CASAMENTO PERFEITO
Aquele era um
casamento muito singular, para quem conhecia os noivos diria que seria quase
impossível aquela combinação. No entanto ali estavam eles, a noiva com um
vestido verde, que logo na primeira aparição tinha causado um forte impacto
entre os convidados e mesmo no padre que celebrou a cerimónia, pelo inusitado
da cor, enquanto o noivo vestia um clássico fato.
Mas era bem
visível a genuína felicidade que transmitiam, todos os amigos e convidados
ignoravam, por entre tanta diferença qual o íman que tinha motivado aquela
decisão aparentemente tão apressada, em menos de dois meses, conheceram-se e
decidiram casar.
Octávio, para
quem o observava, era uma pessoa muito formal, notava-se não só na forma de
vestir mas também no relacionamento com quem o rodeava. Exercia as suas funções
como Gestor numa empresa de Segurança e Transporte de Valores, com
profissionalismo e competência. A Administração tinha plena confiança em
Octávio.
Havia apenas
um pequeno problema, o seu vício que lhe limitava o contacto directo com os
clientes.
Nos
corredores da Empresa toda a gente falava em surdida, comentando como era
possível que uma pessoa com tão bom caracter e de comportamento exemplar, se
deixasse dominar tão fortemente.
O que é
certo, é que o problema começou relativamente cedo, filho único de uma família
de classe média, os pais notaram a sua obsessão bem cedo.
As consultas
de psicologia e mesmo de psiquiatria, grupos de auto- ajuda não tiveram os
resultados esperados.
Nos momentos
de privação, o seu estado atingia pontos de verdadeiro drama, acontecendo em
qualquer lugar ou situação.
Em casa
fechava-se no quarto e os pais já derrotados, esperavam que a crise passasse,
tinham já esgotado todos os meios e perdido a esperança de mudança.
No emprego,
um dos Administradores testemunhou a intensidade de um momento de crise, com
espanto e perplexidade.
Octávio
levantou-se, tirou o casaco alivou o nó da gravata deitou as mãos ao peito,
súbitos suores lhe correram pelo rosto, imenso vermelhão lhe cobriu o corpo
todo, todo ele arfava, ouvia-se o bater do coração, já nada contava, via-se que
precisava urgentemente, de satisfazer essa necessidade que o atormentava, o
Administrador olhava-o pasmado, nunca a tal tinha assistido, tentou acalma-lo,
mas Octávio como um relâmpago e sem palavras correu para os lavabos
trancando-se dentro, quando regressou desgrenhado e a tentar compor-se parecia
mais calmo, envergonhado pediu timidamente desculpa.
Inicialmente
a Empresa colocou a hipótese de despedimento, por incompatibilidade entre o
comportamento e as funções. Mas avaliando as qualidades profissionais de
Octávio, apesar desse problema, foi encontrada a solução em que não teria nunca
contacto com os clientes, mas continuaria a exercer as funções numa sala onde
estaria só e com acesso directo a uma casa de banho.
Octávio
continuava a viver na casa dos pais, com 35 anos não se lhe conheciam grandes
amizades e as suas saídas ao fim de semana era para fingir perante os pais que
tinha amigos, normalmente jantava fora e ia à última sessão de cinema.
Jantava quase
sempre no mesmo restaurante, pela calma que o movimento moderado lhe garantia,
escolhia uma mesa discreta que lhe permitia observar todo o estabelecimento e
acessibilidade fácil aos lavabos.
Num sábado e
contra o habitual o Restaurante estava com movimento inusitado, a mesa que
sozinho ocupava era pequena e permitia apenas dois clientes, nunca seria
incomodado pelo grupo de pessoas que se encontrava à espera. Por isso sem
grande preocupação esperava que o empregado confirmasse o habitual prego no
prato.
Inopinadamente
ELA entrou com uma exuberância incomum, deitou um olhar à sala, cumprimentou
efusivamente um empregado, dirigiu-se resolutamente para a mesa onde estava
Octávio e ao mesmo tempo quer se sentava ia dizendo.
- Dá licença
que me sente ao seu lado?
Octávio entre
espantado e deslumbrado, sem tempo nem condições para recusar, acenou que sim.
Enquanto ela ia dizendo.
- Venho aqui
muitas vezes, gosto deste sitio.
- Venho cá todos os sábados e nunca a vi. – Ia
ele pensando mas sem abrir a boca.
- Mas aos
sábados nunca cá venho, hoje não tinha compromisso.
- Sendo assim
… - Pensou
Iniciou-se um
tempo de silêncio, em que discretamente se iam observando, melhor ele
discretamente ela sem qualquer constrangimento.
Octávio reparou
que ela tinha as unhas da mão um pouco maltratadas e fixou-as demoradamente,
tempo de mais, ela notou esse interesse.
- Sabe, não
consigo resistir, mordo as unhas compulsivamente.
E sem se
deter nas palavras continuou.
- Já que
vamos jantar juntos, e hoje esta demorado, eu sou a Liliana e você como se
chama?
- Octávio -
respondeu timidamente e ainda sem conseguir disfarçar o deslumbre.
