que olham para dentro de mim, apreciam os quadros mas não entram na minha alma. Tu tentaste ir além das formas. Procuraste a essência. A Arte é uma das criações mais sublimes da humanidade. Só a Arte replica o mistério da alma humana, e a força e beleza da natureza. Cada vez que admirares uma pintura lembra-te que mergulhas numa das mais sublimes das artes, vai além da superfície tal como hoje penetra na cena, toca nos seus elementos, não com as mãos mas com os sentidos, descobre todas as suas formas, contorna todos os seus ângulos, embebe-te nas suas cores, só assim alcançarás o seu verdadeiro significado, tu própria farás parte do mistério que todas as obras de arte guardam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas aviso-te não será fácil e precisarás de muita coragem para seres entendida. Muitas vezes encontramos numa pintura algo muito diferente do que esperávamos. É esse o seu principal mistério.</div>
<div style="text-align: justify;">
Matilde sentiu-se paralisada, incapaz de articular palavra, o seu corpo foi percorrido por um calafrio, parecia-lhe que ao longe uma voz gritava o nome dela, um abanão súbito e com alguma violência despertou-a daquele êxtase. Enquanto uma colega lhe gritava:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Bolas! És sempre a mesma, o autocarro já esta à tua espera, o que estiveste a fazer até agora?</div>
<div style="text-align: justify;">
- A descobrir o mistério deste quadro.. - respondeu Matilde a medo. E correram as duas para o autocarro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.48px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-33272229301863947852015-11-07T15:11:00.001-08:002015-11-07T15:11:42.247-08:00O Velho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-9iYlIZxjDpY/Vj6FE1hQ3NI/AAAAAAAAAMI/UwSvePzeRro/s1600/mendigo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="http://1.bp.blogspot.com/-9iYlIZxjDpY/Vj6FE1hQ3NI/AAAAAAAAAMI/UwSvePzeRro/s640/mendigo.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sentado num banco do jardim, o Velho olhava para os transeuntes, pelo seu espírito passavam imagens da sua vida, no tempo e caminho percorrido até esse momento. </div>
<div style="text-align: justify;">
Já não se olhava ao espelho, nem contava as rugas pronunciadas, o olhar cansado pela vida e pelas insónias, de horas de sono sempre tão reduzidas e sobressaltadas, a barba desarranjada, branca, farta e suja, o cabelo alinhado apenas com as mãos à laia de penteado, levava vestido a roupa que afinal nunca tirava: um sobretudo cuja cor era a variedade de nódoas que o cobriam, camisolas e camisas que nem ele próprio saberia dizer quantas, calças presas por um cordel e umas botas já muito gastas, era assim que se dirigia para o seu banco todos os dias. </div>
<div style="text-align: justify;">
Apreendeu a solidão. Aprendeu a olhar o Sol como um relógio do tempo que passava e do tempo que lhe faltava viver. O Inverno era bem duro, e não era só pelo frio e pela chuva que o causticava; mas porque parecia que os elementos se conjugavam, contra a sua vontade, na sua ida em deambulação até aquele banco do jardim, onde já há muito gastava uma boa parte do seu dia.</div>
<div style="text-align: justify;">
O seu refúgio noturno ficava cada vez mais longe, ou pelo menos era isso o que sentia, o transporte dos seus haveres era uma carga cada vez mais pesada e incómoda, por isso analisou com cuidado o local perto do “seu” banco. Próximo um coreto parecia-lhe um imenso e fausto palácio, as tarjas de propaganda política, presas ao seu gradeamento, garantiam uma proteção contra o vento e a chuva por ele empurrada. Além disso, eram renovadas com regularidade, os sinais de renovação eram evidentes, primeiro um alarido com altifalantes em altos berros, a prejudicarem o sossego de todos, como se tratasse da venda de um produto novo, a seguir centenas de cartazes, por fim as tarjas ali bem centrais, com diversas cores e muitas palavras, que apenas lhe causavam indiferença. Importante era a renovação da proteção contra o vento. E para ele era isso que ficava daqueles momentos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não voltaria à sua “casa” habitual num prédio em ruínas bem longe, decidiu que aquela seria a sua morada. O banco do jardim a sua sala de estar. E todo o jardim por onde pululavam crianças e passeavam famílias o seu próprio jardim. E pelo sim pelo não continuava a transportar com ele todos os seus haveres. No coreto deixava apenas as embalagens de cartão que lhe serviam de cama, no banco junto a si mantinha um embrulho sujo e malcheiroso que continha toda a sua riqueza, em baixo um pequeno saco de que se via apenas o gargalo de uma garrafa. Sentia da parte de quem passava uma repulsa imensa pela sua presença, mesmo quando escondida era atirada com desprezo, uma moeda que caía na caixa aos seus pés. Mas nada disso o impedia de ocupar o seu banco de jardim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mantinha um braço sobre o embrulho, o outro pousado no apoio do banco, e aí permanecia imóvel e sem palavras e observava, observava. Numa atitude de um rei no seu trono.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aquele casal ainda novo com uma atitude de olhar apaixonado, outro ainda já idoso que parecia manter uma visível ternura, e alguns idosos e idosas que sozinhos por lá fingiam viver. Gente nova, com telemóvel pendurado ou pendurados ao telemóvel, aparentemente em comunicação com o mundo mas quase sempre a falar sós. </div>
<div style="text-align: justify;">
Gostava especialmente de ver crianças, único momento em que se notava alguma emoção. Seriam saudades de netos? Teria netos?</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando num lampejo de existência e pela proximidade de alguma criança tentava tenuemente dirigir-lhe alguma palavra ou ensaiar um sorriso, logo os pais apressados afastavam os filhos enquanto se lhe dirigiam com rudeza e insultos.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Afasta-te, velho bêbado! Nem te atrevas a tocar-lhe! </div>
