segunda-feira, 21 de março de 2022

 

INVISIVÉL

 

O telemóvel tocou, um toque curto típico da chegada de uma mensagem, li primeiro muito rápido; sumariamente dizia que: a aula da noite tinha sido suspensa, no entanto…

Mais tarde no escuro da noite comecei a voltar-me para o essencial da mensagem. “Peço que, até à próxima aula escrevam uma história, verdadeira ou inventada”.

Estranho a escuridão torna tudo invisível, resta apenas a memória do que existe, mesmo no quarto onde me encontro, se tivesse que fazer uma lista do que me rodeia, provavelmente não conseguiria um relato completo.

A escuridão, afinal a falta de luz, pode ser assustadora, inibidora ou inspiradora. O desafio ia contra o espírito da escrita. Escrever, refletia, é um acto espontâneo não um acto de vontade. A palavra, tal como a corrente de um rio, sussurra no intimo do próprio impulso.

Na escuridão tudo é invisível, à luz do dia habita muitas vezes, a escuridão do nosso egoísta conforto, onde vivem muitas pessoas invisíveis.   

Adormeci e como por magia, continuei em sonhos o que comecei por delinear desperto, como personagem, narrador e observador.

No sonho, subia uma Avenida ampla cruzando-me com múltiplas pessoas, de que nada sabia e que nunca saberei, o meu destino era muito prosaico, uma pastelaria que ficava logo ao dobrar da esquina, mas primeiro tinha que comprar o jornal num quiosque que ficava perto da pastelaria, o meu passo era certo e moderado.

Para lá dessa esquina, no extremo oposto vinha uma mulher cujo rosto não conseguia divisar, e como observador via que era possível que em algum momento nos cruzássemos.  

A mulher caminhada com passos inseguros, mas sempre em linha, pelo meio da multidão que nessa hora percorria esse percurso, constantemente era alvo de encontrões a que reagia com infinita indiferença, o seu rosto apesar da maior proximidade continuava envolto numa densa névoa.

O meu eu continuava a caminhar, chegou ao topo da avenida virou à direita e dirigiu-se ao quiosque, pediu o jornal do costume, deteve-se a ler os Títulos, fui a contracapa para ver a tira de BD, sorriu e dirigiu-se à pastelaria.

No momento em que se dirigia à pastelaria, a mulher passava em frente da Igreja localizada naquela artéria, o passo continuava inseguro e incerto, subitamente parou, hesitou, a sua cabeça rodou em diversos sentidos, estranhamente na minha situação de observador, o rosto continuava para mim invisível e quando ao rodar a cabeça virou para mim a nuca, vi nitidamente o cabelo de uma cor acastanhada com algumas manchas esbranquiçadas nitidamente despenteado, talvez do vento que se fazia sentir. Pensei.    

Na pastelaria sentei-me numa mesa de dois lugares bem isolada pedi um café e comecei a ler o jornal, tempos difíceis os que vivemos, a tragédia que se passa no nosso continente mostra que o homem lobo do homem voltava a soltar de si os instintos de violência que o acompanhou ao longo da sua história e que pareciam vencidos.

A mulher hesitação vencida, entrou resolutamente na pastelaria.

- Ena.. Afinal, ainda que não totalmente sempre nos vamos cruzar.. Pensei observando

Continuei a seguir as duas personagens. Eu próprio e a mulher

Observando a minha personagem, notei, concentração absoluta no jornal, nada a perturbando nem a continua entrada e saída de clientes nem a movimentação dos empregados.

Na minha posição de narrador notei que a mulher entrou, olhou para algumas mesas vagas, com passo decidido dirigiu-se para a mesa onde o meu outro eu se encontrava, com uma voz ténue que soava como um SOS pediu licença para se sentar.

À minha personagem não chegou o tom angustiado da mulher, ficou perplexo, a pensar porque raio a senhora escolheu esta mesa? Não haviam mais mesas vagas? Estes pensamentos fervilhavam na sua mente. E sem levantar os olhos do jornal, respondeu que sim, acrescentado que já estava de saída, numa fuga de situação não desejada e incómoda.

A mulher, enquanto colocava um saco que trazia consigo na mesa, com o logotipo de uma loja de fotografias, de cabeça levemente levantada olhou-me e dolorosamente balbuciou.

- Fiz um exame e… Não continuou as palavras morreram-lhe nos lábios

Como narrador escandalizei-me, pois, o outro eu sem ter alguma vez reparado no rosto da mulher levantou-se dirigiu-se à caixa pagou pediu NIF, como bom cidadão, e saiu.

No caminho de saída virou-se reparou nos ombros da mulher a mexer-se parecendo soluçar, o cabelo acastanhado esbranquiçado despenteado como que esvoaçava. Saiu

No sonho o meu espírito, invadido por um sentimento de culpa travou-me os passos e decidi voltar à pastelaria na esperança de encontrar a senhora.

Na mesa ainda lá se encontrava a minha chávena, da senhora nem rastro. O empregado da pastelaria perguntou-me.

- Procura alguma coisa?

- A senhora que estava comigo.. Respondi, mas esta palavra “comigo” queimou-me os lábios.

­- Ainda bem que veio, a senhora esqueceu-se de um saco se não se importar de o entregar.

O empregado foi buscar o saco da loja de fotografias e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, entregou-me.

Entretanto a mulher caminhava lenta e desordenadamente pela rua e centenas de pessoas passavam e seguiam apressadas e indiferentes.

De saco na mão, começou a tomar conta de mim a tentação de saber quem era a senhora. Sentei-me num dos bancos da avenida e com algum pudor tirei o envelope que lá se encontrava. O envelope era branco e sem nenhuma identificação exterior, hesitei entre abrir e não abrir. Resolvi abrir, talvez o envelope tivesse fotos com imagens de locais que eu pudesse identificar, única forma de conseguir entregar à pessoa certa.

Outra surpresa, o envelope continha apenas um documento, mas o cabeçalho e o rodapé tinham sido cuidadosamente cortados. O texto do documento era um relatório de um exame médico com algumas palavras a vermelho, sinalizando a gravidade da situação.

Em baixo, logo a seguir ao relatório médico, numa letra nervosa, mas legível a seguinte frase.

Tenho um tumor em estado adiantado e inoperável, precisava de gritar e perguntar, porque é que ninguém repara em mim? Quem ouve as minhas angustias?

A mulher continuava, mesmo numa tarde de sol luminoso, invisível perdida no meio da multidão, procurando desesperadamente que alguém a tirar-se da sua invisibilidade.

Despertei com o coração a bater descompassadamente, e no fim do sonho descobri que..  

A discrepância entre o que somos e o que pensamos que somos, entre o que sou e o que penso que sou, vai sendo constantemente revelada.

