quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Primeiro de Janeiro


É dia um de Janeiro, o Sol aparece a prever um ano de novas esperanças e conquistas, a família mantém-se junta na sala sempre perto da lareira, que é depois dos nossos corações a maior fonte de calor da casa, os cães estendem-se pelo tapete ou junto aos nossos pés e os raios de luz que vêm da janela aquecem as costas do meu pai. 
A avó pede-me para sairmos à rua e, embora com pouca vontade de acção, acompanho-a ao encontro do astro-rei. Descemos as escadas e logo sentimos a avenida como nossa, dirigimo-nos para a igreja onde o Sol bate com maior intensidade e as árvores junto dos bancos do jardim nos parecem mais belas. Caminhamos lado a lado, vou com a mão debaixo do seu braço, não sei se a ampara-la ou simplesmente a aquecer-me, falamos de muita coisa e de coisa nenhuma, enquanto evitamos os carros ao passar de uma margem para outra. A avó gosta de pensar que as estradas são suas só porque anda com bengala e espera, por isso, que os condutores sejam gentis, deste modo fugimos de todas as passadeiras e seguimos em frente pelo meio da estrada, onde passamos intocáveis em todas as ocasiões. Continuamos, umas vezes a caminhar outras sentando-nos em frente aos portões da igreja, devido ao estado fragilizado das pernas da avó. Damos a volta ao adro e conversamos sobre uns roubos que ali se passaram há muito tempo, ela vai interrompendo de quando em vez para suplicar a Deus que lhe devolva a vivacidade que lhe permitia vir a todas as Eucaristias e rumamos para casa logo a seguir. 
Sempre devagar e reparando no jardim que ladeia o nosso edifício levo as mãos quentes do calor do bolso e do calor do braço da avó, encaixamos as chaves nas portas e entramos silenciosamente para o lar onde a avó fica uns instantes encostada à parede à espera que a variação de luz lhe permita ver novamente. E aqui me apercebo que tal como os cães que levamos diariamente a sentir o ar no focinho, também a avó me faz sair. De verdade, ainda que eu a auxilie é ela que me guia e me faz sentir que a vida se passa onde não estou e onde a realidade se sente e se acha aprazível. 
E assim, ao introduzir-me de novo no local onde vivo, trouxe um pouco de Sol numa das algibeiras que não usei e acendi a minha alma pequenina, de modo que mesmo longe da lareira o meu corpo repousa e não sente frio.

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