A VINGANÇA
Pelas
nove horas da manhã de uma segunda-feira o Dr. Custódio Castro, importante
advogado, de um conceituado escritório de advocacia, e contra o que era
habitual, uma vez que chegava sempre bem cedo, ainda não estava presente,
aproximava-se a hora de mais uma audiência no tribunal, de um julgamento muito
mediático e a sua chegada era aguardada com ansiedade.
Um
dos advogados mais novos da equipa, enquanto ele próprio ligava vezes sem conta
para o telemóvel do Dr. Castro, sem resultados, solicitou a uma administrativa,
que o tenta-se localizar.
Depois
de ligar para o telemóvel que estava inacessível, para a casa do advogado, cuja
esposa se mostrou surpreendida e preocupada, pois para ela o marido já há muito
que devia estar no escritório.
No
contacto entre o escritório e a esposa do Dr. Custódio Castro ficou decidido
esperar mais algum tempo, uma vez que a esposa sabia que o marido se tinha
deslocado, com um irmão à terra natal para tratar de assuntos relacionados com
a morte de um outro irmão, acontecida num hospital da cidade, hospital em que
trabalhava como médico o Dr. António Castro, seu cunhado.
Sabia
que o cunhado falecido vivia sozinho, e levava uma vida de misantropo, embora
se constasse que teria uma fortuna bem interessante.
A
família fazia parte, da enorme massa daqueles que se viram obrigados a
abandonar as antigas colónias, no caso Angola, onde o pai José Castro, tinha
construído uma rede de negócios ligado aos diamantes, mantendo-se porém
estritamente nos limites da lei.
Nos
últimos anos por precaução tinha estabelecido contactos bem fecundos com pessoas
da chamada metrópole, ligadas à joalharia e ao artesanato de ouro, precavido e
atento ao mundo da moda, criou relações com estilitas de joias personalizadas,
abdicou da quantidade e especializou-se na qualidade e valor. Os seus clientes
tinham um serviço exclusivo à medida do seu gosto pessoal, além da total
descrição em relação ao preço.
A
saída forçada de Angola foi facilmente ultrapassada e a família nunca passou
dificuldades, os seus três filhos: Carlos, António, e Custódio, com idades bem
aproximadas cedo se adaptaram à nova vida. A família instalou-se na casa que já
possuíam numa pequena cidade, conhecida pelos seus artesãos no trabalho do
ouro.
José
Castro que não tinha interesse em depender de outros no fabrico do seu produto,
nos seus contactos com os fabricantes, cedo começou a avaliar, os artesãos mais
hábeis e cujas peças tinham qualidade e perfeição. Não lhe interessavam muitos,
mas preferia manter um controlo total, sobre aquilo que fornecia aos seus
clientes.
Rapidamente
ofereceu a alguns artesãos, um vencimento bem alto, para eles uma verdadeira
fortuna, com a condição de trabalho em exclusivo e sigilo total, sobre clientes
e produtos.
Quando
a vida parecia ter-se normalizado para toda a família, a esposa de José Castro
foi vítima de uma doença, que em poucos meses o deixou viúvo. José Castro
fechou-se mais nos negócios, tentou que os filhos se interessassem, mas apenas
Carlos, que não mostrava grande apetência para os estudos, se começou a
envolver tanto nos negócios, como no fabrico das jóias, mostrando sensibilidade
para perceber os gostos dos clientes, que sendo poucos eram bem exigentes.
António
enveredou pela medicina e fixou-se na cidade onde estudou, o seu irmão Custódio
seguiu direito na mesma cidade, e lá iniciou a carreira de advogado e mais
tarde juntamente com outros colegas, criaram um escritório que rapidamente
adquiriu prestígio.
Regressemos
cerca de dez anos atrás, quando Carlos noivo e com casamento marcado com Joana,
pela qual tinha uma adoração intensa, mas que não era correspondido de igual
forma, Joana aceitou o pedido de casamento pela estabilidade que a sua vida
teria ao casar-se com Carlos.
Além
disso sentia por ele uma forte amizade, semelhante áquilo que é costume chamar
de amor.