 

                                           Mire de Tibães entre os dias 8/03 e 10/03/2022

                                                             

                                                                  Herminio Silva

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

FANTASIA À CHUVA


FANTASIA À CHUVA

Ela repetia vezes sem conta que que o que mais aliviava a tensão e o stress, num dia de chuva intensa, era passear livremente e sentir a água a escorrer-lhe pelo corpo.
Quando, e se um dia se cassasse, seria num dia assim, mais ainda, nesse dia haveria de correr pelas ruas vestida de noiva, até sentir o corpo totalmente encharcado.
Pelo contrário, para ele o máximo do prazer que um dia de chuva lhe proporcionava, era sentir a chuva a bater nos vidros, e confortavelmente na cama, ouvir o seu tlic-tlic-tlac.
Melhor ainda, quando na companhia de alguém, embalados por esse concerto da natureza, suavemente os corpos fossem conduzidos a uma entrega ao amor. Nada era melhor do que isso, soltou num leve suspiro
Ela insistiu com veemência, nas suas palavras notava-se um calor de tal modo intenso, que se tornava impossível de contrariar.
O encontro tinha sido muito casual, num pequeno bar de rápidas e ligeiras refeições.
Com poucos lugares vagos, ao entrar, os olhos dela repararam naquela mesa num canto bem discreto, onde ele se encontrava só. Com grande à vontade pediu licença sentou-se, sem esperar qualquer resposta, lá fora chovia, ainda mal refeito da surpresa, aos seus ouvidos chegaram as primeiras palavras.
- Que belo dia, não há nada melhor que um dia de chuva.
Ele não disse palavra, mas no seu olhar lia-se uma total discordância.
Examinou-a com cuidado e tentando ser discreto. O seu olhar vivo transpirava alegria, na boca um sorriso que parecia eterno, um decote com alguma generosidade mostrava uns seios que lhe prenderam o olhar, denunciando-o, fazendo que ela ostensivamente desaperta-se mais um botão da blusa.
Ficou sem saber o que fazer, baixando os olhos em direcção á mesa.
O sorriso que ela mostrava e a sua exuberância, desfez o embaraço e gradualmente iniciaram uma conversa que se prolongou até ao fim da refeição.
 Ao fim de algum tempo passaram a encontrar-se com regularidade, iniciando uma relação, que apesar da singularidade de cada um, se transformou numa paixão intensa.
Por decisão dela, casariam num dia de chuva o mais forte possível, ela obrigou-o a prometer que fariam uma caminhada pela cidade, para finalmente se meterem na cama, para ouvir a chuva a bater nas vidraças, tlic-tlic-tlac como preliminar de uma noite, que ela lhe jurou inesquecível.
E assim aconteceu, combinaram marcar o casamento com a antecedência máxima de quinze dias para terem a certeza que a chuva estaria presente. Os convidados e familiares teriam que se adaptar à situação, de facto bem pouco comum.
Cuidadosamente iam consultando as previsões meteorológicas. Quando tudo indicava que o tempo se manteria chuvoso, trataram de tudo de rompante.
Perante o espanto dos amigos e de convidados, a noiva mostrava uma obsessão em relação ao tempo absolutamente despropositado, queria que chovesse, e muito.
O noivo mais cauteloso, apesar da promessa, implorava interiormente que o tempo tivesse uma súbita mudança. Era um craque de informática, entre os amigos, conhecido por nerd. Adorava o conforto do ar condicionado, a proposta da noiva aterrorizava-o, no entanto o poder da sedução levou-o de vencida.
A chuva além de não abrandar, aumentou de intensidade.
Combinaram que passariam a noite de núpcias, num hotel junto ao mar.
Saíram da festa estrondosamente, por iniciativa da noiva. Entre o espaço em que decorria a boda e o carro em que seguiriam, recusou qualquer proteção para a chuva, entrando neste completamente em desalinho.
Chegaram ao hotel em pouco mais de uma hora, ele tinha conseguido até ao momento passar relativamente incólume à chuva.
Entraram no hall do hotel, resolutamente ela dirigiu-se ao funcionário e perante o espanto deste disse:
- Temos quarto marcado, vamos dar uma volta, deixamos aqui as malas. Depois tratamos de tudo.
Puxou o noivo pelo braço e arrastou-o para a rua..
Andaram a vaguear pela rua à chuva, perante o espanto das poucas pessoas que por eles passavam, olhados de loucos por uns, embriagados por outros.
Ao fim de algum tempo ele implorou-lhe que voltassem ao hotel, tremia de frio, pouco ou nada habituado a tais comportamentos sentia-se como peixe fora de água, ela cedeu e voltaram ao hotel.
Chegaram ao quarto ela em êxtase, ele a tremer de frio e com uma tosse horrível, pediu um chá quente, roupa quente e um antigripal, aquilo era demais para ele.
Rápido adormeceu.
Ainda encharcada, cabelo desgrenhado maquilhagem desfeita, que aliás era mínima, olhava embebecida para o sono sereno do noivo, no entanto os sentidos continuavam presos à rua, enquanto ouvia o tlic tlic tlac da chuva, tudo nela entrou em convulsão, não resistiu e voltou à chuva, libertou totalmente o espírito e enquanto dançava, perante o espanto de quem passava, totalmente encharcada, sentiu-se envolvida por um orgasmo interminável.   
No quarto o noivo dormia serenamente em paz..
 



                                                             Herminio 




segunda-feira, 20 de agosto de 2018

AS SOMBRAS


                   



             
                           Imagem Google 

                  AS SOMBRAS

Quantas vezes nos cruzamos com pessoas que não passam de sombras, como se estivessem cobertas com um manto de invisibilidade. Vemos as formas ainda que que as apreciemos esteticamente, não vamos além disso.
Nunca fixamos o olhar no olhar, mais do que anónimas, essas pessoas são invisíveis.

