CHOQUE
Sofia, responsável
pela cozinha e cantina daquela escola, todos os dias desde de há alguns meses à
hora de almoço se encontra junto ao balcão de distribuição das refeições, os
estudantes como sempre chegam aos magotes fazendo a algazarra do costume. No entanto
há nela um silencioso desespero. Trinta e cinco anos, uma confortável vida
familiar, marido, filho, situação económica razoável, tudo circunstâncias para
uma vida feliz. Desde já há alguns meses, que sentimentos caóticos e absurdos
habitam dentro dela.
Enquanto ela se
debatia com as suas angústias, na televisão em rodapé passava uma notícia: PROFESSORA
ACUSADA DE ASSEDIAR UM ALUNO.
Como se tivesse sido
atravessada por um raio o seu coração bateu mais aceleradamente, e um
sobressalto a percorreu. Não se conseguia libertar dos pensamentos confusos que
a percorriam, tanto mais que se considerava bem racional e com capacidade de
discernimento.
E o que sentia era
tudo menos racional, na aparência sem explicação, em alguns momentos já tinha
desistido de lutar contra esse sentimento que a levava ao desespero.
Lembrava-se bem da
primeira vez, que verdadeiramente nunca existiu, mas que para ela lhe pareceu
bem real.
Como acontecia
frequentemente, sempre que estava presente na hora das refeições, costumava dar
uma ronda pelas mesas, tentado perceber da aceitação do que tinha sido confeccionado
e servido.
Naquele dia os seus
olhos repousaram e cruzaram-se com os olhos de um aluno de uma forma intensa
que a obrigaram a afastar-se abruptamente. Um sentimento de culpa a percorreu
sem ela perceber bem a razão. Era uma patetice, afinal estava diante de
praticamente uma criança quando muito um adolescente, mas quanto mais pensava
nisso, mais obsessivamente a imagem do aluno a perseguia.
E a televisão a
continuar a passar em rodapé: PROPESSORA ACUSADA DE ASSEDIAR UM ALUNO.
Nesse dia saiu mais
tarde um pouco, conferiu com as funcionárias da cozinha os produtos existentes
no armazém e nas câmaras frigoríficas.
Chegou ao carro
ligou a rádio e a maldita notícia continuava: PROPESSORA ACUSADA DE ASSEDIAR UM
ALUNO.
Estava a chover era
Janeiro e àquela hora do dia, passava das 17.00, já se fazia noite. Mudou de
sintonia e ouviu uma música de a romântica. Fechou por um pouco os olhos.
Recostou-se no banco do carro e ficou um tempo embalada pela música que ia
ouvindo, parecendo-lhe que não tinha mais fim, a chuva continuava a cair
fazendo-a sentir sonolenta, não era capaz de dizer quanto tempo esteve assim.
Subitamente alguém
bateu no vidro da porta do carro. Sobressaltada virou-se para ver quem era,
espantou-se ao ficar olhos nos olhos com o aluno que lhe invadia os sentidos.
- Sente-se mal? –
Perguntou ele.
-Não – Respondeu a
medo- Adormeci com a música.
A chuva batia no pára-brisas
com alguma intensidade, o rapaz estava encharcado, hesitante perguntou-lhe.
- Estás à chuva, não
tens guarda-chuva?
- Não, e o autocarro
da escola já partiu, o problema é que moro bem longe.
Com uma firmeza que
ela própria não esperava disse-lhe:
-Vais ficar
encharcado, ainda ficas doente, entra para o carro, eu levo-te a casa afinal
não deve ser assim tão longe.
O rapaz hesitou mas
as alternativas eram poucas, tinha-se distraído na biblioteca, no PC na sua
ocupação preferida, a internet. Um furo pela falta de um professor, faltava
ainda muito tempo para novo transporte escolar, e sabia que os pais ficariam
preocupados se não chegasse à hora habitual por isso aproveitou.
Entrou, sentou-se,
apesar de novo era bem alto, o coração de Sofia começou a bater mais rápido,
sentiu-se ruborizar.
Com uma audácia que
a surpreendeu colocou a mão em cima da perna do rapaz, dizendo:
- Estás mesmo muito
molhado, diz-me onde moras, para eu te levar a casa. E já agora, como te
chamas?
- Sou o André, moro
junto ao rio, antes da ponte. Sou do 9º D, daqui a pouco faço 15 anos. Acrescentou
como quem diz uma ladainha.
A mão hesitava em
sair e foi deslizando pela perna cada vez mais audaciosamente, ele dava a
sensação de estar incomodado, não percebia o que estava a acontecer. A idade de
André martelou-lhe a cabeça, 15 anos!
Ela sentia o corpo
dele quente apesar da ganga das calças estar encharcada, sabia-lhe a um quente
ainda mais sensual. Inadvertidamente puxou o seu banco para trás, ficou com
mais espaço, virou-se para ele e abruptamente puxou-o para si e beijou-o intensamente.