As
coisas precipitaram-se e perante o espanto de todos, ainda mais
incompreensivelmente para os que conheciam a família, o irmão de Carlos,
António, num arrebatamento de paixão, que por certo já há muito lhe roía as
entranhas, iniciou com a que estava destinada a ser sua cunhada, uma relação
tórrida que fez gorar o casamento, levou o pai a uma profunda depressão, com a
trágica saída do suicídio, Carlos entregou-se a um isolamento total, só
quebrado pelas relações obrigatórias da continuação do negócio do pai.
Durante
os últimos tempos da vida do pai, Custódio Castro o advogado tornou-se presença
assídua junto do pai, na maioria das vezes acompanhado por um colega de
escritório, mantendo com o pai discretas conversas. O que é certo quando da
leitura do testamento, Carlos embora sem grandes reclamações se sentiu, mais
uma vez traído.
A
partir desse momento a relação dos irmãos, António e Custódio com Carlos,
terminaram.
António
ao fim de pouco mais de dois anos de uma paixão extrema com Joana, da qual
nasceu uma filha, derivou para uma relação conflituosa, que rapidamente levou à
separação de ambos. Tanto António como Joana, recomeçaram as suas vidas,
mantendo o contacto necessário e suficiente por causa da filha de ambos.
Carlos
continuou a dedicar-se em exclusivo à sua actividade, não se lhe conhecia amigos
e nunca mais olhou sequer para uma mulher.
A
única mulher com quem tinha proximidade era uma empregada que já tinha servido
os seus pais e continuou ao seu serviço, discreta e sempre fiel, tendo com ele
algumas liberdades que a mais ninguém era permitido.
A
dedicação exclusiva ao trabalho, uma austeridade de gastos onde não entravam
quaisquer despesas que não fossem absolutamente necessárias. Austeridade muito
perto da absoluta avareza, em poucos anos permitiram-lhe amealhar uma fortuna.
Juntar essa fortuna foi facilitada, por ser ele o único a saber o esconderijo
onde o pai, guardava uma quantidade de diamantes bem significativa.
Dos
pais herdou a casa da cidade, no rés-do-chão da qual estava instalada uma
joalharia da família, e uma quinta numa aldeia nos limites da cidade, com uma
casa senhoril em ruinas e a casa do caseiro. Todo o dinheiro que ele sabia que
era bastante, tinha sido repartido pelos outros irmãos, além de outros valores
como joias e das quais não viu nem rasto. Ainda esteve tentado a revelar a
existência dos diamantes, mas perante a leitura do testamento, o segredo ficou
com ele.
Parecendo
ignorar a forma como os irmãos o trataram, mergulhou obsessivamente no
trabalho, ao fim de três ou quatro anos resolveu construir na quinta uma casa,
mais parecida com um bunker, de fora a casa parecia um bloco único de betão não
sendo visível à vista nem portas nem janelas.
Quando
expôs num gabinete de arquitetura o que desejava, mostrando claramente que
tinha as ideias amadurecidas e claras, obteve como resposta um desabafo de um
dos arquitetos:
-
Não sei o que espera de nós e o que fez vir aqui, mas tentaremos dar resposta
ao que nos pede.
A
casa relativamente pequena, dispunha de dois quartos, uma pequena sala comum,
cozinha hall de entrada, duas casas de banho e um escritório relativamente
amplo, tinha uma ligação direta para a oficina, que também tinha sido
transferida para a quinta, para a garagem localizada na cave e para uma casa
forte numa subcave logo abaixo da garagem, enquanto a garagem se encontrava
ligeiramente acima do nível do solo, a casa forte era totalmente inacessível
por fora, colocando graves problemas de ventilação, Carlos porém mostrou-se
inflexível, a casa forte teria que ficar localizada aí e com acesso apenas pelo
escritório. Os custos adicionais não eram problema.
Em
cerca de um ano as obras terminaram, e rapidamente Carlos se mudou para a nova
casa.
Continuou
isolado, sem mais contactos que não fossem fornecedores e clientes, e uma
relação estritamente profissional com os artesãos que continuaram a trabalhar
com ele, tal como com uma administrativa que trabalhava na empresa.