<div style="text-align: justify;">
Retraía-se e voltava ao seu estado de imobilidade majestática com uma superior indiferença. </div>
<div style="text-align: justify;">
Aos fins-de-semana de Primavera e Verão, como era o caso, muitas famílias deslocavam-se àquele espaço para permitir aos filhos um tempo de liberdade e diversão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ultimamente tinha ainda colocado uns óculos, que quase por acaso, pouco tempo antes encontrou, perdidos em cima do tejadilho de um carro, uns óculos de Sol que lhe pareciam jeitosos, rapidamente os guardou no bolso do sobretudo, não tinha ainda passado muito tempo sentiu uns passos apressados na sua direção e uma voz que gritava:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ó velhote, quero falar consigo!</div>
<div style="text-align: justify;">
Manteve impávido o andamento lento e pesado, como se nada fosse com ele. A pessoa depressa o ultrapassou colocando-se a sua frente e falou com estridência, perguntando:</div>
<div style="text-align: justify;">
- O senhor pegou nuns óculos que estavam em cima de um carro? </div>
<div style="text-align: justify;">
Ignorou a pergunta, ignorou o tom, olhou para ela, uma mulher ainda nova e bem bonita e disse-lhe na sua voz rouca, mas calma e pousada:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Deixe-me em paz.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas pegou ou não pegou nos óculos? – repetiu ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Já lhe disse, deixe-me em paz.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desarmada ela desistiu, apesar de serem uns óculos modernos e caros. </div>
<div style="text-align: justify;">
E era assim que agora se encontrava todos os dias a olhar quem passava por detrás daqueles óculos, imóbil como rei num trono a quem os súbditos vinham prestar vassalagem, embora quem por ali passasse quase sempre mudasse de direção. </div>
<div style="text-align: justify;">
Mas ele lá se mantinha imóbil cada vez mais invisível a todos e cada vez mais indiferente às palavras que lhe eram dirigidas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como sempre aos fins-de-semana, quase todas as famílias aproveitavam aquele espaço para encontro, convívio e acerto de algumas conversas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Naquele fim de tarde de Domingo, um casal que passeava um filho num carrinho, reparou que no outro lado do jardim ia uma pessoa amiga que já não viam há muito tempo, acenaram-lhe chamando-lhe à atenção da sua presença. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ela mudou de direção encaminhando-se para junto deles. Cumprimentaram-se, trocaram impressões e palavras de circunstância.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ambos com ótimo aspeto, tendes um lindo menino, parabéns! Que idade tem? </div>
<div style="text-align: justify;">
- Obrigado, tem sete meses.- respondeu o marido - Tu também estás muito bem!</div>
<div style="text-align: justify;">
Subitamente os olhos dela fixaram-se no Velho, que continuava imóbil e ausente como se o mundo não existisse, os amigos olhavam para ela espantados, sem perceber o que se passava. A esposa perguntou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Então que se passa, que é que tens? </div>
<div style="text-align: justify;">
- Aquele maldito velho tem os meus óculos!</div>
<div style="text-align: justify;">
E sem hesitação dirigiu-se ao Velho dando-lhe um forte abanão no braço, ao mesmo tempo que ia a ensaiar palavras de ira. </div>
<div style="text-align: justify;">
O seu abanão fez com que o Velho rodopia-se caindo no chão desamparadamente. Mantendo estranhamente as pernas dobradas e os braços como pousados num trono.</div>
<div style="text-align: justify;">
No dia seguinte os jornais locais anunciavam: <i>IDOSO ENCONTRADO MORTO NUM BANCO DE JARDIM</i>, a notícia prosseguia, segundo os primeiros dados da autópsia, a morte ter-se-ia dado há mais de quarenta e oito horas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.48px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-29463022818085514832015-10-13T09:03:00.001-07:002015-10-13T09:03:43.052-07:00O Perigeu<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 18.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">A FABULOSA
VIDA DE MATILDE <o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">O PERIGEU <o:p></o:p></span></b><br />
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><br /></span></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-a-pJrG_A9A0/Vh0q6Wm_tuI/AAAAAAAAAL4/G9LF7nTRl-8/s1600/sky-clouds-trees-moon.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="428" src="http://1.bp.blogspot.com/-a-pJrG_A9A0/Vh0q6Wm_tuI/AAAAAAAAAL4/G9LF7nTRl-8/s640/sky-clouds-trees-moon.jpg" width="640" /></a></div>
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 15.75pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 15.75pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">F</span>inal de Agosto final do dia, Matilde tinha acabado de jantar e visto em rodapé na televisão, “ HOJE UMA SUPER LUA” .Percebeu que a Lua atingiria a distância mais curta à Terra. “Perigeu”, disseram eles. </div>
<div style="text-align: justify;">