No meu pensamento vão passando, diversos tipos de invisibilidade.
Um homem de meia-idade de que não me lembro o rosto, mas que segue num caminhar hesitante como se procurasse onde pisar, cuidadosamente vestido, numa observação breve dir-se-ia que vivia uma existência igual a tantas outras na rotina dos dias que passam, coberto com o manto da invisibilidade que lhe cobria a alma, mostrava no jeito de caminhar um pouco de todo o resto que  permanecia escondido.
Um homem ainda jovem, talvez um pouco acima dos trinta, caminhava como quem dança, os seus passos demonstravam alegria e confiança, no caminhar parecia querer transmitir ao mundo a razão da sua felicidade. Quando demorei o meu olhar sobre ele, como se sentisse culpa pela sua felicidade, ficou coberto pelo manto da invisibilidade e desapareceu na multidão.
Desisti de tentar descobrir o que transportavam na alma, as pessoas com quem me cruzava, seria sempre uma tarefa impossível, além disso não veria eu nos outros o mundo que eu próprio trazia dentro de mim?
Cobrindo-me também com o manto da invisibilidade, impedindo que os outros me vissem com claridade para além da minha forma?
Afastei estes pensamentos consultei o relógio, tinha um compromisso com horas bem determinadas, uma analise ao sangue que tinha que ser realizada três horas depois do almoço, calculei que o tempo chegava, e fui vaguear para um centro comercial.
Pelo aproximar da hora, dirigi-me para o laboratório, o espaço entre o centro comercial e o laboratório não era mais que cem metros. Por isso enquanto me deslocava ia olhando distraidamente à minha volta.   
Sem saber de onde uma mulher talvez na casa dos quarenta anos, vestida com descrição no rosto sinais de uma intensa tristeza, mostrando firmeza nos passos que dava, aproximou-se de mim entre resoluta e alguma timidez, parou a minha frente e com o olhar meio virado para o chão, com uma voz cheia de doçura mas que saía longínqua.
- Quero vir viver para a cidade- Interrompeu a frase como quem arruma as ideias. E repetiu
- Quero vir viver para a cidade.
Fiquei sem saber que responder, ela baixou mais o rosto à espera de uma resposta.
- Na cidade existem diversas imobiliárias, algumas também tratam de contratos de arrendamento- Balbuciei a medo
- Quero vir viver para a cidade- Voltou a repetir, agora com mais força, e continuou.
- Pode ajudar-me a procurar casa?
Fiquei sem saber que responder, olhei para o relógio como um processo de fuga, e sem jeito respondi.
- Lamento mas tenho que realizar um exame médico.
Atabalhoadamente tentei indicar o caminho para uma imobiliária, no rosto dela transpareceu por momentos a mágoa de um desgosto real, levantou a cabeça despediu-se com secura, e coberta pelo manto da invisibilidade, aparentemente seguiu as minhas indicações.
Entrei na porta de acesso ao laboratório, parei uns segundos no hall de entrada, voltei-me e saí a correr. Todas as pessoas me pareciam sombras dela, sabia que se seguisse na direção por mim indicada não poderia estar longe, subi pelo lado esquerdo da Avenida, desci pelo lado direito, todas as pessoas com quem me cruzei eram apenas sombras.
Voltei ao laboratório, realizei os exames num silêncio atroz, que levou a enfermeira a perguntar.
- Está tudo bem consigo? Passa-se alguma coisa? Está a sentir-se mal?
- Não, está tudo bem.- Respondi ausente.
A enfermeira terminou a recolha do sangue, retirei-me e voltei à rua com a ilusão de que tudo se voltaria a repetir e desta vez agiria diferente.
Com passos incertos e inseguros fui percorrendo as ruas que confluíam para o ponto em que se tinha dado o encontro.
Nem vestígios e dei por mim a pensar, que senão ouvisse a voz dela, mesmo que a visse não a reconheceria.
Que restou? Apenas uma sombra coberta por um manto de invisibilidade, rompido apenas por uma voz, que ainda hoje seria capaz de reconhecer.




                                                                                        Herminio














quarta-feira, 8 de agosto de 2018

INVISÍVEIS

Resultado de imagem para enfermaria à noite




INVISÍVEIS
Imobilizado na cama de um hospital, depois de uma cirurgia motivada por um problema cardíaco, a colocação de diversos instrumentos de controlo e apoio a algumas funções fisiológicas, limitava e muito qualquer movimento. Esta imobilidade no entanto era quebrada com regularidade por efeitos de mudança de posicionamento.
O tempo passava lento e monótono, a ronda habitual do pessoal hospitalar, médicos, enfermeiras e pessoal auxiliar, representava uma quebra na minha solidão, que não no meu silêncio, a máscara que ia normalizando a minha respiração limitava a possibilidade de articular qualquer palavra.
O bloco onde me encontrava, Cuidados Intermédios, como todos os espaços pós operatórios, era austero silencioso e austero. Um pouco por efeito da anestesia e muito pela circunstância de a iluminação ser totalmente artificial, com longos períodos de penumbra, causava uma desorientação temporal e mesmo espacial, o sentido do tempo e do espaço perdiam-se.
Não sei que horas eram se noite se dia, sentia-me cansado na posição em que me encontrava, esperava com impaciência que a ronda chegasse. Apesar de dispor de um sistema de chamada, tinha a noção que o tempo atribuído a cada posição era o correto.
A iluminação estava muito ténue, os passos cuidadosos no corredor soavam-me distantes, no meu quarto e apenas pelo respirar deduzi a presença de alguém na mesma situação que a minha. Nada sabia sobre ele, para mim, tal como certamente eu para ele, estava em presença de um invisível. Éramos invisíveis um para o outro.
De momento estava deitado sobre o lado direito de costas para a entrada, as portas de entrada eram de vidro, por isso qualquer variação de iluminação no corredor se refletia dentro do quarto, normalmente procedia a entrada de pessoal hospitalar, que vinham realizar as tarefas necessárias ao bem-estar dos doentes.
O cansaço venceu-me, o botão da campainha de chamada estava bem próximo da minha mão, com algum esforço alcancei-o, subitamente no corredor os passos soaram-me mais intensos, a minha sombra agigantou-se na parede, alguém tinha entrado no quarto, larguei da mão o botão da campainha que se escapou e ficou bem distante.
Um dos conjuntos de iluminação do tecto acendeu-se a iluminação ficou mais intensa, a minha sombra perdeu o ar ameaçador por efeito da sombra projectada pelo vulto, com leveza os passos soaram já dentro do quarto, senti que alguém invisível se dirigia para o lado oposto ao meu, sustive a respiração e pensei: há-de chegar a minha vez.
Ouvi o sussurro de algumas palavras, sem as conseguir entender, e fiquei à espera.
Pelo ruído percebi que tinham acabado os cuidados do outro doente, e aguardei.
Os passos não enganavam vinham na minha direção, chegaram bem perto de mim, de pé o vulto projetava um ligeira sombra na parede, rodou ligeiramente para observar um dos equipamentos, um toque de som moderado de um telemóvel, interrompeu os gestos que ficaram a meio, tudo parou, atendeu com cuidado o telemóvel e afastou-se um pouco, ouvi uma voz gritada, não percebi o que dizia mas era uma voz irada.
Com doçura o vulto respondeu: Mas mor eu ontem disse-te que…
A chamada caiu abruptamente, ouvi um som de irritante de chamada interrompida, em seguida tentativas de marcação, entrecortadas por soluços de choro sufocado, que tinham como resposta, uma duas três quatro um sem número de vezes, uma gravação que ia repetindo como martelo aos meus ouvidos:
- O número que marcou não tem Voice mail activo  
O choro aumentou, na parede a sombra do vulto estremecia.
Girou o corpo, em choro sufocado, lentamente se afastou de mim, enquanto se afastava a sua sombra diminuía na parede dando de novo lugar à minha. A luz apagou-se a penumbra voltou, os barulho dos passos foi-se tornando cada vez mais longínquo e desapareceram.
Alguém invisível atormentou a vida de outro invisível, e invisível fiquei cansado da minha posição.