O
seu prestígio como fabricante de qualidade e cumpridor com prazos, fizeram que
mesmo em épocas menos boas nunca lhe faltassem clientes. A casa tinha uma arquitectura que lhes garantia uma discrição absoluta. A entrada de carro era feita a partir
da entrada do portão por uma espécie de túnel de betão que os levava diretamente
à ampla garagem e daí à casa. Tudo era invisível da rua e mesmo da oficina e da
casa do caseiro, que tinha ordens estritas, para tratar do jardim apenas em
alguns dias por mês, previamente marcados, tratar dos cães de guarda solta-los
à noite e os voltar a colocar na jaula pela manhã. No resto toda a quinta era
por conta do caseiro.
A
vida que levava o rancor que sentia e nunca extravasava, mas cada vez o tornava
mais amargo e intratável, tornaram-no fisicamente frágil, começou a emagrecer
aparentemente sem causa, mas só perante a insistência da sua velha empregada, a
única que lhe falava sem receio, resolveu ir a um médico.
Ao
médico que o atendeu não lhe custou compreender, que apesar de Carlos ser ainda
novo, não tinha quarenta anos, o caso lhe parecia bem grave, e pediu-lhe que
fizesse um conjunto de exames o mais rápido possível.
Quando
saiu do consultório médico, Carlos dirigiu-se ao advogado com quem costumava
tratar de assuntos da sua empresa. E depois de uma longa conversa, em que
acertou diversos pormenores de futuro, saiu respirou profundamente, coisa que
já não fazia há muito, e tratou de marcar os exames pedidos pelo médico.
Cerca
de quinze dias depois recebeu uma chamada urgente do médico, pois precisava de
conversar com ele o mais rápido possível.
Carlos
tinha pedido à sua funcionária para levantar todos os exames e os colocar no
consultório do médico, tal como tinha previamente combinado com ele.
Combinou
com o médico que iria lá no dia seguinte. Depois tomou uma decisão, reuniu os
seus colaboradores, pedindo-lhes que entrassem em sua casa, perante o espanto
destes, que não estavam habituados a estas atitudes, na sala tinha a mesa posta
para um lanche substancial, como se tratasse de algum acontecimento especial. E
disse-lhes para se servirem. Com um misto de estranheza e timidez, muito lentamente
começaram servirem-se, enquanto esperavam o que se seguiria.
Com
a aparência de frieza, mas onde se notava alguma emoção, comunicou-lhes que
estava doente, provavelmente com gravidade, por isso lhes pedia que
continuassem a tratar bem os seus clientes e que ele não se esqueceria da
importância que tinham tido na sua vida. Sabia que cada um saberia fazer bem as
suas funções.
No
dia seguinte dirigiu-se ao consultório médico, mal chegou foi logo atendido e
pela cara do médico percebeu que a situação era mesmo grave.
O
médico foi direto ao assunto e colocou as coisas de forma clara.
-
O seu caso é bem grave, muito grave mesmo, já comuniquei para o Hospital que me
parece melhor para situações como a sua, penso que deve ser imediatamente
internado.
-
Se é assim quando vou?- Perguntou ele secamente e sem emoção aparente
-
A minha empregada chama uma ambulância e segue imediatamente para o Hospital,
eu entro em contacto com um meu condiscípulo, e ele estará lá a sua espera.
-
Não vinha preparado.- Disse com algum enfado e pela necessidade de dizer alguma
coisa
-
Não se preocupe, trata-se disso depois.
A
ambulância chegou rapidamente o médico juntou os exames realizados, acrescentou
o relatório que elaborou, e entregou a um dos tripulantes da ambulância, com a
recomendação de que a sua espera estaria lá um médico.
Quando
a ambulância partiu, dirigiu-se ao seu gabinete e iniciou de imediato um
telefonema.
-
Olá estás bom Custódio?
-
Olá tudo bem, então que te leva a um telefonema a esta hora?