Como fazia muitas vezes, foi para a varanda, sentou-se numa cadeira e colocou os pés a descansar noutra. No peito a máquina fotográfica descansava, mas a mente vagueava e sonhava. Gradualmente a Lua surgiu no horizonte apresentando uma leve tonalidade de ouro, como se quisesse refletir toda a luz solar e, de facto, era enorme. A luz de um dourado suave e intenso, parecia uma porta aberta para o paraíso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ensaiou colocar a mão entre os olhos e a Lua em determinados ângulos parecia-lhe qua a sua mão lhe tocava, mexeu a mão como se a afaga-se, por entre os seus dedos passaram raios daquele luar tão diferente, pensou nos nomes curiosos dos seus mares, e descobriu que os homens replicavam nos nomes dos mares da Lua os seus sentimentos sonhos e vivências, gostava especialmente de alguns e imaginou a sua mão a sentir uma irreal frescura de uma água improvável. Na sua mente alguns nomes ocorreram, o Mar da Tranquilidade, da Serenidade, da Fertilidade, e de Néctar, gostava menos do Mar das Tormentas, mas de tormentas quem gosta?</div>
<div style="text-align: justify;">
Voltou a fixar o olhar na Lua, parecia-lhe um Gongo Tibetano na sua forma e cor, ou então um enorme diamante de uma pureza infinita, os seus dedos instintivamente procuraram tocar bem levemente a superfície, ao tacto a lua era rugosa e porosa. Pensou então:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Diamante sim, mas ainda não lapidado. </div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Forçou mais o contacto e para seu espanto, a Lua pareceu mover-se, nem queria acreditar como é que a sua mão, os seus dedos faziam mover a Lua, ao mesmo tempo um som cósmico, suave, primeiro docemente mas num crescendo cada vez mais sentido, um som que nunca tinha imaginado existir, apenas com um ligeiro toque dos seus dedos num corpo enorme como a Lua e com ela todo o cosmos estremecia em vibrações rítmicas, que de sussurros passavam a rumores e suspiros sonoros, um som que não era capaz de classificar, celestial e etéreo, doce e aflautado, terno e encantador, como uma carícia que enlouquecesse os sentidos, vibrante como uma trombeta de anjos, um som de Paraíso. Se o Céu existisse seria essa a música que os eleitos ouviriam. </div>
<div style="text-align: justify;">
Matilde sentiu-se transportada para a imensidão do espaço numa viagem fora do corpo que não conseguia explicar, via-se à varanda mas o seu espírito numa viagem sem tempo, numa busca da origem daquele som que partindo dos seus dedos e da Lua, prolongava-se pelo infinito, quanto mais se aproximava da origem mais o doce e celestial som lhe parecia distante, a Lua tão próxima tinha o condão de se afastar, e mostrava-se sempre inacalçável, sentia que o sentido do espaço e do tempo não existia, preenchida pela sinfonia nada mais a preocupava, os seus sentidos, viviam um inefável e indescritível prazer, começou a ter receio que a magia termina-se, desejava viver esse tempo até à eternidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
- Como desistir da felicidade? – Interrogou-se. </div>
<div style="text-align: justify;">
Naquele momento a felicidade consistia na possibilidade de estar e ser intemporal. E a sinfonia cósmica que a envolvia elevavam-na a essa altura. Ninguém lhe tiraria essa vivência de sonho, tão real e tão extraordinária. </div>
<div style="text-align: justify;">
- Que pensaria a minha mãe? - Cogitou. </div>
<div style="text-align: justify;">
No momento em que pensava nesta eventualidade, sentiu no ombro muito suavemente uma mão. Cheia de ternura ouviu a voz de sua mãe:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Já é tarde, Matilde, está a ficar fresco, é melhor saíres daqui. </div>
<div style="text-align: justify;">
Estupefacta olhou para a mãe, dizendo a medo.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Também ouviste a mesma música? Gostaste? </div>
<div style="text-align: justify;">
- Música, que música? Parece que o ar da noite te fez mal! </div>
<div style="text-align: justify;">
Saiu da cadeira lentamente, voltou a olhar para a Lua e para o espaço tentando perscrutar e sentir ecos da sinfonia cósmica. Parecendo-lhe chegar do espaço infinito toda a magia do momento vivido. Entretanto pensava:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Como abrir a alma e o coração, para o belo que o Universo tem para nos transmitir? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.48px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
</div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-88851365251787256842015-09-04T11:10:00.001-07:002015-09-04T14:25:30.663-07:00A Fabulosa Vida de Matilde<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">O <o:p></o:p></span><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 21.4667px;">FORMIGUEIRO</span></b><br />
<span style="font-size: 18.6667px; line-height: 21.4667px;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-hVdPVVO82BU/VeoL4ISIy8I/AAAAAAAAALk/aTSG6wYGJV4/s1600/food-woman-camera-girl%2Bpexels.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="426" src="http://4.bp.blogspot.com/-hVdPVVO82BU/VeoL4ISIy8I/AAAAAAAAALk/aTSG6wYGJV4/s640/food-woman-camera-girl%2Bpexels.jpg" width="640" /></a></div>
<span style="font-size: 18.6667px; line-height: 21.4667px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
Matilde era uma jovem com ideias muito peculiares o seu comportamento desalinhado com a maioria das pessoas da sua idade, chamava à atenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
Gostava muito de passear no pinhal perto de casa, levava sempre a sua máquina fotográfica, via na natureza pormenores que mais ninguém conseguia ver, raios de sol a penetrar pelas ramagens, pequenas flores silvestres, aves, lagartixas, esquilos, tudo era um festim para os seus olhos e uma oportunidade de gravar em fotos o que a alma via. Tinha apenas alguma pena de não saber identificar as coisas que descobria, mas mesmo assim valia a pena senti-las. </div>
<div style="text-align: justify;">