                                                                         Herminio 

sexta-feira, 17 de março de 2017

A VINGANÇA

A VINGANÇA

Pelas nove horas da manhã de uma segunda-feira o Dr. Custódio Castro, importante advogado, de um conceituado escritório de advocacia, e contra o que era habitual, uma vez que chegava sempre bem cedo, ainda não estava presente, aproximava-se a hora de mais uma audiência no tribunal, de um julgamento muito mediático e a sua chegada era aguardada com ansiedade.
Um dos advogados mais novos da equipa, enquanto ele próprio ligava vezes sem conta para o telemóvel do Dr. Castro, sem resultados, solicitou a uma administrativa, que o tenta-se localizar.
Depois de ligar para o telemóvel que estava inacessível, para a casa do advogado, cuja esposa se mostrou surpreendida e preocupada, pois para ela o marido já há muito que devia estar no escritório.
No contacto entre o escritório e a esposa do Dr. Custódio Castro ficou decidido esperar mais algum tempo, uma vez que a esposa sabia que o marido se tinha deslocado, com um irmão à terra natal para tratar de assuntos relacionados com a morte de um outro irmão, acontecida num hospital da cidade, hospital em que trabalhava como médico o Dr. António Castro, seu cunhado.
Sabia que o cunhado falecido vivia sozinho, e levava uma vida de misantropo, embora se constasse que teria uma fortuna bem interessante.
A família fazia parte, da enorme massa daqueles que se viram obrigados a abandonar as antigas colónias, no caso Angola, onde o pai José Castro, tinha construído uma rede de negócios ligado aos diamantes, mantendo-se porém estritamente nos limites da lei.
Nos últimos anos por precaução tinha estabelecido contactos bem fecundos com pessoas da chamada metrópole, ligadas à joalharia e ao artesanato de ouro, precavido e atento ao mundo da moda, criou relações com estilitas de joias personalizadas, abdicou da quantidade e especializou-se na qualidade e valor. Os seus clientes tinham um serviço exclusivo à medida do seu gosto pessoal, além da total descrição em relação ao preço.
A saída forçada de Angola foi facilmente ultrapassada e a família nunca passou dificuldades, os seus três filhos: Carlos, António, e Custódio, com idades bem aproximadas cedo se adaptaram à nova vida. A família instalou-se na casa que já possuíam numa pequena cidade, conhecida pelos seus artesãos no trabalho do ouro.
José Castro que não tinha interesse em depender de outros no fabrico do seu produto, nos seus contactos com os fabricantes, cedo começou a avaliar, os artesãos mais hábeis e cujas peças tinham qualidade e perfeição. Não lhe interessavam muitos, mas preferia manter um controlo total, sobre aquilo que fornecia aos seus clientes.
Rapidamente ofereceu a alguns artesãos, um vencimento bem alto, para eles uma verdadeira fortuna, com a condição de trabalho em exclusivo e sigilo total, sobre clientes e produtos. 
Quando a vida parecia ter-se normalizado para toda a família, a esposa de José Castro foi vítima de uma doença, que em poucos meses o deixou viúvo. José Castro fechou-se mais nos negócios, tentou que os filhos se interessassem, mas apenas Carlos, que não mostrava grande apetência para os estudos, se começou a envolver tanto nos negócios, como no fabrico das jóias, mostrando sensibilidade para perceber os gostos dos clientes, que sendo poucos eram bem exigentes.
António enveredou pela medicina e fixou-se na cidade onde estudou, o seu irmão Custódio seguiu direito na mesma cidade, e lá iniciou a carreira de advogado e mais tarde juntamente com outros colegas, criaram um escritório que rapidamente adquiriu prestígio.
Regressemos cerca de dez anos atrás, quando Carlos noivo e com casamento marcado com Joana, pela qual tinha uma adoração intensa, mas que não era correspondido de igual forma, Joana aceitou o pedido de casamento pela estabilidade que a sua vida teria ao casar-se com Carlos.
Além disso sentia por ele uma forte amizade, semelhante áquilo que é costume chamar de amor.
As coisas precipitaram-se e perante o espanto de todos, ainda mais incompreensivelmente para os que conheciam a família, o irmão de Carlos, António, num arrebatamento de paixão, que por certo já há muito lhe roía as entranhas, iniciou com a que estava destinada a ser sua cunhada, uma relação tórrida que fez gorar o casamento, levou o pai a uma profunda depressão, com a trágica saída do suicídio, Carlos entregou-se a um isolamento total, só quebrado pelas relações obrigatórias da continuação do negócio do pai. 
Durante os últimos tempos da vida do pai, Custódio Castro o advogado tornou-se presença assídua junto do pai, na maioria das vezes acompanhado por um colega de escritório, mantendo com o pai discretas conversas. O que é certo quando da leitura do testamento, Carlos embora sem grandes reclamações se sentiu, mais uma vez traído.
A partir desse momento a relação dos irmãos, António e Custódio com Carlos, terminaram.
António ao fim de pouco mais de dois anos de uma paixão extrema com Joana, da qual nasceu uma filha, derivou para uma relação conflituosa, que rapidamente levou à separação de ambos. Tanto António como Joana, recomeçaram as suas vidas, mantendo o contacto necessário e suficiente por causa da filha de ambos.
Carlos continuou a dedicar-se em exclusivo à sua actividade, não se lhe conhecia amigos e nunca mais olhou sequer para uma mulher.
A única mulher com quem tinha proximidade era uma empregada que já tinha servido os seus pais e continuou ao seu serviço, discreta e sempre fiel, tendo com ele algumas liberdades que a mais ninguém era permitido.
A dedicação exclusiva ao trabalho, uma austeridade de gastos onde não entravam quaisquer despesas que não fossem absolutamente necessárias. Austeridade muito perto da absoluta avareza, em poucos anos permitiram-lhe amealhar uma fortuna. Juntar essa fortuna foi facilitada, por ser ele o único a saber o esconderijo onde o pai, guardava uma quantidade de diamantes bem significativa.
Dos pais herdou a casa da cidade, no rés-do-chão da qual estava instalada uma joalharia da família, e uma quinta numa aldeia nos limites da cidade, com uma casa senhoril em ruinas e a casa do caseiro. Todo o dinheiro que ele sabia que era bastante, tinha sido repartido pelos outros irmãos, além de outros valores como joias e das quais não viu nem rasto. Ainda esteve tentado a revelar a existência dos diamantes, mas perante a leitura do testamento, o segredo ficou com ele.
Parecendo ignorar a forma como os irmãos o trataram, mergulhou obsessivamente no trabalho, ao fim de três ou quatro anos resolveu construir na quinta uma casa, mais parecida com um bunker, de fora a casa parecia um bloco único de betão não sendo visível à vista nem portas nem janelas.
Quando expôs num gabinete de arquitetura o que desejava, mostrando claramente que tinha as ideias amadurecidas e claras, obteve como resposta um desabafo de um dos arquitetos:
- Não sei o que espera de nós e o que fez vir aqui, mas tentaremos dar resposta ao que nos pede.
A casa relativamente pequena, dispunha de dois quartos, uma pequena sala comum, cozinha hall de entrada, duas casas de banho e um escritório relativamente amplo, tinha uma ligação direta para a oficina, que também tinha sido transferida para a quinta, para a garagem localizada na cave e para uma casa forte numa subcave logo abaixo da garagem, enquanto a garagem se encontrava ligeiramente acima do nível do solo, a casa forte era totalmente inacessível por fora, colocando graves problemas de ventilação, Carlos porém mostrou-se inflexível, a casa forte teria que ficar localizada aí e com acesso apenas pelo escritório. Os custos adicionais não eram problema.
Em cerca de um ano as obras terminaram, e rapidamente Carlos se mudou para a nova casa.