-
Saiu daqui um doente, receio bem pelo seu estado, é curioso chama-se Carlos
Castro, mas não deve ter nada a ver contigo.
-
Que faz? Que idade tem?
-
Julgo que é ourives ou coisa parecida, a idade quarenta anos. Porquê essas
perguntas?
Durante
uns longos segundos, instalou-se um profundo silêncio, até que do outro lado da
linha e com um tremor na voz se ouviu.
-
É meu irmão.
E
desligou abruptamente.
A
situação tinha de facto atingido o limite, em menos de uma semana e apesar de
todos os esforços da medicina Carlos faleceu.
Custódio
que já tinha comunicado o internamento de Carlos ao seu irmão António, e a Joana
que quando teve conhecimento lhe fez uma visita, também lhes comunicou a sua a
morte, e uma vez que Carlos não tinha mais família trataram de todos os
procedimentos para o funeral, que se realizou na cidade natal.
Durante
o velório um senhor já com alguma idade e discretamente, apresentou-se como
advogado da empresa de Carlos e pediu aos irmãos se era possível uma pequena
conversa, bem como gostaria de ser informado se estaria ali alguma senhora
chamada Joana.
António
deduziu a que Joana se referia o seu colega advogado, mostrou disponibilidade
para essa conversa que teria que ser discreta e pouco demorada.
Retiraram-se
para um espaço mais reservado da casa mortuária, informaram Joana que acedeu a
estar presente, o advogado pediu desculpa pelo incómodo da situação dizendo que
seria muito breve.
-
Como sabem durante anos e até este momento, fui advogado da empresa que era do
vosso pai e agora do vosso irmão, solicitou-me ele que fosse fiel depositário
do seu testamento e que este fosse lido quinze dias depois da sua morte. A
condição única para a leitura do testamento, sem a qual este perderá validade,
e será substituído por um segundo testamento do qual também sou depositário, é
a presença exclusiva dos irmãos António e Custódio bem como da Sra. Joana, que
estão aqui presentes. Tenho aqui uma carta convocatória, que entregarei a cada
um, para a vossa presença no meu escritório às 16.00 horas daqui a duas
semanas. Obrigado pela vossa atenção e até breve.
Entregou
os envelopes com a convocatória e saiu discretamente.
Na
data marcada, no escritório do advogado fiel depositário do testamento,
comparecerem como o exigido pelo irmão Carlos, os irmãos; António e Custódio,
acompanhados de Joana, os três contavam que a leitura fosse rápida, combinaram
deslocarem-se apenas num único carro e assim fizeram.
O
advogado fiel depositário do testamento, cumprimentou-os e pediu-lhe que se
sentassem tomou a palavra.
-
O testamento de Carlos é um pouco estranho, mas a mim compete fazer cumprir o
que ele estabeleceu. Por isso vou ler:
Pegou
num envelope, retirou dele uma folha, mostrou a assinatura devidamente
reconhecida, um atestado médico que confirmava que Carlos estava em pleno uso
de todas as faculdades. E iniciou a leitura do testamento propriamente dito.
-
Aos meus irmãos Custódio e António à minha ex noiva Joana, deixo tudo o que se
encontra na casa forte localizada na cave da minha atual morada, a divisão
entre os herdeiros indicados será equitativa e tenho a certeza que cada um, não
desejará mais do que aquilo que lhe estiver destinado. Na mesma casa forte
encontra-se localizado um pequeno cofre, onde guardei o máximo que vos poderia
desejar.
Finda
a leitura o advogado entregou a cada um dois envelopes. Um com as chaves e o
código de acesso à casa forte, outro com as chaves e o código de acesso ao
pequeno cofre. A casa forte tal como o cofre precisava de três chaves e de seis
dígitos, cada. O advogado também lhes entregou o comando do portão de entrada
de veículos e as chaves da porta de casa. E concluiu com uma recomendação.
-
Pelas instruções do falecido, fiquei encarregue de tratar de todas as
formalidades que houver necessidade de tratar, nos próximos sete dias. Espero
pelo vosso contacto. Um último aviso, já me esquecia, junto à porta de entrada
do lado esquerdo encontra-se o quadro do alarme, têm trinta segundos para o
desligar, este é o código.