Felizmente
antes de sair tinha-se fechado no quarto e dado asas às suas necessidades,
tinha a certeza de que não teria, pelo menos tão cedo, nenhum ataque de
ansiedade que o levasse a sair.
Por outro
lado Liliana era bem desinibida o que impediu tempos de silêncio
confrangedores.
- Que vai
jantar? – Perguntou acrescentado - O arroz de Pato cá é delicioso.
- Acho que
vou escolher isso- Respondeu Octávio não sabendo ainda como reagir, mas tendo o
cuidado de fazer sinal ao empregado, enquanto dava uma falsa olhadela ao Menu.
O jantar
correu bem, a conversa atingiu fluidez, Octávio contagiado por Liliana
desinibiu-se, soube que Liliana era Relações Públicas numa Empresa de
Transportes Aéreos, acabaram por ir juntos ao cinema, no local bem perto do
Restaurante por isso foram a pé, aproveitando para conversar e se conhecerem,
Liliana riu-se quando Octávio disse que ainda vivia com os pais, e riu-se mais
ainda quando ele disse que como já era um pouco tarde, tinha que lhes
telefonar, a dizer que ia mais tarde que o costume. Ela vivia só, num T1 bem
perto do Centro da cidade, e bem próximo do local onde se encontravam. No fim
do filme a noite estava agradável, convidava a um passeio pela larga avenida, a
companhia parecia agradar aos dois, naturalmente continuaram juntos em conversa
com registo mais suave e intimista.
- Queres
tomar um café? - Sugeriu Liliana
-Pode ser-
Respondeu Octávio.- Mas a esta hora não vai ser fácil de encontrar café aberto.
- Claro que
vai fácil, moro a menos de cinco minutos, tomamos em minha casa.
As coisas
levavam um caminho a que Octávio já não estava habituado, o seu problema
acabaria por ser visível começou a ficar tenso, desejava prosseguir mas tinha
de facto muito receio. No entanto resolveu arriscar, não seria a primeira
situação desoladora na sua vida, até estava habituado de mais.
O apartamento
em que Liliana vivia localizava-se num terceiro andar numa zona bem aprazível
embora de construção não era recente, disponha de elevador.
No elevador
Octávio ficou ainda mais tenso, Liliana reparou mas ignorou.
No hall de
entrada havia um bengaleiro, Liliana sugeriu-lhe para colocar lá o casaco,
aproveitou tirou a gravata, sentiu-se momentaneamente mais desafogado. O
apartamento tinha um ar condizente com Liliana, expansivo e a convidar à
descontração, na sala relativamente pequena, um móvel com algumas prateleiras com
CDs, livros e um pequeno bar, havia outro com aparelhagem de música e uma TV.
Finalmente um único sofá para duas pessoas um puf e uma pequena mesa de apoio.
- Vou
preparar o café, serve-te do uísque, trago já gelo.
Octávio ficou
só a pensar naquela improvável situação, ignorava o que ia acontecer mas sabia
que não ia aguentar mais tempo a ansiedade que o tomava. Dois desejos o
percorriam, aquele que tornava a sua vida num inferno, mas lhe apaziguava o
espirito, e o de viver com Liliana uma noite de amor.
Liliana
chegou, com o café e o gelo. Tinha trocado de roupa, trazia vestido uma leve
túnica, ela estava mais sensual.
Liliana puxou
o puf, para junto do sofá, sentou-se ao lado dele, sacudiu o calçado dos pés,
colocou os pés no puf, a túnica subiu-lhe ligeiramente nas pernas, sem que ela
fizesse nada para o evitar, confortável com a situação. A visão daqueles pés
toldou o raciocínio de Octávio, um pés lindo e umas unhas que o fascinavam, não
resistiu, levantou-se bruscamente ajoelhou ao pés de Liliana e começou a
beija-los, sôfrega e ardentemente. Esqueceu-se de tudo, dos seus medos e da
possibilidade de mais uma vez tudo terminar mal. Um som difuso chegou aos seus
ouvidos parecia-lhe uma queixa, um gemido, por um segundo hesitou, mas aos
ouvidos um sussurro chegava:
- Não pares,
continua não pares…
Continuou os
seus dentes acariciavam as unhas com paixão, cedo descobriu que debaixo da
túnica apenas um corpo nu. ……….
Acordou junto
a ela, ambos ainda nus, já era bem tarde pela persiana os raios de sol irradiavam. Os lenções mais os descobriam que
tapavam, percorreu com o olhar todo o seu corpo, nos pés algumas unhas
totalmente ruidas ao limite, sentiu medo como reagiria ela? Lentamente ela
despertou, olhou nos olhos, com uma imensa paixão e sem que ele espera-se.
- Queres
casar comigo?
Delirou, soube que ela era a mulher que sempre
desejava, tinha a certeza que ela o aceitava tal e qual era, que naquele
momento o poder que a atração das unhas exerciam sobre ele, não seriam um
impedimento a uma relação, não teria mais que praticar uma espécie de onanismo,
mordendo as unhas dos seus próprios pés, por isso gritou
-SIM .
Sentido os
dentes dela a morder-lhe as unhas das mãos, sorriu, sabia que a ONICOFAGIA
seria vivida a dois..