Continuou isolado, sem mais contactos que não fossem fornecedores e clientes, e uma relação estritamente profissional com os artesãos que continuaram a trabalhar com ele, tal como com uma administrativa que trabalhava na empresa.
O seu prestígio como fabricante de qualidade e cumpridor com prazos, fizeram que mesmo em épocas menos boas nunca lhe faltassem clientes. A casa tinha uma arquitectura que lhes garantia uma discrição absoluta. A entrada de carro era feita a partir da entrada do portão por uma espécie de túnel de betão que os levava diretamente à ampla garagem e daí à casa. Tudo era invisível da rua e mesmo da oficina e da casa do caseiro, que tinha ordens estritas, para tratar do jardim apenas em alguns dias por mês, previamente marcados, tratar dos cães de guarda solta-los à noite e os voltar a colocar na jaula pela manhã. No resto toda a quinta era por conta do caseiro.
A vida que levava o rancor que sentia e nunca extravasava, mas cada vez o tornava mais amargo e intratável, tornaram-no fisicamente frágil, começou a emagrecer aparentemente sem causa, mas só perante a insistência da sua velha empregada, a única que lhe falava sem receio, resolveu ir a um médico.
Ao médico que o atendeu não lhe custou compreender, que apesar de Carlos ser ainda novo, não tinha quarenta anos, o caso lhe parecia bem grave, e pediu-lhe que fizesse um conjunto de exames o mais rápido possível.
Quando saiu do consultório médico, Carlos dirigiu-se ao advogado com quem costumava tratar de assuntos da sua empresa. E depois de uma longa conversa, em que acertou diversos pormenores de futuro, saiu respirou profundamente, coisa que já não fazia há muito, e tratou de marcar os exames pedidos pelo médico.
Cerca de quinze dias depois recebeu uma chamada urgente do médico, pois precisava de conversar com ele o mais rápido possível. 
Carlos tinha pedido à sua funcionária para levantar todos os exames e os colocar no consultório do médico, tal como tinha previamente combinado com ele.
Combinou com o médico que iria lá no dia seguinte. Depois tomou uma decisão, reuniu os seus colaboradores, pedindo-lhes que entrassem em sua casa, perante o espanto destes, que não estavam habituados a estas atitudes, na sala tinha a mesa posta para um lanche substancial, como se tratasse de algum acontecimento especial. E disse-lhes para se servirem. Com um misto de estranheza e timidez, muito lentamente começaram servirem-se, enquanto esperavam o que se seguiria.
Com a aparência de frieza, mas onde se notava alguma emoção, comunicou-lhes que estava doente, provavelmente com gravidade, por isso lhes pedia que continuassem a tratar bem os seus clientes e que ele não se esqueceria da importância que tinham tido na sua vida. Sabia que cada um saberia fazer bem as suas funções.
No dia seguinte dirigiu-se ao consultório médico, mal chegou foi logo atendido e pela cara do médico percebeu que a situação era mesmo grave.
O médico foi direto ao assunto e colocou as coisas de forma clara.
- O seu caso é bem grave, muito grave mesmo, já comuniquei para o Hospital que me parece melhor para situações como a sua, penso que deve ser imediatamente internado.
- Se é assim quando vou?- Perguntou ele secamente e sem emoção aparente
- A minha empregada chama uma ambulância e segue imediatamente para o Hospital, eu entro em contacto com um meu condiscípulo, e ele estará lá a sua espera.
- Não vinha preparado.- Disse com algum enfado e pela necessidade de dizer alguma coisa
- Não se preocupe, trata-se disso depois.
A ambulância chegou rapidamente o médico juntou os exames realizados, acrescentou o relatório que elaborou, e entregou a um dos tripulantes da ambulância, com a recomendação de que a sua espera estaria lá um médico.
Quando a ambulância partiu, dirigiu-se ao seu gabinete e iniciou de imediato um telefonema.
- Olá estás bom Custódio?
- Olá tudo bem, então que te leva a um telefonema a esta hora?
- Saiu daqui um doente, receio bem pelo seu estado, é curioso chama-se Carlos Castro, mas não deve ter nada a ver contigo.
- Que faz? Que idade tem?
- Julgo que é ourives ou coisa parecida, a idade quarenta anos. Porquê essas perguntas?
Durante uns longos segundos, instalou-se um profundo silêncio, até que do outro lado da linha e com um tremor na voz se ouviu.
- É meu irmão.
E desligou abruptamente.
A situação tinha de facto atingido o limite, em menos de uma semana e apesar de todos os esforços da medicina Carlos faleceu.
Custódio que já tinha comunicado o internamento de Carlos ao seu irmão António, e a Joana que quando teve conhecimento lhe fez uma visita, também lhes comunicou a sua a morte, e uma vez que Carlos não tinha mais família trataram de todos os procedimentos para o funeral, que se realizou na cidade natal.
Durante o velório um senhor já com alguma idade e discretamente, apresentou-se como advogado da empresa de Carlos e pediu aos irmãos se era possível uma pequena conversa, bem como gostaria de ser informado se estaria ali alguma senhora chamada Joana.
António deduziu a que Joana se referia o seu colega advogado, mostrou disponibilidade para essa conversa que teria que ser discreta e pouco demorada.
Retiraram-se para um espaço mais reservado da casa mortuária, informaram Joana que acedeu a estar presente, o advogado pediu desculpa pelo incómodo da situação dizendo que seria muito breve.
- Como sabem durante anos e até este momento, fui advogado da empresa que era do vosso pai e agora do vosso irmão, solicitou-me ele que fosse fiel depositário do seu testamento e que este fosse lido quinze dias depois da sua morte. A condição única para a leitura do testamento, sem a qual este perderá validade, e será substituído por um segundo testamento do qual também sou depositário, é a presença exclusiva dos irmãos António e Custódio bem como da Sra. Joana, que estão aqui presentes. Tenho aqui uma carta convocatória, que entregarei a cada um, para a vossa presença no meu escritório às 16.00 horas daqui a duas semanas. Obrigado pela vossa atenção e até breve.
Entregou os envelopes com a convocatória e saiu discretamente.
Na data marcada, no escritório do advogado fiel depositário do testamento, comparecerem como o exigido pelo irmão Carlos, os irmãos; António e Custódio, acompanhados de Joana, os três contavam que a leitura fosse rápida, combinaram deslocarem-se apenas num único carro e assim fizeram.
O advogado fiel depositário do testamento, cumprimentou-os e pediu-lhe que se sentassem tomou a palavra.
- O testamento de Carlos é um pouco estranho, mas a mim compete fazer cumprir o que ele estabeleceu. Por isso vou ler:
Pegou num envelope, retirou dele uma folha, mostrou a assinatura devidamente reconhecida, um atestado médico que confirmava que Carlos estava em pleno uso de todas as faculdades. E iniciou a leitura do testamento propriamente dito.
- Aos meus irmãos Custódio e António à minha ex noiva Joana, deixo tudo o que se encontra na casa forte localizada na cave da minha atual morada, a divisão entre os herdeiros indicados será equitativa e tenho a certeza que cada um, não desejará mais do que aquilo que lhe estiver destinado. Na mesma casa forte encontra-se localizado um pequeno cofre, onde guardei o máximo que vos poderia desejar.
Finda a leitura o advogado entregou a cada um dois envelopes. Um com as chaves e o código de acesso à casa forte, outro com as chaves e o código de acesso ao pequeno cofre. A casa forte tal como o cofre precisava de três chaves e de seis dígitos, cada. O advogado também lhes entregou o comando do portão de entrada de veículos e as chaves da porta de casa. E concluiu com uma recomendação.
- Pelas instruções do falecido, fiquei encarregue de tratar de todas as formalidades que houver necessidade de tratar, nos próximos sete dias. Espero pelo vosso contacto. Um último aviso, já me esquecia, junto à porta de entrada do lado esquerdo encontra-se o quadro do alarme, têm trinta segundos para o desligar, este é o código.