Nessa tarde, isso aconteceu mais uma vez, ao caminhar pelo pinhal, os seus olhos detiveram-se num carreiro de formigas e baixou-se para as observar mais de perto, admirou a sua constância na tarefa e a sua disciplina, seguiu o carreiro para descobrir onde seria a casa das formigas, pelo caminho tirou algumas fotos, que depois seleccionaria, ainda foram alguns metros, até o local de entrada do formigueiro, ao caminhar curvada sentiu algum desconforto, depois de uma última foto endireitou-se subitamente. E inadvertidamente bateu com a cabeça, num ramo já velho que pendia de uma árvore. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ficou atordoada, sentiu de dentro uma força que comprimia o seu tamanho diminuía em cada instante, as suas mãos eram agora minúsculas e ao olhar para o seu corpo, notava transformações incríveis, gradualmente tinha-se transformado numa formiga. Reparou que ao lado a sua roupa estava impecavelmente arrumada, no entanto pendurada ao pescoço a máquina fotográfica tinha sofrido a mesma redução de tamanho. Não teve tempo de reagir. As outras formigas do carreiro, obrigaram-na a mover-se, esteve indecisa um instante. A máquina a arrastar-se pelo chão impedia-a de caminhar, com uma das mãos puxou-a para as costas perante o espanto das outras formigas. Finalmente decidiu-se, iria para o formigueiro. Como nada transportava, resolveu ajudar aproximou-se de uma formiga que transportava um peso excessivo, e colocando a boca na carga, sentiu um sabor familiar. </div>
<div style="text-align: justify;">
- Isto é o bolo da minha mãe – pensou.</div>
<div style="text-align: justify;">
Entrou dentro do formigueiro, e viu-se no meio de uma azáfama incrível, centenas ou mesmo milhares de formigas movimentavam-se perfeitamente organizadas, mas o seu aspecto insólito, devido a ter às costas a máquina fotográfica, chamou à atenção de algumas formigas que lhe pareciam uma espécie de polícias, rapidamente foi convidada a acompanha-las para ser levada à presença da Rainha. Temeu pelo que iria acontecer, mas não resistiu e resolveu ensaiar se a máquina funcionava tirando umas fotos, o flash assustou os guardas que se dobraram perante ela. Voltou a coloca-la às costas e prosseguiram até à Rainha. Quando chegaram junto a esta, um dos guardas que parecia ser o chefe, contou as magias a que assistiram, luz a sair de uma antena que se mexia. Esta ficou pensativa a ponderar bem o que fazer perante tamanho desafio. Finalmente disse: </div>
<div style="text-align: justify;">
- Façamos-la acasalar com um dos nossos machos, e criaremos uma nova raça da nossa espécie, a raça dos alumiadores. </div>
<div style="text-align: justify;">
Matilde ficou assustada, não queria isso, desejava voltar a sua condição de humana, a sua reacção, foi rápida. Dirigiu-se a Rainha:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Majestade, preciso de tempo para pensar, perdi-me do meu carreiro e os meus companheiros andam por certo à minha procura, entre os da minha espécie só se deixa de procurar quando se escolhe em liberdade o local para viver. Aceitarei o convite depois de falar com eles.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Concordo - respondeu a Rainha, acrescentando.- Sairás com uma escolta, e até ao por do sol se ninguém aparecer, voltarás. </div>
<div style="text-align: justify;">
O regresso para fora do formigueiro foi bem veloz. Metade da escolta saiu primeiro depois ela a seguir os restante elementos, para não impedir o movimento contínuo das obreiras, o chefe da escolta puxou-a com alguma violência, contra a vegetação que ladeava a entrada, ao fazer isso ela chocou com a cabeça num arbusto, tombou e sentiu-se desmaiar. </div>
<div style="text-align: justify;">
Lentamente começou a sentir a frescura do tapete de folhas e ervas que cobria o chão, olhou para si com o corpo cheio de formigas, levantou-se e sacudiu-se, estava inteira igual a ela mesma, apenas uma coisa bem estranha, a máquina fotográfica continuava pendente nas costas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Pensou se não teria enlouquecido: - Teria sido um sonho? – Interrogou-se</div>
<div style="text-align: justify;">
Olhou para o relógio, o tempo tinha passado, combinara encontrar-se com o João estava quase na hora, com a mão tentou arranjar o cabelo e saiu ligeira para casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pontual como sempre o João já se encontrava à sua espera. Olhou para ela meio espantado:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Matilde que te aconteceu? Que é isso na cabeça?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada de especial, bati com a cabeça no ramo de uma árvore. Tenho aqui umas fotos, que tirei esta tarde, para te mostrar. </div>
<div style="text-align: justify;">
E começou a passar as fotos tiradas no formigueiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
João olhou sem perceber, aos seus olhos passavam quadros totalmente negros sem qualquer vislumbre de imagem. Perplexo murmurou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Decerto a máquina avariou, não vejo nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Matilde ia vendo e recordando, os túneis, os silos, as longas filas de formigas, os guardas, a Rainha, aos seus olhos passaram todos os pormenores da sua aventura. </div>
<div style="text-align: justify;">
As palavras do João fizeram-na reflectir, levando-a a descobrir:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Quem não viveu a emoção do diferente, nunca será capaz de olhar para além da aparência. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.4799995422363px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-6721541930709945712015-07-29T08:16:00.002-07:002015-07-29T08:16:50.185-07:00Pseudo-Poema<div style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-ZMPVxlwLO_g/VbjuILcwtpI/AAAAAAAAALU/LTMx9pF3r_E/s1600/sky-woman-clouds-sun.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://4.bp.blogspot.com/-ZMPVxlwLO_g/VbjuILcwtpI/AAAAAAAAALU/LTMx9pF3r_E/s640/sky-woman-clouds-sun.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
