terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Perigeu

A FABULOSA VIDA DE MATILDE
O PERIGEU




Final de Agosto final do dia, Matilde tinha acabado de jantar e visto em rodapé na televisão, “ HOJE UMA SUPER LUA” .Percebeu que a Lua atingiria a distância mais curta à Terra. “Perigeu”, disseram eles. 
Como fazia muitas vezes, foi para a varanda, sentou-se numa cadeira e colocou os pés a descansar noutra. No peito a máquina fotográfica descansava, mas a mente vagueava e sonhava. Gradualmente a Lua surgiu no horizonte apresentando uma leve tonalidade de ouro, como se quisesse refletir toda a luz solar e, de facto, era enorme. A luz de um dourado suave e intenso, parecia uma porta aberta para o paraíso.
Ensaiou colocar a mão entre os olhos e a Lua em determinados ângulos parecia-lhe qua a sua mão lhe tocava, mexeu a mão como se a afaga-se, por entre os seus dedos passaram raios daquele luar tão diferente, pensou nos nomes curiosos dos seus mares, e descobriu que os homens replicavam nos nomes dos mares da Lua os seus sentimentos sonhos e vivências, gostava especialmente de alguns e imaginou a sua mão a sentir uma irreal frescura de uma água improvável. Na sua mente alguns nomes ocorreram, o Mar da Tranquilidade, da Serenidade, da Fertilidade, e de Néctar, gostava menos do Mar das Tormentas, mas de tormentas quem gosta?
Voltou a fixar o olhar na Lua, parecia-lhe um Gongo Tibetano na sua forma e cor, ou então um enorme diamante de uma pureza infinita, os seus dedos instintivamente procuraram tocar bem levemente a superfície, ao tacto a lua era rugosa e porosa. Pensou então:
- Diamante sim, mas ainda não lapidado. 


Forçou mais o contacto e para seu espanto, a Lua pareceu mover-se, nem queria acreditar como é que a sua mão, os seus dedos faziam mover a Lua, ao mesmo tempo um som cósmico, suave, primeiro docemente mas num crescendo cada vez mais sentido, um som que nunca tinha imaginado existir, apenas com um ligeiro toque dos seus dedos num corpo enorme como a Lua e com ela todo o cosmos estremecia em vibrações rítmicas, que de sussurros passavam a rumores e suspiros sonoros, um som que não era capaz de classificar, celestial e etéreo, doce e aflautado, terno e encantador, como uma carícia que enlouquecesse os sentidos, vibrante como uma trombeta de anjos, um som de Paraíso. Se o Céu existisse seria essa a música que os eleitos ouviriam. 
Matilde sentiu-se transportada para a imensidão do espaço numa viagem fora do corpo que não conseguia explicar, via-se à varanda mas o seu espírito numa viagem sem tempo, numa busca da origem daquele som que partindo dos seus dedos e da Lua, prolongava-se pelo infinito, quanto mais se aproximava da origem mais o doce e celestial som lhe parecia distante, a Lua tão próxima tinha o condão de se afastar, e mostrava-se sempre inacalçável, sentia que o sentido do espaço e do tempo não existia, preenchida pela sinfonia nada mais a preocupava, os seus sentidos, viviam um inefável e indescritível prazer, começou a ter receio que a magia termina-se, desejava viver esse tempo até à eternidade. 
- Como desistir da felicidade? – Interrogou-se. 
Naquele momento a felicidade consistia na possibilidade de estar e ser intemporal. E a sinfonia cósmica que a envolvia elevavam-na a essa altura. Ninguém lhe tiraria essa vivência de sonho, tão real e tão extraordinária. 
- Que pensaria a minha mãe? - Cogitou. 
No momento em que pensava nesta eventualidade, sentiu no ombro muito suavemente uma mão. Cheia de ternura ouviu a voz de sua mãe:
- Já é tarde, Matilde, está a ficar fresco, é melhor saíres daqui. 
Estupefacta olhou para a mãe, dizendo a medo.
- Também ouviste a mesma música? Gostaste? 
- Música, que música? Parece que o ar da noite te fez mal! 
Saiu da cadeira lentamente, voltou a olhar para a Lua e para o espaço tentando perscrutar e sentir ecos da sinfonia cósmica. Parecendo-lhe chegar do espaço infinito toda a magia do momento vivido. Entretanto pensava:
- Como abrir a alma e o coração, para o belo que o Universo tem para nos transmitir? 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Main Menu

Submenu Section