FANTASIA À CHUVA
Ela repetia vezes sem
conta que que o que mais aliviava a tensão e o stress, num dia de chuva
intensa, era passear livremente e sentir a água a escorrer-lhe pelo corpo.
Quando, e se um dia se
cassasse, seria num dia assim, mais ainda, nesse dia haveria de correr pelas
ruas vestida de noiva, até sentir o corpo totalmente encharcado.
Pelo contrário, para
ele o máximo do prazer que um dia de chuva lhe proporcionava, era sentir a
chuva a bater nos vidros, e confortavelmente na cama, ouvir o seu tlic-tlic-tlac.
Melhor ainda, quando
na companhia de alguém, embalados por esse concerto da natureza, suavemente os
corpos fossem conduzidos a uma entrega ao amor. Nada era melhor do que isso,
soltou num leve suspiro
Ela insistiu com
veemência, nas suas palavras notava-se um calor de tal modo intenso, que se
tornava impossível de contrariar.
O encontro tinha sido
muito casual, num pequeno bar de rápidas e ligeiras refeições.
Com poucos lugares
vagos, ao entrar, os olhos dela repararam naquela mesa num canto bem discreto,
onde ele se encontrava só. Com grande à vontade pediu licença sentou-se, sem
esperar qualquer resposta, lá fora chovia, ainda mal refeito da surpresa, aos
seus ouvidos chegaram as primeiras palavras.
- Que belo dia, não há
nada melhor que um dia de chuva.
Ele não disse palavra,
mas no seu olhar lia-se uma total discordância.
Examinou-a com cuidado
e tentando ser discreto. O seu olhar vivo transpirava alegria, na boca um
sorriso que parecia eterno, um decote com alguma generosidade mostrava uns
seios que lhe prenderam o olhar, denunciando-o, fazendo que ela ostensivamente
desaperta-se mais um botão da blusa.
Ficou sem saber o que
fazer, baixando os olhos em direcção á mesa.
O sorriso que ela
mostrava e a sua exuberância, desfez o embaraço e gradualmente iniciaram uma
conversa que se prolongou até ao fim da refeição.
Ao fim de algum tempo passaram a encontrar-se
com regularidade, iniciando uma relação, que apesar da singularidade de cada
um, se transformou numa paixão intensa.
Por decisão dela, casariam
num dia de chuva o mais forte possível, ela obrigou-o a prometer que fariam uma
caminhada pela cidade, para finalmente se meterem na cama, para ouvir a chuva a
bater nas vidraças, tlic-tlic-tlac como preliminar de uma noite, que ela lhe
jurou inesquecível.
E assim aconteceu,
combinaram marcar o casamento com a antecedência máxima de quinze dias para
terem a certeza que a chuva estaria presente. Os convidados e familiares teriam
que se adaptar à situação, de facto bem pouco comum.
Cuidadosamente iam
consultando as previsões meteorológicas. Quando tudo indicava que o tempo se
manteria chuvoso, trataram de tudo de rompante.
Perante o espanto dos
amigos e de convidados, a noiva mostrava uma obsessão em relação ao tempo
absolutamente despropositado, queria que chovesse, e muito.
O noivo mais
cauteloso, apesar da promessa, implorava interiormente que o tempo tivesse uma
súbita mudança. Era um craque de informática, entre os amigos, conhecido por
nerd. Adorava o conforto do ar condicionado, a proposta da noiva aterrorizava-o,
no entanto o poder da sedução levou-o de vencida.
A chuva além de não
abrandar, aumentou de intensidade.
Combinaram que
passariam a noite de núpcias, num hotel junto ao mar.
Saíram da festa
estrondosamente, por iniciativa da noiva. Entre o espaço em que decorria a boda
e o carro em que seguiriam, recusou qualquer proteção para a chuva, entrando
neste completamente em desalinho.
Chegaram ao hotel em
pouco mais de uma hora, ele tinha conseguido até ao momento passar
relativamente incólume à chuva.
Entraram no hall do
hotel, resolutamente ela dirigiu-se ao funcionário e perante o espanto deste
disse:
- Temos quarto marcado,
vamos dar uma volta, deixamos aqui as malas. Depois tratamos de tudo.
Puxou o noivo pelo
braço e arrastou-o para a rua..
Andaram a vaguear pela
rua à chuva, perante o espanto das poucas pessoas que por eles passavam,
olhados de loucos por uns, embriagados por outros.
Ao fim de algum tempo
ele implorou-lhe que voltassem ao hotel, tremia de frio, pouco ou nada
habituado a tais comportamentos sentia-se como peixe fora de água, ela cedeu e
voltaram ao hotel.
Chegaram ao quarto ela
em êxtase, ele a tremer de frio e com uma tosse horrível, pediu um chá quente,
roupa quente e um antigripal, aquilo era demais para ele.
Rápido adormeceu.
Ainda encharcada, cabelo
desgrenhado maquilhagem desfeita, que aliás era mínima, olhava embebecida para
o sono sereno do noivo, no entanto os sentidos continuavam presos à rua,
enquanto ouvia o tlic tlic tlac da chuva, tudo nela entrou em convulsão, não
resistiu e voltou à chuva, libertou totalmente o espírito e enquanto dançava,
perante o espanto de quem passava, totalmente encharcada, sentiu-se envolvida
por um orgasmo interminável.
No quarto o noivo
dormia serenamente em paz..
Herminio