Os pássaros chilreiam no entardecer do dia,</div>
<div style="text-align: center;">
em cantos leves e ondulantes de serenata,</div>
<div style="text-align: center;">
em sintonia com as vozes graciosas de crianças,</div>
<div style="text-align: center;">
fazem dos quotidianos horas de silêncios. </div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Quão belo pode ser o verde das árvores altas</div>
<div style="text-align: center;">
se há cães felpudos nas suas sombras? </div>
<div style="text-align: center;">
E quão intensamente pode uma alma sentir</div>
<div style="text-align: center;">
em longos instantes de plena solitude?</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Há ainda o mar que bate longe e ecoa perto</div>
<div style="text-align: center;">
e um coração que se esvazia lentamente </div>
<div style="text-align: center;">
pelo caminho tortuoso dos tempos amargos,</div>
<div style="text-align: center;">
mas que não azeda a vida que se adocica na ventura.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Porque há a esperança nas vozes do mundo<br />
e as aves cantam fortemente contra os dias aziagos,<br />
que se querem de repleta luminosidade e vigor<br />
brilhando sempre o Sol em todos os céus azuis. <br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<a href="http://estasaudosacasa.blogspot.com/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.4799995422363px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">Diana</a></div>
</div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: auto; text-align: center; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 1; word-spacing: 0px;">
<div style="margin: 0px;">
<br /></div>
</div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-22032803523768487872015-07-01T14:38:00.002-07:002015-07-08T09:28:25.698-07:00O homem que sabia voar<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-oYl-yltrRDc/VZ1O7ihxk7I/AAAAAAAAAFY/ogUHm-is3Vo/s1600/flight-bird-flying-bird-house.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="http://1.bp.blogspot.com/-oYl-yltrRDc/VZ1O7ihxk7I/AAAAAAAAAFY/ogUHm-is3Vo/s640/flight-bird-flying-bird-house.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
Numa rua de movimento muito reduzido junto à vedação de um prédio em construção, um carro de apoio aos sem-abrigo, a que se juntou um pequeno grupo de curiosos, uma Ambulância, bem como um carro da Polícia, podia ver-se o corpo de um homem, que aparentemente tinha caído desse edifício. O que causava estranheza à Polícia era o corpo ter caído à rua, aparentemente tinha sido alvo de um forte impulso que o levou a cair fora da vedação.</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
As Técnicas de Apoio Social estavam estupefactas, aquele era o Chico, a Psicóloga que fazia parte da equipa ainda se lembrava da última entrevista, para a caracterização do Chico e a definição de uma estratégia da sua integração social. Parco de palavras não mostrando nenhuma vontade de mudar de vida, sem queixas nem lamúrias mais do que conformado, feliz com a vida que levava. As perguntas eram quase sempre respondidas por monossílabos, e sem grandes discursos, ultimamente porém as conversas tinham algo de estranho. Entre referências a conversas com pássaros e a ideia de se libertar do corpo, uma lhe veio à mente. </div>
<div style="text-align: justify;">
- Já conversamos há tanto tempo, já nos conhecemos bem, estou aqui para o ajudar a encontra um caminho para si, sempre deve haver alguma coisa que goste de fazer ou que saiba fazer bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim há uma coisa que eu sei fazer bem. Sei voar.</div>
<div style="text-align: justify;">
A surpresa atingiu a Psicóloga de alto a baixo, uma resposta destas, trazia a lembrança casos de pessoas sem-abrigo de condição social inesperada. As suas perguntas, saíram em enxurrada. </div>
<div style="text-align: justify;">
-Voar? Foi piloto? Esteve na vida militar? Onde aprendeu? </div>
<div style="text-align: justify;">
- Não, voar como um pássaro, voar livre, apenas voar. </div>
<div style="text-align: justify;">
Os olhos da Psicóloga, com algumas lágrimas teimosamente a correr, iam-se voltando para o seu caderno de apontamentos a que acrescentou algumas palavras, que nada tendo de científico testemunhavam, uma forma de viver nunca entendida. E leu o que foi escrevendo ao longo do tempo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Chico é um tipo estranho, uma idade indeterminada, provavelmente menos do que aparenta, mas a vida dura que tinha levado, deixou marcas profundas no seu aspecto. Nada disso o preocupava mas apenas o momento vivido, era como um pássaro a quem tinham destruído o ninho, ainda pequeno e que com poucas penas, apesar da dificuldade aprendeu a voar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Conheceu diversos lares, casas de acolhimento, mas nuns casos a artificialidade da relação, noutros uma disciplina nunca entendida, fazia-o tentar, e na maioria das vezes conseguir, fugir e tomar a rua como o seu espaço o seu lar a sua tribo. </div>
<div style="text-align: justify;">
No Verão os relvados de alguns jardins, serviam da mais confortável das camas um quarto cujo limite era infinito. No Inverno bastava um abrigo da chuva e do cortante vento do Norte, normalmente um prédio abandonado, como era o caso daquele momento, uma quantidade razoável de cartão, umas mantas que alguém deitava fora ou oferecia. </div>
<div style="text-align: justify;">
Vivia com extraordinário deleite os dias de trovoada, uma sinfonia de sons e cores lhe era oferecida, não compreendia o medo da maioria dos “outros”. </div>
<div style="text-align: justify;">