Entregou
novo envelope além de uma cópia do testamento, perguntou-lhes se sabiam onde se
situava a quinta e como chegar lá.
Despediram-se
do advogado, agradeceram a cordialidade do tratamento e dirigiram-se para a
casa do irmão.
Pela
primeira vez os irmãos Custódio e António, entraram na casa de Carlos e ficaram
espantados com a estranha opção do irmão.
A
velha casa tinha sido totalmente arrasada, dando lugar a uma autêntica
fortaleza, em todas as janelas fortes grades de ferro, câmaras de vigilância,
um aspecto global, frio e duro. Uma robusta porta de segurança guardava a
entrada. Fazendo um contraste com o jardim bastante bem cuidado, pois o tempo
primaveril ajudava ao florescer de muitas e variadas plantas, que além da cor
faziam sentir os seus aromas. Os cantos dos pássaros davam ao ambiente um tom
alegre.
Custódio
abriu a porta dirigiu-se apressadamente para o quadro do alarme, que desativou
e entraram sem problemas.
Logo
que fecharam a porta notaram um silêncio opressor, a casa tinha sido construída
totalmente insonorizada, nada de fora chegava nem sons nem cheiros, Joana por
necessidade e curiosidade voltou a abrir a porta, abrindo os pulmões ao ar
fresco, encheu-se de coragem voltou a entrar e fechou a porta. Os dois irmãos
já se encontravam no escritório e não lhe foi difícil encontrar a porta de
acesso à cave. Umas escadas um pouco íngremes mas bem iluminadas. Esperaram por
Joana e iniciaram a descida, chegaram a um pequeno patamar, com duas saídas uma
no mesmo plano com indicação de oficina, e outra sem qualquer indicação que
deduziram que fosse a casa forte. A iluminação continuava muito boa, ao fim de
alguns degraus chegaram a novo patamar e depararam com a entrada para a casa
forte. Nos envelopes que eram portadores, era descrita a ordem para a abertura
da porta blindada.
Facilmente
abriram a porta e encontraram-se num compartimento relativamente pequeno, não
teria mais que dez metros quadrados, e com cerca de dois metros de altura, as
paredes cobertas de estantes, com pequenas caixas com indicação do tipo de jóias que continham, numa das estantes estavam algumas barras de ouro, as
estantes faziam fazia diminuir o espaço de circulação disponível, levando a uma
sensação de sufoco, dispunha ainda de uma secretaria e de uma cadeira. Num
canto, em lugar de destaque e embutido na parede, encontrava-se o pequeno
cofre.
Com
as chaves do cofre e senhores dos códigos, precipitaram-se para o cofre e pela
ordem estabelecida, sentiram que o cofre ficou aberto, mas porém por motivos
que não descortinavam a porta ofereceu alguma resistência à abertura total.
António o mais expedito puxou com quanta força tinha, sentiu uma espécie de
baque, como se alguma coisa se tivesse partido, a porta soltou-se trazendo com
ela um cabo de aço e na ponta um tampão, a porta caiu ao chão partiu-se em mil
bocados, ouviram a porta da casa forte a bater com estrondo, a iluminação
apagou-se fez-se silêncio, ligaram os telemóveis viram que estavam sem rede,
dirigiram-se iluminados pelos telemóveis para a saída, e repararam que a porta
não tinha forma de ser aberta por dentro, bateram à porta e gritaram
desesperados, compreenderam que ninguém os iria ouvir. Começaram a sentir
tonturas ao mesmo tempo que ouviam o som de uma ligeira brisa, procedia do
cofre, compreenderam que se tratava de uma entrada de gás que tinha sido activada pela abertura do cofre depressa descobriram que Carlos tinha programado
obsessivamente para aquele momento, uma cruel vingança. As baterias dos
telemóveis foram perdendo carga e o espaço mergulhou na escuridão absoluta,
gradualmente, a começar por Joana, foram caindo ao chão, inanimados.