O rapaz parecia perdido e atónito, sem saber como reagir, a língua de Sofia
procurava a boca do jovem, este parecendo vencer a surpresa ofereceu a sua boca
aceitando toda a paixão que Sofia transmitia.
A chuva continuava,
a noite tinha chegado e este momento parecia não ter fim.
Subitamente alguém
bateu no pára-brisas do carro, Sofia despertou da paixão de que estava tomada,
assustou-se e espantada viu-se só.
Lá fora, uma noite
clara de luar fazendo jus ao ditado popular, sobre o luar de Janeiro, estava o
jovem que se dirigiu para a porta do carro que com ar preocupado, ficando
espantado pelo que via foi dizendo:
-Perdi o transporte
escolar e tenho que ir a pé para casa, reparei que a senhora parece não estar
bem, como se lhe tinha dado alguma coisa, posso ajudar?
A saia subida na
coxa, a blusa desapertada, incapaz de compreender o que se passava, Sofia
sentiu que tinha enlouquecido, era um sonho antes ou agora? Sem saber o que
dizer, com as palavras presas na garganta, balbuciou:
- Senti-me um pouco
indisposta, mas já passou. – Maquinalmente ia compondo o vestuário.
Continuava
desorientada e aturdida com a situação, sabendo do absurdo e sem sentido das
suas palavras perguntou:
- Não choveu hoje?
Como te chamas?
O jovem não
compreendendo a razão das perguntas, olhou para ela perplexo, corando enquanto
a via compor a roupa, acabou por dizer:
- Não, hoje estive
sempre sol e frio, mas chuva não. Sou o André, vou fazer 15 anos.
O seu olhar não saía
dos seios de Sofia, envergonhado fingiu olhar para a lua, dando-lhe tempo para
ela se arranjar.
Sofia sem saber como
reagir, não sabendo se vivia agora o sonho ou se o tinha vivido antes, a
sensualidade ainda a percorria e a presença de André era para ela um misto de
tentação e vergonha, pudor e audácia. Era adulta tinha obrigação de ser mais
responsável, além de mais notou o constrangimento de André, sentindo-se
obrigada a dizer:
- Senti-me mal mas
já estou bem obrigada, pela tua atenção, se quiseres levo-te a casa até porque
já é tarde e não me custa nada.
Em silêncio
percorreram os cerca de dois quilómetros que separavam a escola da casa de
André em poucos minutos.
Este indicou a casa,
Sofia parou e despediu-se com um beijo provocador e, propositadamente, bem
perto da boca dele.
Arrancou
vagarosamente verificando pelo retrovisor que o jovem ia olhando para o carro
enquanto se afastava.
À chegada a casa,
naquele dia o marido que já lá se encontrava, vendo que ela vinha só, perguntou:
- Não trouxeste o
João? Queres que o vá buscar?
A resposta dela foi
repentina e sôfrega, mais em gestos que em palavras, beijou-o ardentemente,
começou a despir-lhe a camisa e arrastou-o até ao quarto.
Enquanto revivia
esses acontecimentos sentia que a figura de André permanecia cada vez mais
dentro de si, no entanto tinha sido incapaz de se lhe dirigir, sentindo porém
que ele a observava essa sensação lembrava-lhe, que os seus sentimentos eram
sentimentos proibidos, porque era casada e porque se tratava de um menor.
E pensava, pensava
no estratagema que tinha usado, numa última tentativa de um contacto com André,
sentia o pulsar do coração, o telemóvel dizia-lhe que tinha resultado, uma
curta mensagem: Gostava de falar consigo, André.
Dirigiu-se para o
seu gabinete. E ao passar pelo quadro onde constavam as ementas semanais, olhou
para uma folha A4 que mandara colocar com o seguinte aviso. “TODOS OS ALUNOS
QUE TENHAM ALGUM REPARO A FAZER NAS EMENTAS DESTA CANTINA, CONTACTEM A
RESPONSÁVEL PELO TELEMÓVEL… “ E o número do seu telemóvel pessoal.
Chamou a funcionária
para lhe transmitir indicações, sentiu na voz toda a ansiedade do momento, pela
sua cabeça passavam desejos incontidos, reparou no rosto espantado da
funcionária enquanto lhe dizia.
- Um aluno
contactou-me por isso enquanto o estiver a atender, não estou para ninguém.
Vestia a mesma blusa
propositadamente, sentou-se, desapertou dois botões, cruzou as pernas subiu
ligeiramente a saia e esperou.
De mão dada com uma
colega de turma, André entrou na sala. E o mundo desabou sobre Sofia.
Maravilhoso. ........
ResponderEliminarObrigado por tão simpático comentário, desejo que continue a visitar esta página, é bom sentirmos que somos lidos e apreciados. Obrigado. Bj
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