Com o tempo Chico foi-se isolando e vivendo cada vez mais para si próprio, sobrava-lhe as conversas que ia mantendo com os pardais. Principalmente um, um pardal sábio e já idoso, pode-se chamar idoso a um pardal? Com que idade morre um pardal, como se pode dizer que se é velho?- Pensava.</div>
<div style="text-align: justify;">
Passava horas a olhar para o céu e sonhava em ver a cidade lá alto. Tão real era o seu sonho que as nuvens o deixavam sem ar, apesar de não entender bem o que era ser uma ave. O local onde ultimamente vivia permitia ver a amplitude do céu e o voo das mais variadas aves. Não precisava de mais nada, a vida era completa. </div>
<div style="text-align: justify;">
Uma coisa porém o preocupava, ultimamente na carrinha, que algumas vezes lhe fornecia alimento e mais alguma treta, viajava uma tipa, Psicóloga, diziam elas, que lhe fazia perguntas e mais perguntas. Queriam saber se ele estaria disposto a fazer parte de um programa de integração social, uma cena destas que não lhe serviria de nada. </div>
<div style="text-align: justify;">
Fechava a boca ou respondia de má vontade, recebia o que interessava e ia à sua vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
- Já não se pode ser livre. – Pensava</div>
<div style="text-align: justify;">
As conversas com o seu amigo pardal eram cada vez mais frequentes e versavam os mais variados temas, quem os ouvisse, se isso fosse possível, lhes chamaria de loucos. </div>
<div style="text-align: justify;">
- Que te preocupa? – Perguntou-lhe o pardal notando-lhe o ar pensativo pouco habitual nele.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Já não se pode ser livre- disse em voz alta em resposta ao amigo pardal, e continuou - Estão sempre a perguntar-me o que sei fazer, sou livre, não sei fazer nada nem preciso, a liberdade tem o sabor de ser e estar como se quer e onde se quer.</div>
<div style="text-align: justify;">
O pardal mostrou-se atento, abriu ligeiramente as asas, olhou-o bem de frente e de repente exclamou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Já sei, vou-te ensinar a voar! Tu entendes a minha linguagem eu percebo a tua, vives livre como eu, por certo que aprenderás a voar. Em algum momento da tua vida já foste ave. Dentro de ti ainda pulsa esse espirito.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao ouvir isto Chico levantou-se de um salto, levantou, bateu os braços como se fossem asas e gritou para o pardal: </div>
<div style="text-align: justify;">
- Como posso voar sem asas? Estou a ouvir bem o que estas a dizer ou estou a enlouquecer? </div>
<div style="text-align: justify;">
- Chico, porque gritas tanto? Não é a falta de asas que te impede de voar, mas a tua mente que te prende ao chão, ainda não és totalmente livre, aprende a voar e atingirás a liberdade plena. </div>
<div style="text-align: justify;">
Subitamente apoderou-se dele um desejo imenso de realizar o sonho, voar ver o mundo do alto, sentir a emoção de liberdade total. Estar onde desejasse, sem regras, sem limites, sem sinais, sem proibições.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Quando começamos?- Exclamou decidido. </div>
<div style="text-align: justify;">
O prédio onde vivia estava inacabado sem divisões, ele tinha escolhido o último andar, sabia que estava mais resguardado de visitas curiosas. O pardal mediu bem o espaço livre, pensativo foi dizendo: </div>
<div style="text-align: justify;">
- Para começar este espaço serve. Começarás a voar aqui. Eu te ensinarei!</div>
<div style="text-align: justify;">
Com muita insistência do pardal que ele aprendeu a voar pequenas distâncias. Desabituado a exercícios físicos, sentia dificuldade nos seus voos e era muitas vezes vencido pelo cansaço.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo assim não desistiu e quando já estava confiante, aventurou-se a voar fora do prédio. Tirou a protecção de madeira de uma janela, olhou o céu e todo o espaço em volta e disse para o amigo:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Que dizes de dar uma volta, ir e voltar?</div>
<div style="text-align: justify;">
O pardal olhou para bem dentro dele profundamente, para além dos limites do seu corpo, como se quisesse habitar a sua alma, dar-lhe espiritualmente as asas que Chico fisicamente não possuía.</div>
<div style="text-align: justify;">
-Sim, mas tem cuidado, ainda precisas de te libertar do teu corpo.</div>
<div style="text-align: justify;">
O primeiro voo foi curto e tímido, regressou uns segundos depois, respirou fundo e pensou, já sei que dizer às “gajas” da carrinha. Sabia voar.</div>
<div style="text-align: justify;">
O pardal olhou para ele e contente disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
-Saíste-te melhor do que eu estava à espera, podes voar livre até ao infinito. Olha as estrelas, confunde-te com elas, Voa! - Ordenou imperativo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Chico chegou-se mais uma vez à janela, olhou o céu infinito, as estrelas que nele brilhavam, lançou-se vigorosamente no espaço e voou, voou, voou, até que sentiu o espirito separar-se do corpo, era finalmente livre, livre para a eternidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.4799995422363px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-55602562494425650602015-06-10T14:55:00.000-07:002015-07-08T10:33:51.143-07:00Dias Sóbrios<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-eMnDaFHNcWg/VZ1euuci6HI/AAAAAAAAAFo/nn5O4dFPx9E/s1600/garden.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="426" src="http://3.bp.blogspot.com/-eMnDaFHNcWg/VZ1euuci6HI/AAAAAAAAAFo/nn5O4dFPx9E/s640/garden.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
