quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Percepção


Abriu a janela e o cheiro a terra lavrada infiltrou-se pelas narinas invadindo o compartimento onde estava, o espaço onde normalmente estudava, pomposamente denominado escritório. Quase não havia vento, apenas uma ligeira brisa, o ar fresco da manhã chegava directamente e envolvia o seu corpo acabado de sair do banho. À sensação bem agradável a ar fresco juntava-se o cheiro a promessa de vida.  Olhou distraidamente pela janela, a calma que rodeia a casa onde vive é uma rotina constante, apenas intervalada pela passagem de um ou outro veículo. Manteve o olhar distraidamente no espaço que a janela permitia alcançar, como quem procura mais do que os sentidos vêem e sentem.  A Primavera estava praticamente no início exuberante de cor e luz. Continuou a olhar, preso a nada tentando ver para além do que o envolvia.  Continuava junto à janela de costas para o compartimento fixado no espaço circundante. Não era dado a grandes preocupações filosóficas espirituais, vivia como todos os jovens da sua idade, com uma aparente liberdade mas com grande pressão dos pais e de todos os que o rodeavam, com dezoito anos as perguntas que lhe faziam eram invariavelmente: - Que notas tens? Que curso vais escolher? Achas que vale a pena?  A que se acrescentavam as recomendações: - Estuda. Tem juízo. Vê lá com quem andas.  Enquanto se mantinha imóvel, indeciso, pensando no que fazer, uma estranha sensação se apoderou dele, como se alguma coisa ou alguém estivesse presente, uma sensação de proximidade percorreu-lhe o corpo, sentiu que uma mão lhe tocava levemente no ombro e esse toque prolongou-se indefinidamente por ele todo, impelido por essa sensação voltou-se lentamente a medo, olhando para o interior do compartimento, apenas paredes, portas, móveis e livros na secretária o computador ainda desligado, estranhamente o telemóvel inerte, tinha-se esquecido de o colocar a carregar, coisa estranha nele, o telemóvel era praticamente um prolongamento do corpo, não o ter disponível fazia-o sentir mutilado, mas nesse momento não, a sensação sentida era demasiado forte e o que observava eram objectos sem vida, no resto apenas o vazio, simplesmente o vazio. No momento em que os seus olhos tinham acabado de percorrer todo o escritório, notou que suavemente a porta de entrada se abriu.  Aturdido teve a Percepção de que não estava sozinho.  


6 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado, pelas palavras, esperamos que continue a estar atenta ao que por cá vamos publicando.

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  2. Muito interessante o seu texto,amigo!Parabéns

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  3. É bom não nos sentirmos sozinhos, e ao ler este blog sinto-me mais acompanhada.

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  4. É bom não nos sentirmos sozinhos, e ao ler este blog sinto-me mais acompanhada.

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