Como
de costume todos os dias de semana bem cedo, apesar de saber que Carlos já não
era vivo, a empregada entrou em casa, notou que não havia energia, amaldiçoou a
EDP, deu uma volta pela casa toda, viu no escritório a porta de acesso à cave
aberta, soltou uma imprecaução pelo seu esquecimento, pois só podia ser ela que
a tinha deixado aberta, sentou-se na cadeira do patrão, saindo-lhe uma lagrima
furtiva. E concluindo que não estava ali a fazer nada, vagarosamente voltou
para a sua casa.
Cumprindo
o horário habitual, pelas nove horas os artesãos dirigiram-se para a oficina,
manifestando entre si sentimentos de preocupação sobre o seu futuro. Um dos artesãos
ao iniciar o trabalho, recomeçou a tarefa de terminar um objeto que necessitava
de um acabamento mais cuidado, tentou acender um maçarico a gás, mas não
conseguiu, desabafando com um colega.
-
Ainda há alguns dias o depósito foi cheio, é impossível que o gás tenha
acabado.
Mudou
de maçarico e o resultado foi o mesmo. Dirigiu-se ao depósito que se encontrava
no exterior da oficina, e para seu espanto o manómetro indicava pressão zero, o
depósito encontrava-se totalmente vazio.
Alertou
os companheiros, só podia haver uma fuga e era necessário chamar os técnicos da
empresa fornecedora de gás.
Ao
fim da tarde desse dia, a esposa do advogado cansada e já muito preocupada pelo
marido, telefonou para o advogado, que confirmou a presença do marido do cunhado
e acompanhados de Dona Joana, no sábado tal como o combinado, e que tanto
quanto sabia, se tinham dirigido à casa do irmão falecido.
Alarmada
e em pânico, tentou entrar em contacto com as outras pessoas envolvidas, sem
resultado, ligou seguidamente com o companheiro da Joana, que também nada
sabia, acontecendo o mesmo com a esposa do médico. Juntos alertaram as
autoridades, e dirigiram-se para a cidade de Carlos. Sem a menor ideia do que
se teria passado.
Na
casa de Carlos as autoridades encontraram a garagem aberta, e lá dentro o carro
de António o advogado, e concluíram que as três pessoas desaparecidas, tinham
estado naquele local. Já era tarde, tinha anoitecido, e a garagem estava sem
energia eléctrica.
Com
a chave disponibilizada pela empregada, que os informou que a luz estava
avariada, entraram com cuidado casa.
Um
dos agentes com a ajuda de uma lanterna, procurou o quadro eléctrico,
encontrando-o facilmente, e mais facilmente ainda percebeu que a falta de
energia não se devia a avaria, mas no quadro os disjuntores de protecção se encontrarem desligados.
Informou
os colegas, que por precaução e com as lanternas deram uma volta pela casa,
nada encontraram que lhes chamasse à atenção. Ligaram a energia, ouviram o
barulho de uma explosão abafada, a casa tremeu ligeiramente, voltou a escuridão
e o silêncio.
Quando
não existia risco algum as autoridades, entraram na casa forte, defrontando-se
com o caos total, as estantes tinham sido arrancadas, tudo o que continham
estava espalhado anarquicamente, naquele caos e anarquia os três corpos
deitados no chão, desfeitos, sem qualquer sinal de vida. Mortos pelo gás,
desfeitos pela explosão.
Ao
analisar todo o espaço, e com especial o pequeno cofre, descobriram o tubo
engenhosamente colocado, reservando para a retirada do cofre uma análise mais cuidada,
dentro do cofre bem acessível mas protegida embutida numa das paredes do cofre,
uma pequena caixa contendo um envelope, com a seguinte mensagem.
-
Se esta carta for lida, por alguém que não eu, é sinal que o meu testamento foi
cumprido, e lembro o que deixei escrito. “a divisão entre os herdeiros
indicados, será equitativa e tenho a certeza que cada um, não desejará mais do que
aquilo que lhe estiver destinado.”
Espero
que a quantidade de gás, os tenha levado comigo para o Inferno. Local onde vivi
durante todo este tempo.
Carlos
Herminio
Herminio
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