O Sol decidiu esconder-se por fim, as flores têm uma cor muito viva que contrasta com o céu apagado. Há a certeza de um dia sereno, sem emoções que palpitem gravemente o coração. A brisa fresca não dá mote a alegrias extremas, sente-se a harmonia das horas sóbrias, ouvem-se apenas os automóveis a desfilarem na estrada longe. Parece um rejubilo falso, felicidade sem gosto doce, tudo está bem, porque não está mal e a vida encaminha-se nos conformes. </div>
<div style="text-align: justify;">
Na cidade tudo tem ar de amontoado, abandalhado por quem não tem tempo para o que é necessário, assim está a minha mente, numa agitação febril em que vontades se contrapõem. Tenho desejo de principiar uma nova vida e no entanto prossigo igual ao que é do costume. Há em todas as coisas o perigo da mudança, a falsa segurança das alterações, os riscos medonhos de uma crise. E a vida sempre se encarrega de trazer espontaneamente dias mais comedidos, onde se está bem, porque não se está mal. </div>
<div style="text-align: justify;">
A meio do dia ainda tenho o entorpecimento do corpo de quem não dormiu bem as noites passadas, o tempo passa muito rápido para quem tem muito que fazer e nenhuma motivação. Não sei dizer de onde me vem esta frustração, este destino de desânimo, porque apareceu em mim o sentimento de apatia que sempre se apresenta no querer fazer pouco quando se precisa fazer muito. </div>
<div style="text-align: justify;">
Nestes dias de tristeza subtil as palavras manifestam-se no meu íntimo e não tenho força para as fazer surgir no seu pleno esplendor, são como flores prestes a florir, mas que não recebem água e Sol suficientes. Falta-me saber, mestria, leveza, sabedoria, e tudo o mais que se mostra essencial para o nascimento da obra pelo qual a alma do leitor se apega e tem carinho. Tudo me está em falta. E todavia não sei expressar-me de outro modo. Vivo sem coração a generalidade dos dias e quando me sento com as palavras os sentimentos desabam-me e não sou mais insensível ao que me rodeia. </div>
<div style="text-align: justify;">
Agradava-me construir um lar nos meus escritos, de modo a que um dia não existisse mais e passa-se a ser as minhas palavras tão somente, em perfeita harmonia com o que sou e com o que faço. Mas a força e a persistência esvaiem-se, os impulsos são poucos e só se mantêm momentaneamente. Da mesma forma me falha a constância da graça, o toque de airosidade, a luminosidade da mocidade. Assim estão os dias caminhando para a morte, sem beleza, sem disposição para sentimentos suaves, carregando fardos de tempos difíceis vividos ou imaginados. </div>
<div style="text-align: justify;">
As afirmações são ásperas e desagradáveis, mas sabem misteriosamente bem, como o vento modesto que me eriça os pêlos dos braços. O dia perpetua-se sombrio em pleno Verão, dia velho no meio da estação da juventude, mas é profundamente legitimo, porque advém da Natureza que está sempre certa. Não é necessário que em todos os momentos o Sol surja resplandecente sobre a Terra, nem que a luz paire sobre as palavras. Porque tudo se quer no conforme, que é variável e está sempre bem, desde que não esteja mal.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<a href="http://estasaudosacasa.blogspot.com/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.4799995422363px; text-decoration: none;" target="_blank">Diana</a></div>
</div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-45080188502347226652015-05-20T07:57:00.000-07:002015-07-08T11:59:42.753-07:00Amizade<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-QWsjK8VvWVo/VZ1yJeKbKDI/AAAAAAAAAF4/fXEAB_HkHhQ/s1600/bench-sea-sunny-man.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="422" src="http://4.bp.blogspot.com/-QWsjK8VvWVo/VZ1yJeKbKDI/AAAAAAAAAF4/fXEAB_HkHhQ/s640/bench-sea-sunny-man.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
A reinvenção da alegria </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste tempo, em que não vos tenho dado a atenção devida, sentindo-me para todos
os que me dão o seu tempo e a sua amizade em dívida lembrei-me de dois
provérbios que definem a amizade de ângulos diferentes e complementares: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Séneca diz num provérbio que: “Ter um amigo é ter alguém por quem morrer”</div>
<div style="text-align: justify;">
Há porém um provérbio inglês que diz: “Viver sem amigos é morrer sem
testemunhas” </div>
<div style="text-align: justify;">
A força que emana do primeiro provérbio (“Ter um amigo é ter alguém por quem
morrer” ) é de uma amizade desprendida e inusual, mas diz-nos quanto este
sentimento esta presente no espírito da humanidade e nas relações entre as
pessoas, desde que o homem se tornou capaz de elaborar em palavras os seus
sentimentos. A contradição principal é que sendo este um dos sentimentos mais
nobres e mais necessários à nossa vida pessoal, quando confrontados com a
pergunta: O que é a amizade? Sentimos alguma dificuldade em a definir, não
porque nos faltem explicações exactas e verdadeiras, mas pela sua vastidão e
pelas nossas próprias atitudes perante a amizade, ficamos incapazes de
exprimirmos verbalmente em poucas palavras a relação e o sentimento implícito
nesta palavra. A amizade tem a singularidade de ter uma ética não escrita, sem
tutelas nem pactos sociais, e utiliza uma desconcertante simplicidade de meios,
o que faz com que a característica mais importante da amizade, se defina pela
sua presença.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a presença pode ter diversas graduações, e quando a amizade se vai
construindo em novos meios, como a NET que utilizamos neste momento, essas
graduações terão ainda muitos cambiantes, uma partilha global de algum pessoal,
ou não sendo pessoal, nos toca e emociona, uma troca de mensagens mais
confidente e particular, um dos muitos pequenos gestos de que estamos atentos e
que as mensagens que nos chegam não nos deixam indiferentes, a probabilidade de
um encontro dos muitos que este meio proporciona, a possibilidade de uma ou de
