sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Hipnose



Ao Doutor Carvalho Ferreira, médico psiquiatra foi colocado, por um colega da mesma especialidade, um caso verdadeiramente estranho. Uma mulher ainda relativamente nova, menos de trinta anos, apresentava uma situação complexa e que ele não sabia como classificar. Ao início o colega atribuiu o caso à emoção e ao stress causado pelo proximidade do casamento. Mas ao fim de algumas consultas chegou à conclusão que não conseguia controlar a situação, por isso recorreu ao seu apoio. Entre os colegas de especialidade era conhecido por recorrer à hipnose como ajuda terapêutica. Considerando a situação e porque lhe pareceu um desafio estimulante aceitou.
A questão em resumo: No dia em que era suposto ir à quinta onde se realizaria a boda do casamento, a pessoa em causa apresentou-se transtornada com um discurso sem nexo, como se a sua vida tivesse mais vinte anos, ela falava como vinda do futuro. Se em psiquiatria normalmente são os fantasmas do passado, que atormentavam a vida das pessoas, este caso era mesmo singular, o futuro tornado actual.
No entanto a pessoa mantinha a lucidez e a capacidade de raciocínio intactas, a incoerência aparecia quando questionada sobre a sua vida, as respostas não faziam sentido, para ela isso também era tormento e o seu esforço para perceber o que se passava, levou-a a aceitar o recurso que ele propôs. Hoje seria o dia em que recorreria à hipnose, toda a sessão seria gravada, o Dr. Carvalho Ferreira deixou bem claro que não era seguro que resultasse. Pediu-lhe para ela se sentar numa confortável poltrona, sentando-se ele numa cadeira, bem de frente para ela e olhos nos olhos. Começou por dizer:
- O que vamos fazer só resulta se colaborar, não precisa de acreditar, mas não pode oferecer resistência, tem que se deixar descontrair, libertar-se do tudo o que a preocupa e responder com verdade, acima de tudo deixar o corpo e o espirito relaxar. Compreende o que lhe peço?
- Sim Sr. Doutor compreendo, mas não entendo o que se passa comigo..
- Feche os olhos imagine uma tela à sua frente, veja nela as coisas agradáveis mais antigas que se lembre. Mas relaxe o máximo que puder. Alivie a tensão deixe cair os braços, mantenha os olhos fechados e vá para o seu passado.
Gradualmente Cristina aliviou a tensão, os braços foram pendendo ao longo do corpo, uma expressão serena e despreocupada encheu-lhe o rosto, o ritmo da respiração ficou suave e mais profundo, o médico murmurou.
- Que vê e onde se encontra neste momento? – Os olhos do Dr. Carvalho Ferreira fixos em Cristina
- Um parque infantil com baloiço e escorrega, estou contente e divertida com meninos e meninas da minha idade.- Cristina respondeu com voz arrastada
-Avance mais no tempo, onde está? – Ordena mansamente o psiquiatra
- Na escola com a minha colega de carteira, sou ainda amiga.- Responde Cristina no mesmo tom
- Procure avançar mais, recorde algum episódio que a fez feliz. – Incentivou o médico
- De férias do secundário, num enorme areal junto à foz de um rio, com o meu namorado, o Marco.- O seu rosto mostrou um sorriso.
- Recorde os acontecimentos que se seguiram. – O tom do Dr. Carvalho Ferreira continuava calmo.
- Estou na mesma praia com o meu namorado, estamos num barco a remos a navegar suavemente pelas águas do rio. O Marco para o barco, levanta-se e diz-me: Queres casar comigo? Sim Sim levanto-me o barco vira caímos ao rio. – Cristina parou subitamente o seu rosto ficou fechado e todo o corpo crispado.
- Cristina, Cristina, diga o que vê?- Pergunta o médico com alguma ansiedade
- Escuridão apenas escuridão.. – Balbucia com uma voz onde se sente dor.
- Continue suavemente relaxe e diga-me como se chama, que idade tem e qual o seu estado?
- Chamo-me Cristina, tenho 49 anos sou casada e tenho um filho com 18 anos. – Respondeu sem hesitação e com alguma irritação.
Assombrado pela desfecho que a situação começava a apresentar, o Dr. Carvalho Ferreira resolveu dar por concluída a sessão desse dia. Suavemente tocou com as pontas dos dedos da mão direita na testa de Cristina e disse.
- Sossegue, desperte, amanhã continuamos.. – Cristina mostrou sinais de sair do torpor em que estava olhou-o fixamente nos olhos e gritou.
- Quem é o senhor? Que faço aqui? Onde está Marco o meu noivo?

                                                                                                                         Hermínio

4 comentários:

  1. As vezes se vive no sonho..no tempo e no espaco...a vida como ela nao e! Se faz necesario romper com o "agora" na mente pra seguir vivendo...e sonhar com o velho e tao novo amor que jamais adormeceu....se mantem nas caladas do pensamento e no vibrar de um corpo de mulher em suas lembrancas...nem e velha! nem nova! E mulher! Recatada e preserva a aurea regra de um lar! Mesmo que a hipnose lhe traia..ela nao traira jamais! SO REFLETINDO...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As tua palavras, querida amiga são um incentivo para mim. O tempo que vivemos é muitas vezes cortado pelos nossos sonhos e pensamentos. Obrigado pela visita ao blogue, espero que voltes.

      Eliminar
  2. Creio que o doutor Carvalho Ferreira talvez seja meu parente.

    ResponderEliminar

Main Menu

Submenu Section