Neste tempo, em que não vos tenho dado a atenção devida, sentindo-me para todos
os que me dão o seu tempo e a sua amizade em dívida lembrei-me de dois
provérbios que definem a amizade de ângulos diferentes e complementares:
Séneca diz num provérbio que: “Ter um amigo é ter alguém por quem morrer”
Há porém um provérbio inglês que diz: “Viver sem amigos é morrer sem
testemunhas”
A força que emana do primeiro provérbio (“Ter um amigo é ter alguém por quem
morrer” ) é de uma amizade desprendida e inusual, mas diz-nos quanto este
sentimento esta presente no espírito da humanidade e nas relações entre as
pessoas, desde que o homem se tornou capaz de elaborar em palavras os seus
sentimentos. A contradição principal é que sendo este um dos sentimentos mais
nobres e mais necessários à nossa vida pessoal, quando confrontados com a
pergunta: O que é a amizade? Sentimos alguma dificuldade em a definir, não
porque nos faltem explicações exactas e verdadeiras, mas pela sua vastidão e
pelas nossas próprias atitudes perante a amizade, ficamos incapazes de
exprimirmos verbalmente em poucas palavras a relação e o sentimento implícito
nesta palavra. A amizade tem a singularidade de ter uma ética não escrita, sem
tutelas nem pactos sociais, e utiliza uma desconcertante simplicidade de meios,
o que faz com que a característica mais importante da amizade, se defina pela
sua presença.
Mas a presença pode ter diversas graduações, e quando a amizade se vai
construindo em novos meios, como a NET que utilizamos neste momento, essas
graduações terão ainda muitos cambiantes, uma partilha global de algum pessoal,
ou não sendo pessoal, nos toca e emociona, uma troca de mensagens mais
confidente e particular, um dos muitos pequenos gestos de que estamos atentos e
que as mensagens que nos chegam não nos deixam indiferentes, a probabilidade de
um encontro dos muitos que este meio proporciona, a possibilidade de uma ou de
incontáveis atenções, não tendo muito significado a quantidade mas a verdade
daquilo que damos e recebemos
Porém no provérbio inglês que diz: “Viver sem amigos é morrer sem
testemunhas” , remete-nos para o tempo presente em que não querendo ser
demasiado mórbido, mas ao ler um destes dias nos jornais, um título que dizia:“
HÁ cada vez mais corpos não reclamados”
Isto foi sentido por mim como um soco, e senti vergonha por fazer parte de uma
sociedade que segrega e despreza ignobilmente parte dos seus. Que levou estas
pessoas a cortarem laços e a perderem assim os seus amigos, ficando sem testemunhas
do seu final de vida? Que levou a sociedade a ignora-los?
Talvez por isso seja importante esta rede de amigos em que participamos, e
quando algum por motivos diversos nos deixa, não nos deixa sem testemunhas,
sentimos que perdemos um pouco da nossa riqueza colectiva, e partilhamos muitas
vezes testemunhos desse sentimento.
Os amigos que vou fazendo neste meio e com os quais vou partilhando, um pouco
de mim e um pouco do que sou, e de quem também recebo partilhas que me vão
enriquecendo, fazem-me sentir, talvez com alguma benevolência, que a minha
ausência, mais frequente do eu desejaria, não lhes é indiferente.
O importante para mim é que a partir de dada altura, esta relação se tornou uma
história que me acompanha e por onde uma parte da minha vida vai
passando.
Tendo tão poucas barreiras, permitindo um tão alargado leque de alternativas,
este meio que nos aproximou e vai permitindo a construção de verdadeiras
amizades, pode contribuir para acabar com este cinzentísmo em que estamos
mergulhados e pela AMIZADE REINVENTAR A ALEGRIA.