incontáveis atenções, não tendo muito significado a quantidade mas a verdade
daquilo que damos e recebemos</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porém no provérbio inglês que diz: “Viver sem amigos é morrer sem
testemunhas” , remete-nos para o tempo presente em que não querendo ser
demasiado mórbido, mas ao ler um destes dias nos jornais, um título que dizia:“
HÁ cada vez mais corpos não reclamados”</div>
<div style="text-align: justify;">
Isto foi sentido por mim como um soco, e senti vergonha por fazer parte de uma
sociedade que segrega e despreza ignobilmente parte dos seus. Que levou estas
pessoas a cortarem laços e a perderem assim os seus amigos, ficando sem testemunhas
do seu final de vida? Que levou a sociedade a ignora-los?</div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez por isso seja importante esta rede de amigos em que participamos, e
quando algum por motivos diversos nos deixa, não nos deixa sem testemunhas,
sentimos que perdemos um pouco da nossa riqueza colectiva, e partilhamos muitas
vezes testemunhos desse sentimento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os amigos que vou fazendo neste meio e com os quais vou partilhando, um pouco
de mim e um pouco do que sou, e de quem também recebo partilhas que me vão
enriquecendo, fazem-me sentir, talvez com alguma benevolência, que a minha
ausência, mais frequente do eu desejaria, não lhes é indiferente.</div>
<div style="text-align: justify;">
O importante para mim é que a partir de dada altura, esta relação se tornou uma
história que me acompanha e por onde uma parte da minha vida vai
passando.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tendo tão poucas barreiras, permitindo um tão alargado leque de alternativas,
este meio que nos aproximou e vai permitindo a construção de verdadeiras
amizades, pode contribuir para acabar com este cinzentísmo em que estamos
mergulhados e pela AMIZADE REINVENTAR A ALEGRIA.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="background-color: white; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18.4799995422363px; text-decoration: none;" target="_blank">Hermínio</a></div>
</div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2880213993761125671.post-11242322565916516292015-04-15T03:38:00.003-07:002015-07-08T13:05:01.171-07:00Fazer a nossa parte<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-MAKjyDgDDOU/VZ2CU-hh8VI/AAAAAAAAAGI/6KSKfEHCRS8/s1600/landscape-nature-hills-church.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="http://4.bp.blogspot.com/-MAKjyDgDDOU/VZ2CU-hh8VI/AAAAAAAAAGI/6KSKfEHCRS8/s640/landscape-nature-hills-church.jpeg" width="640" /></a></div>
<span style="text-align: justify;"><br /></span>
<span style="text-align: justify;">Dois homens iam pela rua conversando um crente e outro nem por isso. E enquanto caminhavam o crente ia falando da vida da fé na existência de Deus. Dai a pouco, o céptico incrédulo não aguentou e replicou:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
- Deixa-te disso, pois Deus não existe!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Porque dizes isso?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ora, se Deus existisse não haveria tanta barbaridade e tanto mal no mundo, muitas vezes em nome de Deus. Além de tanta gente a passar fome. Basta olhares em volta e reparares em quanta tristeza há é só estar atento!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Bem, talvez seja essa a tua maneira de pensar, e tens a liberdade de o fazer, Não é assim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Claro e tenho razão, mas esta a chegar a hora de voltar ao trabalho, ainda não estou como tu, já aposentado. </div>
<div style="text-align: justify;">
Pararam em frente ao estabelecimento onde o amigo trabalhava, um cabeleireiro de homens, despediram-se um ficou e outro continuou o seu caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi caminhado, quando avistou uma pessoa com aspecto deplorável, talvez um sem-abrigo, imundo, com longos feios e sujos cabelos, barba desgrenhada, suja, abaixo do pescoço. Pensou, um pouco deu meia volta e dirigiu-se ao estabelecimento onde o amigo trabalhava.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Vim aqui por causa de uma pequena coisa.</div>
<div style="text-align: justify;">
E acrescentou.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Não acredito em cabeleireiros de homens, ou como de dizia antigamente, barbeiros!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Que estas para aí a dizer???</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim, se existissem cabeleireiros de homem, barbeiros, não haveria pessoas de cabelos maltratados e barbas desgrenhadas e compridas!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ora, essas pessoas estão assim porque querem. Se desejassem mudar, viriam até mim! Em muitos casos eu até lhes faria o trabalho de graça</div>
<div style="text-align: justify;">
- Agora, tu entendeste quantas vezes estamos assim porque queremos? Não vamos até ELE!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<span style="background: white; border: 0px; color: #131313; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10.5pt; font-stretch: inherit; line-height: 16.1000003814697px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> </span><a href="http://casacomsaudade.blogspot.pt/" style="-webkit-transition: color 0.1s linear; background: white; border: 0px; color: #e06666; font-family: 'Trebuchet MS', Trebuchet, Verdana, sans-serif; font-size: 13px; font-stretch: inherit; line-height: 18.4799995422363px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; transition: color 0.1s linear; vertical-align: baseline;" target="_blank">Hermínio</a></div>
</div>
</div>
Hermínio da Silvahttp://www.blogger.com/profile/06113515538898204324noreply@blogger.com1