Entregou novo envelope além de uma cópia do testamento, perguntou-lhes se sabiam onde se situava a quinta e como chegar lá.
Despediram-se do advogado, agradeceram a cordialidade do tratamento e dirigiram-se para a casa do irmão.
Pela primeira vez os irmãos Custódio e António, entraram na casa de Carlos e ficaram espantados com a estranha opção do irmão.
A velha casa tinha sido totalmente arrasada, dando lugar a uma autêntica fortaleza, em todas as janelas fortes grades de ferro, câmaras de vigilância, um aspecto global, frio e duro. Uma robusta porta de segurança guardava a entrada. Fazendo um contraste com o jardim bastante bem cuidado, pois o tempo primaveril ajudava ao florescer de muitas e variadas plantas, que além da cor faziam sentir os seus aromas. Os cantos dos pássaros davam ao ambiente um tom alegre.
Custódio abriu a porta dirigiu-se apressadamente para o quadro do alarme, que desativou e entraram sem problemas. 
Logo que fecharam a porta notaram um silêncio opressor, a casa tinha sido construída totalmente insonorizada, nada de fora chegava nem sons nem cheiros, Joana por necessidade e curiosidade voltou a abrir a porta, abrindo os pulmões ao ar fresco, encheu-se de coragem voltou a entrar e fechou a porta. Os dois irmãos já se encontravam no escritório e não lhe foi difícil encontrar a porta de acesso à cave. Umas escadas um pouco íngremes mas bem iluminadas. Esperaram por Joana e iniciaram a descida, chegaram a um pequeno patamar, com duas saídas uma no mesmo plano com indicação de oficina, e outra sem qualquer indicação que deduziram que fosse a casa forte. A iluminação continuava muito boa, ao fim de alguns degraus chegaram a novo patamar e depararam com a entrada para a casa forte. Nos envelopes que eram portadores, era descrita a ordem para a abertura da porta blindada.
Facilmente abriram a porta e encontraram-se num compartimento relativamente pequeno, não teria mais que dez metros quadrados, e com cerca de dois metros de altura, as paredes cobertas de estantes, com pequenas caixas com indicação do tipo de jóias que continham, numa das estantes estavam algumas barras de ouro, as estantes faziam fazia diminuir o espaço de circulação disponível, levando a uma sensação de sufoco, dispunha ainda de uma secretaria e de uma cadeira. Num canto, em lugar de destaque e embutido na parede, encontrava-se o pequeno cofre.
Com as chaves do cofre e senhores dos códigos, precipitaram-se para o cofre e pela ordem estabelecida, sentiram que o cofre ficou aberto, mas porém por motivos que não descortinavam a porta ofereceu alguma resistência à abertura total. António o mais expedito puxou com quanta força tinha, sentiu uma espécie de baque, como se alguma coisa se tivesse partido, a porta soltou-se trazendo com ela um cabo de aço e na ponta um tampão, a porta caiu ao chão partiu-se em mil bocados, ouviram a porta da casa forte a bater com estrondo, a iluminação apagou-se fez-se silêncio, ligaram os telemóveis viram que estavam sem rede, dirigiram-se iluminados pelos telemóveis para a saída, e repararam que a porta não tinha forma de ser aberta por dentro, bateram à porta e gritaram desesperados, compreenderam que ninguém os iria ouvir. Começaram a sentir tonturas ao mesmo tempo que ouviam o som de uma ligeira brisa, procedia do cofre, compreenderam que se tratava de uma entrada de gás que tinha sido activada pela abertura do cofre depressa descobriram que Carlos tinha programado obsessivamente para aquele momento, uma cruel vingança. As baterias dos telemóveis foram perdendo carga e o espaço mergulhou na escuridão absoluta, gradualmente, a começar por Joana, foram caindo ao chão, inanimados.
Como de costume todos os dias de semana bem cedo, apesar de saber que Carlos já não era vivo, a empregada entrou em casa, notou que não havia energia, amaldiçoou a EDP, deu uma volta pela casa toda, viu no escritório a porta de acesso à cave aberta, soltou uma imprecaução pelo seu esquecimento, pois só podia ser ela que a tinha deixado aberta, sentou-se na cadeira do patrão, saindo-lhe uma lagrima furtiva. E concluindo que não estava ali a fazer nada, vagarosamente voltou para a sua casa.
Cumprindo o horário habitual, pelas nove horas os artesãos dirigiram-se para a oficina, manifestando entre si sentimentos de preocupação sobre o seu futuro. Um dos artesãos ao iniciar o trabalho, recomeçou a tarefa de terminar um objeto que necessitava de um acabamento mais cuidado, tentou acender um maçarico a gás, mas não conseguiu, desabafando com um colega.
- Ainda há alguns dias o depósito foi cheio, é impossível que o gás tenha acabado.
Mudou de maçarico e o resultado foi o mesmo. Dirigiu-se ao depósito que se encontrava no exterior da oficina, e para seu espanto o manómetro indicava pressão zero, o depósito encontrava-se totalmente vazio.
Alertou os companheiros, só podia haver uma fuga e era necessário chamar os técnicos da empresa fornecedora de gás.
Ao fim da tarde desse dia, a esposa do advogado cansada e já muito preocupada pelo marido, telefonou para o advogado, que confirmou a presença do marido do cunhado e acompanhados de Dona Joana, no sábado tal como o combinado, e que tanto quanto sabia, se tinham dirigido à casa do irmão falecido.
Alarmada e em pânico, tentou entrar em contacto com as outras pessoas envolvidas, sem resultado, ligou seguidamente com o companheiro da Joana, que também nada sabia, acontecendo o mesmo com a esposa do médico. Juntos alertaram as autoridades, e dirigiram-se para a cidade de Carlos. Sem a menor ideia do que se teria passado.
Na casa de Carlos as autoridades encontraram a garagem aberta, e lá dentro o carro de António o advogado, e concluíram que as três pessoas desaparecidas, tinham estado naquele local. Já era tarde, tinha anoitecido, e a garagem estava sem energia eléctrica.
Com a chave disponibilizada pela empregada, que os informou que a luz estava avariada, entraram com cuidado casa.
Um dos agentes com a ajuda de uma lanterna, procurou o quadro eléctrico, encontrando-o facilmente, e mais facilmente ainda percebeu que a falta de energia não se devia a avaria, mas no quadro os disjuntores de protecção se encontrarem desligados.
Informou os colegas, que por precaução e com as lanternas deram uma volta pela casa, nada encontraram que lhes chamasse à atenção. Ligaram a energia, ouviram o barulho de uma explosão abafada, a casa tremeu ligeiramente, voltou a escuridão e o silêncio.
Quando não existia risco algum as autoridades, entraram na casa forte, defrontando-se com o caos total, as estantes tinham sido arrancadas, tudo o que continham estava espalhado anarquicamente, naquele caos e anarquia os três corpos deitados no chão, desfeitos, sem qualquer sinal de vida. Mortos pelo gás, desfeitos pela explosão.
Ao analisar todo o espaço, e com especial o pequeno cofre, descobriram o tubo engenhosamente colocado, reservando para a retirada do cofre uma análise mais cuidada, dentro do cofre bem acessível mas protegida embutida numa das paredes do cofre, uma pequena caixa contendo um envelope, com a seguinte mensagem.
- Se esta carta for lida, por alguém que não eu, é sinal que o meu testamento foi cumprido, e lembro o que deixei escrito. “a divisão entre os herdeiros indicados, será equitativa e tenho a certeza que cada um, não desejará mais do que aquilo que lhe estiver destinado.”
Espero que a quantidade de gás, os tenha levado comigo para o Inferno. Local onde vivi durante todo este tempo.
                                                       Carlos 
                                                                                                              Herminio 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O PAÍS DA MEDIDA DA AMIZADE



