Ao Doutor Carvalho Ferreira, médico psiquiatra foi colocado, por um colega da mesma especialidade, um caso verdadeiramente estranho. Uma mulher ainda relativamente nova, menos de trinta anos, apresentava uma situação complexa e que ele não sabia como classificar. Ao início o colega atribuiu o caso à emoção e ao stress causado pelo proximidade do casamento. Mas ao fim de algumas consultas chegou à conclusão que não conseguia controlar a situação, por isso recorreu ao seu apoio. Entre os colegas de especialidade era conhecido por recorrer à hipnose como ajuda terapêutica. Considerando a situação e porque lhe pareceu um desafio estimulante aceitou.
A questão em resumo: No dia em que era suposto ir à quinta onde se realizaria a boda do casamento, a pessoa em causa apresentou-se transtornada com um discurso sem nexo, como se a sua vida tivesse mais vinte anos, ela falava como vinda do futuro. Se em psiquiatria normalmente são os fantasmas do passado, que atormentavam a vida das pessoas, este caso era mesmo singular, o futuro tornado actual.
No entanto a pessoa mantinha a lucidez e a capacidade de raciocínio intactas, a incoerência aparecia quando questionada sobre a sua vida, as respostas não faziam sentido, para ela isso também era tormento e o seu esforço para perceber o que se passava, levou-a a aceitar o recurso que ele propôs. Hoje seria o dia em que recorreria à hipnose, toda a sessão seria gravada, o Dr. Carvalho Ferreira deixou bem claro que não era seguro que resultasse. Pediu-lhe para ela se sentar numa confortável poltrona, sentando-se ele numa cadeira, bem de frente para ela e olhos nos olhos. Começou por dizer:
- O que vamos fazer só resulta se colaborar, não precisa de acreditar, mas não pode oferecer resistência, tem que se deixar descontrair, libertar-se do tudo o que a preocupa e responder com verdade, acima de tudo deixar o corpo e o espirito relaxar. Compreende o que lhe peço?
- Sim Sr. Doutor compreendo, mas não entendo o que se passa comigo..
- Feche os olhos imagine uma tela à sua frente, veja nela as coisas agradáveis mais antigas que se lembre. Mas relaxe o máximo que puder. Alivie a tensão deixe cair os braços, mantenha os olhos fechados e vá para o seu passado.
Gradualmente Cristina aliviou a tensão, os braços foram pendendo ao longo do corpo, uma expressão serena e despreocupada encheu-lhe o rosto, o ritmo da respiração ficou suave e mais profundo, o médico murmurou.
- Que vê e onde se encontra neste momento? – Os olhos do Dr. Carvalho Ferreira fixos em Cristina
- Um parque infantil com baloiço e escorrega, estou contente e divertida com meninos e meninas da minha idade.- Cristina respondeu com voz arrastada
-Avance mais no tempo, onde está? – Ordena mansamente o psiquiatra
- Na escola com a minha colega de carteira, sou ainda amiga.- Responde Cristina no mesmo tom
- Procure avançar mais, recorde algum episódio que a fez feliz. – Incentivou o médico
- De férias do secundário, num enorme areal junto à foz de um rio, com o meu namorado, o Marco.- O seu rosto mostrou um sorriso.
- Recorde os acontecimentos que se seguiram. – O tom do Dr. Carvalho Ferreira continuava calmo.
- Estou na mesma praia com o meu namorado, estamos num barco a remos a navegar suavemente pelas águas do rio. O Marco para o barco, levanta-se e diz-me: Queres casar comigo? Sim Sim levanto-me o barco vira caímos ao rio. – Cristina parou subitamente o seu rosto ficou fechado e todo o corpo crispado.
- Cristina, Cristina, diga o que vê?- Pergunta o médico com alguma ansiedade
- Escuridão apenas escuridão.. – Balbucia com uma voz onde se sente dor.
- Continue suavemente relaxe e diga-me como se chama, que idade tem e qual o seu estado?
- Chamo-me Cristina, tenho 49 anos sou casada e tenho um filho com 18 anos. – Respondeu sem hesitação e com alguma irritação.
Assombrado pela desfecho que a situação começava a apresentar, o Dr. Carvalho Ferreira resolveu dar por concluída a sessão desse dia. Suavemente tocou com as pontas dos dedos da mão direita na testa de Cristina e disse.
- Sossegue, desperte, amanhã continuamos.. – Cristina mostrou sinais de sair do torpor em que estava olhou-o fixamente nos olhos e gritou.
- Quem é o senhor? Que faço aqui? Onde está Marco o meu noivo?
As vezes se vive no sonho..no tempo e no espaco...a vida como ela nao e! Se faz necesario romper com o "agora" na mente pra seguir vivendo...e sonhar com o velho e tao novo amor que jamais adormeceu....se mantem nas caladas do pensamento e no vibrar de um corpo de mulher em suas lembrancas...nem e velha! nem nova! E mulher! Recatada e preserva a aurea regra de um lar! Mesmo que a hipnose lhe traia..ela nao traira jamais! SO REFLETINDO...
ResponderEliminarAs tua palavras, querida amiga são um incentivo para mim. O tempo que vivemos é muitas vezes cortado pelos nossos sonhos e pensamentos. Obrigado pela visita ao blogue, espero que voltes.
EliminarCreio que o doutor Carvalho Ferreira talvez seja meu parente.
ResponderEliminarQuem sabe?? Mas a inspiração bem de quem nos é próximo.
Eliminar