A FABULOSA VIDA DE MATILDE
 A AMIZADE
Matilde estava só em casa, sentada junto a uma mesa onde estava instalado um computador ligado à NET e onde tentava matar o aborrecimento daqueles dias, os seus pensamentos passavam com lentidão mas estranhamente abertos à novidade, queria um tempo diferente, sentia enfado pelo tempo que vivia entediante e desinteressante, o dia quente de Verão a modorra que ela sentia convidavam à inactividade. Subitamente, no entanto, o som de passos no chão rasgando o silêncio da casa, colocaram-na em estado e alerta, e sentiu algum medo, àquela hora não era normal alguém entrar dentro de casa sem aviso, os passos continuaram, sem grande convicção gritou:
- Mãe, és tu? – o silêncio manteve-se, voltou a falar- Quem está aí?
Não obtendo resposta, Matilde apesar do medo cada vez mais intenso, levantou-se para tentar identificar a origem dos passos, tentando dominar-se, ao mesmo tempo começava a pensar em gritar sentindo no entanto a voz presa na garganta. A casa não era grande em breve (?), fosse, quem quer que fosse, ou o que fosse, estaria junto dela muito rapidamente. Os passos continuavam a ouvir-se, sempre à mesma cadência e mesma altura, porém, era como se esse alguém estivesse a caminhar sem se deslocar, ficou atenta, apurou os ouvidos, escutou com o máximo de atenção e paradoxalmente com o mesmo ritmo e o mesmo volume o som parecia-lhe vir de todos os lados da casa. Entrou em pânico, ficou paralisada não conseguindo articular nenhum som e muito menos gritar.  Tentou controlar a respiração, durante uns segundos pensou no que fazer, repentinamente começou a correr em direcção à porta, tropeçou num dos tapetes,  desequilibrou-se, bateu com a cabeça no canto de um móvel e caiu no chão, inanimada.  
Um silêncio suave começou a fazer-se sentir em toda a casa, o corpo de Matilde mantinha-se imóvel, estendido no chão. O tempo passava e nada parecia mudar.
Numa observação mais cuidada notava-se que Matilde começava a mexer-se, ao princípio  imperceptivalmente, finalmente os movimentos cada vez mais visíveis, mas no seu rosto começou a notar-se apreensão e espanto, o local onde se encontrava nada tinha a ver com a sua casa. Estava deitada num relvado bem tratado e à sombra de uma frondosa árvore, a maciez da relva e os tons de cor provenientes das mais variadas plantas visíveis à sua volta, conjugado com suaves e agradáveis aromas trazidos por uma fresca brisa, fizeram-na pensar se não estaria no paraíso, lentamente tentou levantar-se e notou que o podia fazer sem grande esforço, já de pé notou que se sentia bem, no entanto uma pequena dor de cabeça lembrou-lhe a queda, ao levar a mão ao ponto onde se acentuava a dor de cabeça, constatou a existência de um hematoma, com uma dimensão que a assustou, um grande galo, diria a sua mãe.
Apeteceu-lhe chorar, só, num local desconhecido a que  tinha ido parar de forma inexplicável, reuniu toda a energia que foi capaz e gritou, num misto de pedido de socorro e de choro incontrolável, um eco foi repetindo os seus apelos sem os resultados que ela desesperadamente procurava. Sentou-se na relva e chorou convulsivamente. Debruçada sobre o peito e com as mãos no rosto, deu largas ao seu medo e desespero.
Entregue aos seus sentimentos, não notou que mansamente alguém se ia aproximando, o macio tapete da relva o tamanho e a estrutura física de quem se aproximava, facilitava essa aproximação furtiva. Quem se aproximava não aparentava ter intenções agressivas, o seu aspecto era uma mistura entre um duende e um ser humano, sendo impossível de identificar com rigor, pois em cada instante parecia mudar de forma, mantendo apenas a altura, as próprias cores e formas da roupa que trazia vestida, variavam segundo o seu aspecto e tamanho, ora apresentava cores vivas e variadas, como apresentava uma roupa e um aspecto em tudo semelhante a Matilde.
Era impossível acompanhar e compreender o que estava a acontecer.
Enquanto Matilde  continuava a dar largas ao seu desespero, essa forma hibrida e variável aproximou-se e tocou levemente nas costas de Matilde, que perante a inesperada surpresa, deu um salto brusco abriu a boca mas foi incapaz de articular qualquer som. 
De pé notou que esse ser era bem pequeno, mas incrivelmente parecido com ela, e com cadência regular continuava a mudar de forma, mantendo sempre no entanto na face uma incrível semelhança com ela.
O ar pacífico e cheio de ternura com que os olhos a miravam, acalmaram-na e o medo esfumou-se do seu espírito.
- Estou aqui, nunca estive noutro sítio, porque vivo em ti. Ou melhor sou a medida da tua capacidade de dares e conquistares amizade, sempre que confiares sem reservas em alguém, eu crescerei que atingirei a plenitude e será máxima a minha dimensão, sinal de que as tuas amizades merecem de ti a tua entrega total, estou aqui para te alertar se porventura os teus caminhos ou decisões não forem as mais justas. Mas para me ouvires tens que te escutar a ti. Não me vais encontrar nem te vais encontrar a ti, se não olhares bem para dentro do teu ser. Se olhares muito de perto verá apenas o exterior, descobrirás que quem vê de muito perto quase sempre vê o incerto, fica pela aparência, e se traçar o seu caminho pela aparência muitas vezes errará. Tenta olhar para o interior das coisas e de ti, e descobrirás o mundo, em cada minúscula parte, do visível e do invisível, pois em cada pequena parte está presente, todo o cosmos.
Ainda não te disse como me chamo. Como vês, sou como que uma tua gémea, se quiseres chama-me de “A Gémea.”
Matilde deixou-se como que embalar pelas palavras que ouvia, cuja origem pareciam vir de dentro de si embora a presença dessa espécie de gémea, lhe lembra-se que não seria assim, gradualmente foi serenando, endireitou o corpo totalmente o medo já tinha desaparecido e uma intensa serenidade invadiu-a, Começou a pensar que vivia uma das suas muitas fantasias, teria vergonha de gritar e chamar alguém, tinha a percepção de que não corria perigo, cheia de coragem com voz tão calma quanto podia disse:
- Mas afinal quem és tu? O que faço aqui, que local é este?
- Começo pelo local, este é o mundo da Medida da AMIZADE, em mim se reflete o valor das amizades que conquistaste. Explicar-te-ei enquanto te mostrar todo este mundo. Perguntaste o que fazes aqui: dentro de ti tens um coração aberto ao sonho e aberto à partilha de amizade sincera, só quem tem esse espírito encontra a chave de entrada neste mundo, e assim se abrirá a inteligência e o coração para valorizar o que é importante valorizar, daqui não sairás outra, mas mais capaz de traçares o teu próprio caminho, tomar-te-ão sempre como alguém diferente e serás alvo de alguma incompreensão. Queres conhecer este mundo para compreenderes quem te rodeia? Não conhecerás o futuro mas o retrato do presente. E a tua ligação a múltiplos acontecimentos de múltiplas pessoas. Aceitas fazer essa viagem?
- Que me acontecerá se recusar essa proposta?
- Nada, ficarás para sempre mais pobre e viverás na dúvida se essa decisão foi a certa. Nunca saberás a medida da amizade que os teus amigos te oferecem, nem serás capaz de avaliar se és justa para com essa amizade.
Matilde pensou uns segundos e resoluta:
- Aceito, quando começamos?
- Começamos já, mas primeiro vamos tratar da tua cabeça, colocar-te-ei este selo que é curativo e sempre que até aqui viajares esse será o sinal, que tens o privilégio de viajar neste mundo, para quem é capaz de dar amizade sem medida.
Estou em ti e sei que tens muitos sonhos, sei que o mundo precisa dos teus sonhos, não te substituirei nem nunca estarei presente para fazer por ti aquilo que tu podes e deves fazer sozinha, mas enquanto tu quiseres apenas para te animar, ou melhor para saberes que não estas só, eu estarei contigo. Em cada dia avaliaras se o teu caminho é o certo, mas sempre escolhido por ti, e que está viagem, que tal como a luz faz realçar as formas, venha a contribuir de alguma maneira para fazer brilhar em ti, tudo aquilo que tu tens de bom. Nessa altura tu serás de facto a Matilde, com sonhos não totalmente realizados, mas sempre em busca da tua realização plena. E assim contribuirás para mudar o mundo.
- Como é que posso mudar o mundo se vejo nele tanta maldade e traição, e se muitas das coisas que eu sinto, não passam de hipocrisias e mentiras?
- É bom que muitas coisas de mal sejam mentiras, é a prova que o mundo não está tão mau como parece, se todas essas maldades fossem verdade, o mundo seria um inferno.  
Iniciemos então a viagem, será como flutuar através do tempo e não do espaço, em frente temos o futuro, o que vês Matilde?
- Pessoas que eu conheço, umas com nitidez, outras quase sombras e outras que eu nunca vi, mas bem nítidas.
- Não verás mais do que isso do futuro, pois o futuro é aquilo que tu construíres cada dia no presente. As que vês com nitidez continuarão a fazer parte da tua vida, dependendo apenas de ti. As que parecem sombras são as que se afastarão ou que tu afastarás, se reparares notarás que entre estas, algumas estão em posição de quem se lamenta, ou por se terem afastado de ti, ou por não terem conquistado verdadeiramente a tua amizade. Os novos são aqueles que a vida te trará.
Viajaremos agora pelo tempo presente, não precisamos de mudar de direcção mas apenas de estado de alma. Que vês agora Matilde?
Matilde fixou o olhar num espaço que lhe parecia caótico e simultaneamente harmonioso, diante dela muitos grupos de pessoas, umas com olhar feliz outras de olhar triste, algumas bem nítidas outras nem tanto, muitas de costas impossíveis de identificar, muitas que eram sombras mas fixamente voltadas para ela, não as conseguia identificar, e caso curioso quando o seu olhar se fixava nelas a sua Gémea, tornava-se mais pequena e menos visível, quando porém se voltava para as que reconhecia nitidamente a Gémea atingia a plenitude da sua estatura. Estranho ainda era o que acontecia quando o seu olhar pousava nas pessoas com ar triste, e que ela reconhecia muito bem, nem eram muitas, mas estavam entre elas alguns dos seus maiores amigos. E neste caso a Gémea mantendo a mesma estatura e rosto parecido com o seu, transformava-se num duende com olhar perdido e triste. Matilde voltou-se para a Gémea observando-lhe:
- Não compreendo as diversas formas que vejo à minha frente, nem as tuas transformações.
A Gémea fez uns segundos de silêncio, e enquanto o seu corpo ia passando por múltiplas formas, fixou longamente os olhos em Matilde, como se olha-se bem para dentro da sua mente e perguntou:
- Queres mesmo que te explique, mesmo que te cause alguma dor?
Matilde já não se sentia capaz de recusar nada, estava disposta a aceitar tudo. E sem hesitação respondeu.
- Sim, quero perceber se for capaz, quero compreender aquilo que os meus olhos veem.
- Não são os teus olhos é o teu espírito. O grupo das pessoas felizes, são os teus amigos a quem dás e recebes amizade, o grupo das pessoas que estão de costas para ti, são as pessoas com quem te cruzaste na vida, mas com as quais nunca o afecto e a amizade aconteceu nem essas pessoas desejam, o grupo de pessoas que estão de rosto fixo em ti, é o grupo de pessoas com quem te cruzaste te admiram e que desejariam a tua amizade, mas tu nunca reparaste na sua existência. Finalmente o grupo da pessoas tristes, são aquelas que te têm verdadeira amizade e que de alguma maneira te feriram, e que precisam da tua amizade.
A Gémea acabou de falar, os olhos de Matilde estavam ligeiramente humedecidos. Soprava uma doce e calma brisa, ambas se mantiveram caladas. A Gémea colocou o seu braço nos ombros de Matilde.
A calma presente em todo o espaço, era propícia ao recolhimento, um sentimento de paz percorreu toda a alma de Matilde, suavemente e pesando bem as palavras. Voltou os olhos para a Gémea enquanto ia dizendo;
- Que valor tem a amizade, que não é capaz de compreender e perdoar?
A Gémea como que atingida por uma energia extraordinária, atingindo uma altura absolutamente descomunal, provocando em Matilde um espanto que ela jamais tinha sentido. Ao longe uma voz chegou com doçura a Matilde:
- É hora de regressares, compreendes a Amizade, a Amizade que dás tem o tamanho da tua alma.
 E uma mão como que vinda do espaço tocou-lhe na cabeça e Matilde adormeceu.
A mãe ao chegar a casa achou estranhou tanto silêncio, nem música no computador nem televisão ligada, pensou:
- Decerto saiu. - Entrou com cuidado dirigiu-se ao quarto onde Matilde costumava estar, e reparou que ela tinha adormecido, sobre o teclado do computador, com cuidado e muita ternura, aproximou-se dela e reparou num penso um pouco estranho que Matilde tinha na testa, um pouco assustada acordou-a
- Então Matilde que se passa? Que tens aí na cabeça?
- É o sinal para viajar para o país da Medida da Amizade.- Disse sem reflectir,  perante o espanto da mãe. 


                                                                                             Herminio Silva 

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